John Silk – Segunda, 8 de janeiro de 2024
No centenário desse ícone cultural britânico, patrocinadores financiam quiosques remanescentes em campanha para evitar que eles desapareçam das ruas do país. Tradicionais cabines vermelhas ganham novas utilidades.
Para muitos, pensar no Reino Unido é pensar nos ônibus vermelhos, nos Beatles ou no Palácio de Buckingham. Enquanto outros podem preferir o famoso fish and chips (peixe com batatas fritas) ou o pub.
Mas indiscutivelmente uma das imagens mais icônicas é a tradicional cabine telefônica vermelha, que conseguiu sobreviver apesar de seu raro uso no Reino Unido moderno.
Na verdade, o número de cabines telefônicas em todo o país foi reduzido sensivelmente nos últimos anos, de acordo com a British Telecom (BT), restando apenas 3 mil dos tradicionais quiosques vermelhos.
Ameaça existencial
Enquanto marca seu 100º aniversário, o quiosque clássico está sob ameaça existencial – originalmente devido aos telefones celulares e ainda mais desde que os smartphones se popularizaram. Mas em 2008, a BT lançou seu programa Adopt a Kiosk (adote um quiosque), em que mais de 7.200 cabines telefônicas passaram a ser bancadas por comunidades em todo o Reino Unido por apenas 1 libra (R$ 6,24) cada.
“Os quiosques podem ser adotados por administrações locais e instituições de caridade registradas”, diz o site da BT.
“Com a grande maioria das pessoas usando celulares e com melhorias significativas na cobertura móvel em todo o Reino Unido, continuamos a ver uma grande queda no número de chamadas feitas a partir de telefones públicos”, afirma Michael Smy, responsável pelo projeto na BT.
“Com o icônico quiosque vermelho completando 100 anos, essa é uma grande oportunidade para lembrar as localidades que ainda gostariam de manter seu quiosque local de comprá-lo por apenas uma libra. Já vimos algumas ótimas conversões de quiosques em todo o Reino Unido que se tornaram ativos comunitários valiosos”, acrescenta ele.
Essas “conversões” transformaram as famosas caixas vermelhas em uma série de espaços úteis e culturais, desde unidades de desfibriladores e bibliotecas, até minigalerias de arte e pequenos museus locais.
A BT continuará a fornecer eletricidade, sem nenhum custo, para alimentar a luz das cabines telefônicas adotadas.
História da cabine telefônica vermelha
O nome Sir Giles Gilbert Scott pode não ser familiar para muitos, mas 2024 marca 100 anos desde que o projeto dele foi escolhido para ser a primeira cabine telefônica vermelha no Reino Unido. A cor foi escolhida devido à facilidade de identificação.
Desde então, as cabines se tornaram um ícone cultural, sendo esta talvez a conquista mais memorável e duradoura de Scott – o que já diz algo para um arquiteto cujas obras incluem a biblioteca da Universidade de Cambridge, a Central Elétrica de Battersea e a Catedral de Liverpool.
O design de Scott foi a segunda versão depois que a insatisfação com o modelo original fez com que se buscasse uma alternativa, e finalmente chegou às ruas em 1926. Dez anos depois, Scott refinou seu design para marcar o jubileu de prata do rei George 5°. O status icônico das cabines telefônicas vermelhas foi aprimorado no Reino Unido do pós-guerra, alcançando salas de estar em todo o mundo através de filmes, vídeos musicais e séries cult de televisão.
O número de cabines telefônicas em todo o Reino Unido atingiu o pico na década de 1990, com cerca de 100 mil.
No entanto, apesar do seu estatuto histórico, tem havido um declínio significativo na utilização de telefones públicos em todo o Reino Unido, onde 98% da população adulta atualmente possui um celular.
Ainda visada por turistas
Embora tenha havido um tempo em que as pessoas faziam fila para usar o telefone, algumas caixas ainda atraem multidões.
Por exemplo, uma cabine telefônica específica perto da saída da estação de metrô de Westminster atrai massas de turistas. Devido à sua proximidade com o Big Ben, é possível ter o marco de Londres e a cabine telefônica vermelha em uma única foto.
Um usuário do TikTok afirmou ter esperado 45 minutos na fila para tirar uma foto com ela, o que levou um londrino a comentar: “O mundo enlouqueceu”.
As cabines vermelhas podem não ser mais necessárias para telefonemas, mas à medida que são transformadas em pequenas casas para desfibriladores, bibliotecas ou usuários de redes sociais, ainda há uma serventia para o velho caixote.
Fonte: DW