Das ruas de Salvador para a Marquês de Sapucaí. Os blocos afro da Bahia serão homenageados pela Escola de Samba Mangueira, no Carnaval do Rio de Janeiro de 2023.
Com a temática “As Áfricas que a Bahia canta”, no dia 19 de fevereiro, a escola vai ressaltar tradições africanas e contar a história de sobrevivência e luta por liberdade de povos como bantu, haussá, gegê e iorubá.
“Na terra de todos os santos, tantas Áfricas se recriaram pelo encanto de seus cortejos, pelas histórias de seus cantos. Como bandeira de luta, como conquista das ruas, por liberdade em ser, por respeito às suas. Tudo isso através dos dias onde a Bahia é mais Bahia e ser preto é sinônimo de alegria”, anuncia a sinopse do desfile.
O tradicional verde e rosa da Mangueira vai dividir espaço com outras cores, características de blocos e bandas como Ilê Aiyê, Ara Ketu, Olodum, Malê Debalê, Muzenza, Badauê, Timbalada, Filhos de Gandhy e Didá.
A Ala das Baianas, composta por 80 mulheres da comunidade, será vestida pela marca baiana Meninos Rei, liderada pelos irmãos Céu e Junior Rocha. “Desenvolvemos duas estampas para a ala que nos representa muito. A primeira foi inspirada em Oxum, mãe da fertilidade e da doçura. Já a segunda, é baseada no segredo das quartinhas, objeto sagrado que é essencial nos ritos e cerimônias do Candomblé”, explicam os irmãos.
Com um carro especial para representar o afoxé, ritmo dos blocos afro, a Mangueira prestará uma homenagem a Môa do Katendê, ou Mestre Môa, compositor e percussionista baiano, além de mestre de capoeira. Ele foi assassinado a facadas em 2018.
No carro dos blocos, a homenageada será Mãe Hilda, que foi uma Iyalorixá do candomblé, defensora da identidade afro, uma das mentoras do Ilê Aiyê e mãe do Vovô do Ilê, presidente e fundador do bloco. Ele e outros representantes do bloco estarão presentes no desfile.
“O Carnaval da Bahia e do Brasil foi levado para o mundo através das batidas dos tambores dos blocos afro, com o Ilê sendo pioneiro. E a gente vê essa importância refletida na escolha da Mangueira em fazer essa homenagem. A gente fica feliz com o reconhecimento”, diz Antônio Carlos dos Santos, mais conhecido como Vovô do Ilê. São 48 anos de história e, segundo o presidente e fundador do bloco, o Ilê é um marco na folia baiana.
Vovô do Ilê, presidente e fundador do bloco (Foto: Divulgação/Ilê Aiyê)
“Existe um Carnaval antes e um outro Carnaval depois do surgimento do Ilê Aiyê. A festa ficou mais participativa, o povo negro começou a ganhar o destaque antes não existia. O colorido, o ritmo, a cadência do Carnaval nunca mais foram os mesmos porque antes era muito baseado no frevo pernambucano. Com os blocos afro, os ritmos e as letras passaram a ser voltadas para o empoderamento do povo negro”, acrescenta.
Em 2023, no seu próprio Carnaval, o Ilê irá homenagear nos desfiles de sábado (do Curuzu ao Plano Inclinado) e segunda (Circuito Osmar) Agostinho Neto, ex-presidente de Angola cujo centenário aconteceria este ano.
O Ara Ketu, com 42 anos de história, terá sua própria ala especial no desfile da Mangueira, com trechos de músicas da banda no carro alegórico. Vera Lacerda, presidente do bloco, e a filha, Alessandra Lacerda, serão as representantes. “Gratidão é a palavra. Acho que a real dimensão dessa homenagem teremos no dia ao qual a Mangueira entrar na avenida. É surreal. Estamos super ansiosos por esse momento”, diz o empresário da banda, Cristiano Lacerda.
O Ara Ketu marcou a história da música baiana ao misturar elementos percussivos aos eletrônicos, no estilo “african pop”, adotado por Vera durante uma viagem para países da África na década de 90. “No início tudo foi muito difícil, a forma que as pessoas viam o bloco e posteriormente a forma que viam a banda. Mas, com muito trabalho e dedicação, conseguimos mostrar ao grande público a nossa qualidade”, coloca Cristiano.
O vocalista, Dan Miranda, conta que, para o seu próprio Carnaval em Salvador, o Ara lança neste sábado (4) sua aposta de hit da folia: a música “Faz Um Brinde Pra Mim”. O bloco puxará, antes de partir para festas de outros estados, um trio pipoca na quinta-feira de Carnaval, no Circuito Barra-Ondina, com a presença do ator paulista Henri Castelli e figurinos assinados por Goya Lopes.
Vocalista do Ara Ketu, Dan Miranda (Foto: Lucas Silveira/Divulgação)
Veja o samba-enredo da Mangueira:
OYÁ, OYÁ, OYÁ EÔ!
Ê MATAMBA, DONA DA MINHA NAÇÃO
FILHA DO AMANHECER, CARREGADA NO DENDÊ
SOU EU A FLECHA DA EVOLUÇÃO
SOU EU MANGUEIRA, FLECHA DA EVOLUÇÃO
LEVO A COR, MEU ILÚ É O TAMBOR
QUE TREMEU SALVADOR, BAHIA
ÁFRICAS QUE RECRIEI
RESISTIR É LEI, ARTE É REBELDIA
COROADA PELOS CUCUMBIS
DO QUILOMBO ÀS EMBAIXADAS
COM GANZÁS E XEQUERÊS FUNDEI O MEU PAÍS
PELO SOM DOS ATABAQUES CANTA MEU PAIS
TRAZ O PADÊ DE EXU
PRA MAMÃE OXUM TOCA O IJEXÁ
RUA DOS AFOXÉS
VOZ DOS CANDOMBLÉS, XIRÊ DE ORIXÁ
DEUSA DO ILÊ AIYE, DO GUETO
MEU CABELO BLACK, NEGÃO, COROA DE PRETO
NAO FOI EM VÃO A LUTA DE CATENDÊ
SONHO BADAUÊ, REVOLUÇÃO DIDÁ
CANDACE DE OLODUM, SOU DEBALÊ DE OGUM
FILHOS DE GANDHY, PAZ DE OXALÁ
QUANDO A ALEGRIA INVADE O PELÔ
É CARNAVAL, NA PELE O SWING DA COR
O MEU TIMBAU É FORÇA E PODER
POR CADA MULHER DE ARERÊ
LIBERTA O BATUQUE DO CANJERÊ
EPARREY OYA! EPARREY MAINHA!
QUANDO O VERDE ENCONTRA O ROSA TODA PRETA É RAINHA
O SAMBA FOI MORAR ONDE O RIO É MAIS BAIANO (2x)
REINA A GINGA DE IAIÁ NA LADEIRA
NO ILÊ DE TIA FÉ, AXÉ MANGUEIRA
Veja as fantasias da Mangueira:
Fonte: Alô alô Bahia