por Fernando Duarte
O governador Rui Costa nunca foi uma figura de muitos amigos na política. Tanto que, no início da gestão no Palácio de Ondina, sobraram críticas para o modo pouco afável com que tratava aliados. Mal acostumados com o modo Jaques Wagner de conduzir as negociações, houve estranheza inicial, mas os interesses falaram mais alto. Agora, no final da administração de Rui, voltou a ficar evidente a falta de tato do governador para tratar as alianças. E o gesto de tentar ser candidato ao Senado é o ponto mais visível desse emaranhado de reclamações que podem eclodir a partir de agora.
A decisão unilateral de Rui, ao indicar o desejo de renunciar para concorrer ao Senado, pegou o próprio entorno dele de surpresa. Em 2014, quando deixou o governo, Wagner optou por salvaguardar a composição partidária ao invés de se impor como candidato a senador. Esperava-se, agora, a recíproca de Rui, visto que qualquer mobilização em sentido contrário geraria uma rachadura na base difícil de ser corrigida. O governador, então, pagou para ver.
A engenharia para Rui ser senador incluiria a desistência de Wagner em buscar retornar ao governo e uma virtual substituição dele por Otto Alencar (PSD). O Galego já havia indicado, publicamente, que não seria empecilho para a manutenção das alianças e, mesmo a contragosto, ouviu a proposta e tentou chegar a um denominador comum. Porém, além de expor o padrinho político, a chegada de Otto também transforma o senador, então candidato à reeleição, em uma vidraça desnecessariamente. Foi o combo escolhido por Rui, ainda que tenha tentado manter sigilo sobre o tema – e mantenha a negação até o fim.
A desculpa, inclusive, foi a articulação nacional para atrair o PSD para apoiar Luiz Inácio Lula da Silva ainda no primeiro turno. Só que a conta não fecha. Não é apenas a Bahia em jogo. E não há interesse do próprio Otto em ser jogado aos leões como candidato a governador para satisfazer desejos de outras pessoas. Substituir Wagner por Otto chegou a figurar como uma hipótese de articulação que envolveria Lula e o adversário político do PT na Bahia, ACM Neto, que garantiria o não apoio do União Brasil a Sérgio Moro (Podemos). É difícil de processar tanta informação. Valeriam tantas interrogações somente para ter uma candidatura competitiva ao Senado, como a de Rui, e a transformação dele em um eleitor que esteja nas urnas e não apenas na torcida? Otto não é petista e isso conta muito para o engajamento da militância, o que colocaria em risco todo o projeto de poder do grupo.
A ofensiva para evitar que essa substituição se confirmasse partiu de todos os lados, da militância mais aguerrida do PT aos líderes de partidos aliados. E pode significar um isolamento político do governador, caso Rui opte por se bancar ante a manutenção do arco de alianças com a configuração atual. Se tudo não passou de um teste para verificar a aceitação da proposta, o chefe do Executivo não parece ter passado com êxito. A sorte dele é Wagner e Otto não estarem dispostos a transformá-lo em Judas. No máximo, agiriam como Pôncio Pilatos. A diferença é que não há nenhum messias sendo julgado.
Fonte: Bahia Notícias