Depois de ter sua história celebrada com a inauguração, em dezembro do ano passado, de um memorial em Salvador, Maria Odília Teixeira, a primeira médica negra do Brasil, terá sua trajetória contada no documentário “Quem é essa mulher?”, que será lançado nos próximos dias 15 e 16 de junho, durante a programação da Mostra Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Resultado da parceria entre a Maré Produções e a cineasta soteropolitana Mariana Jaspe, a obra retrata a vida de Maria Odília, baiana de origem humilde que foi também a primeira professora negra da Faculdade de Medicina da Bahia. O filme é um road movie filmado na Bahia, apresentando a jornada dessa figura histórica como elemento central da narrativa.
A história da médica é contada através dos olhos de Mayara Santos, mulher negra, oriunda da periferia de Salvador e mestra em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). No documentário, Mayara desvenda a vida de Maria Odília, nascida em São Félix do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, dez anos antes da abolição.
“Para mim, este é o encontro da minha vida. Me traz muita felicidade, mesmo após todos esses anos, pois continua sendo minha prioridade. Esta jornada me presenteou tantas pessoas, lugares e sensações, que considero um verdadeiro privilégio e acredito que o filme é a melhor linguagem para compartilhá-la. Podia pôr numa praça, num telão e lá vai ter uma criança de 10 anos e uma senhora de 87, sendo tocadas por essa história de alguma forma. Esse filme é um sonho”, conta a pesquisadora.
Filmado em cinco cidades baianas, o documentário traça um paralelo entre as trajetórias de duas mulheres separadas por um século: Maria Odília e Mayara, a primeira, filha de um homem branco, de família rica e tradicional, casado com uma mulher negra, filha de uma ex-escravizada; e a segunda, uma mulher contemporânea, que atualiza questões que Odília viveu, enfrentando também conflitos próprios do presente.
Um ponto alto do filme é a entrevista com o filho primogênito de Odília, que tinha 100 anos quando foi entrevistado e faleceu pouco tempo depois. Assim, o documentário revela uma busca profunda, tanto no tempo quanto no espaço, explorando vidas e histórias que se entrelaçam em diferentes épocas.
“Levar a trajetória de Maria Odília, e grandes mulheres como ela, para as telas é essencial para nossa identidade. É parte do exercício de desconstrução de uma historiografia colonizada para a construção de algo nosso, brasileiro, do nosso povo. Meu desejo é que o filme, e todas as interseções entre as vidas das nossas protagonistas, ajude a traçar um retrato complexo e profundo de personagens históricos negros, com suas diversas camadas e vivências, oferecendo à contemporaneidade novas perspectivas e possibilidades”, explica a diretora Mariana Jaspe, ganhadora do Kikito de Melhor Direção no Festival de Gramado, em 2023.
“Um ponto fundamental do filme é a relação direta entre Mayara e Odília e como as vidas dessas duas mulheres, separadas por um século, se tocam e se conectam a todo momento. É uma conexão que extrapola o filme porque Mayara representa muitas outras mulheres, mulheres contemporâneas, e Odília era uma mulher à frente do seu tempo em todos os aspectos, uma figura fora do comum”, acrescenta Mariana, conhecida por obras como a série “Flordelis: Questiona ou Adora”, e o multi premiado curta-metragem “DEIXA”, protagonizado por Zezé Motta.
“Esse filme diz muito sobre nosso propósito como produtora, sobre as histórias que buscamos contar e sobre as personagens, muitas vezes apagadas pela história, que nós queremos levar ao conhecimento do grande público”, reforça Fernanda Bezerra, CEO da Maré Produções Culturais.
Fonte: Alô alô Bahia / Reprodução