Quase 20% dos brasileiros já desistiram de terapia por falta de dinheiro

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A psicoterapia é uma das principais formas de prevenção e tratamento de diversas condições de saúde mental, como depressão e ansiedade, principalmente diante de um cenário de constante preocupação com o bem-estar emocional. No entanto, 19,7% dos brasileiros afirmam já terem desistido da terapia por falta de recursos financeiros.

O dado é de levantamento recente feito com 3.400 pessoas de todas as regiões do Brasil pela Doctoralia, plataforma de saúde que conecta pacientes a médicos, obtido com exclusividade pela CNN. Além da falta de recursos financeiros, outros motivos de desistência incluem a dificuldade em escolher um profissional (12,9%) e a vergonha ou estigma (7,6%).

“Existem caminhos possíveis para essas pessoas com problemas financeiros. O SUS [Sistema Único de Saúde] é um sistema que oferece atendimento gratuito tanto na área da psicologia quanto na psiquiatria, UBS e CAPS, por exemplo”, afirma o psiquiatra Ayman Yassine Salim à CNN.

“Universidades (que possuem cursos de psicologia e/ou medicina) costumam ter “clínica/escola” e dessa forma os alunos oferecem atendimentos de qualidade, supervisionados por professores com valores simbólicos ou até mesmo gratuitos. Também existem grupos de apoio (presenciais e online) como alcoólicos anônimos, narcóticos anônimos, grupos de família com acolhimento gratuito”, elenca.

Além disso, práticas de bem-estar como exercícios físicos, meditação, ioga, técnicas de respiração, sono adequado, redução/cessação do uso de substâncias (álcool, drogas, vícios) têm impacto direto com a saúde mental, segundo o especialista.

Para alguns, terapia ainda é tabu

A pesquisa mostra que 39,9% dos brasileiros já fazem ou fizeram terapia, mas 20,5% nunca cogitaram buscar ajuda profissional.

Em relação aos tabus, 54% dos participantes acreditam não haver barreiras significativas para buscar ajuda, mas ainda persiste a percepção de que “terapia é coisa para pessoas fracas ou loucas” para 12,9% dos respondentes.

“Infelizmente, devido ao histórico, pessoas com algum sofrimento psíquico foram nomeadas, erroneamente, de ‘loucas’, ‘fracas’ e até mesmo ‘fazem isso para chamar atenção’, com isso o medo do julgamento e a vergonha de demonstrar suas fragilidades ainda interferem na busca por saúde mental, pois a mudança cultural acontece de forma lenta, infelizmente”, observa Salim.

Na visão do especialista, apesar da visibilidade do tema nos últimos anos, a transformação do estigma enraizado exige educação, empatia, políticas públicas e o fortalecimento de espaços de acolhimento. “Tratarmos sobre saúde mental, exaltar histórias de superação e normalizar o cuidado com a saúde mental são essenciais para quebrar este estigma”, afirma.

Já entre os medos pessoais observados no estudo, os principais são não conseguir se abrir com o profissional (9,5%), reviver traumas dolorosos (7,6%) e o receio de que a terapia não funcione, gerando “perda de tempo” (6,1%). Por outro lado, a maioria, 62,8%, declarou não ter receios específicos em relação ao tratamento.

Para reverter esses receios, é preciso que o “vínculo terapêutico” seja criado. “Isso acontece com uma escuta empática e sem julgamentos. O processo terapêutico acontece no tempo do paciente, sem pressa e da forma mais confortável para ele. O profissional precisa respeitar os limites de cada cuidado”, reitera Salim.

Fonte: CNN Brasil / Foto: Lucas Ninno/GettyImages

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