Reflexões sobre uma pedalada vespertina

colunistas Priscila Figueredo

Por Priscila Soares – Quarta, 26 de maio de 2021

Era uma uma tarde ensolarada, de um desses dias infinitos da pandemia do coronavírus em 2020. Três mulheres, aqui no condomínio, resolveram sair para pedalar um pouco, afinal, atividades ao ar livre sem aglomerações não trariam riscos e fariam muito bem para corpo e mente, numa época tão árida de interações sociais.

Duas das mulheres eram mães, assim, alguns coleguinhas do filho de uma queria ir também. Até aí tudo certo, sem problemas, afinal, são mulheres responsáveis, mães, donas de casa e profissionais exemplares, não ofereciam riscos a seus pimpolhos, desse modo as mães autorizaram a pedalada. Assim, saímos em grupo: três mulheres e três a quatro meninos, mantendo distância, rumo a um pedal vespertino nos arredores da cidade.

Observando esse fato, estava eu a pensar como seria diferente se fossem três homens e um grupo de meninas… será que os pais confiariam em entregar as meninas para uma pedalada junto a três homens, mesmo esses

sendo pais de família, responsáveis e profissionais exemplares?

Por que tememos tanto os homens? Por que nos oferecem tanto perigo? Que tipo de educação é ofertada a esses meninos que tornam-se predadores na vida adulta?

Vale destacar ainda o quanto nós mulheres mudamos a rota do pedal inúmeras vezes por nos sentirmos ameaçadas e vulneráveis diante da possibilidade de encontramos o bicho homem, afinal, o que querem essas mulheres pedalando em locais tão ermos e sozinhas? Assim dirão,  caso sejamos vítimas de alguma atrocidade.

Resta saber se os homens mudam de rota temendo as mulheres e se deixam de ir pedalar sozinhos por medo do julgamento da sociedade, afinal exercer o direito de ir e vir é um ato tão abominável, não é? (Contém ironia)

Definitivamente, uma coisa tão simples e prazerosa como é pedalar não tem o mesmo peso e medida para homens e mulheres. Mulheres têm sua liberdade sempre questionada, mas ainda bem que não fugimos da luta e seguimos conquistando nossos espaços mesmo com tantos percalços na trilha!

Priscila Figueredo Soares é professora da rede pública estadual da Bahia e autora da página @estesiapoetica.

25/05/2021

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