Seca e falta de reservas forrageiras impactam na produtividade e qualidade futura da carne

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Consultor técnico da Conexão Delta G alerta que fase gestacional das fêmeas poderá ser afetada e o resultado virá na próxima geração.

A falta de chuva substancial no Rio Grande do Sul, em mais um verão, vai causar perdas para os produtores que trabalham com genética. Muitos produtores ainda em plena temporada reprodutiva têm vacas em anestro profundo e terão uma prenhez pífia. Outros em sistemas mais integrados e avançados, com parição nos meses de junho a agosto têm vacas em adiantado estágio de gestação onde a restrição forrageira em quantidade e qualidade está afetando a formação dos fetos e com consequências na formação de células musculares e de gordura. Os reflexos aparecerão quando estes terneiros que nascerão em 2023 forem novilhos e novilhas a serem abatidos ou postas em reprodução em 2025.

Conselheiro Técnico da Conexão Delta G, o professor José Fernando Piva Lobato, recorda que, quando tinha dez anos, as secas em Piratini e Pinheiro Machado, eram enormes nos campos nativos, afetando a pecuária da região. “Nós estamos em 2023. È hora de termos aprendido, porque isto se repete e voltará a acontecer”, alerta. Segundo ele, as sequelas dessas crises alimentares, de pasto e água de qualidade, terão efeitos não somente nesse momento. “Procuramos sobreviver de qualquer maneira, mas na qualidade, no desempenho, na qualidade da carne, no desenvolvimento dos animais, esta restrição forrageira do momento afeta hoje as vacas lactantes. Com menos leite há redução da taxa de ganho de peso dos terneiros até o desmame”, explica.

Lobato detalha que os terneiros iniciam o pastejo, ainda que tênue, a partir dos 15 dias de idade. Aos 90 dias, os terneiros pastam cerca de 50% do tempo das vacas. “Portanto, esta exígua oferta forrageira e de baixa qualidade,” torrada”, que nós temos, não só limita a produção de leite das vacas, mas também limita a ingestão de pasto pelos terneiros, não tendo a dieta adequada”, alerta o professor. Os terneiros precisam para atender às suas exigências aos 90, 100 dias de idade, praticamente a metade da sua dieta diária de ingestão de pasto em quantidade e qualidade.

Ele ainda alerta que as vacas prenhes, que estão entre o quinto e sexto mês, estão na fase de formação de células primárias para as futuras massas musculares. São elas que vão determinar o rendimento da carcaça e o peso vivo dos futuros terneiros/novilhos. “A partir do quinto, sexto mês de gestação estão sendo formados os adipócitos, as células de gordura para lá, quando do engorde dos bovinos em 2025, ou seja, terneiros sendo gestados agora, que vão nascer na primavera, e que serão os novilhos precoces que nós precisamos em 2025”, explica o professor Lobato. As sequelas a médio e longo prazo estarão na constituição da carne. O professor conta que células de gordura sendo formadas do quinto ao nono e meio mês de gestação geram o renomado marmoreio, a gordura intramuscular dos necessários novilhos precoces a serem abatidos aos dois anos, em 2025. Ou antes, como alguns poucos produtores procedem.

A alternativa, do momento, para os produtores que não se precaveram para a seca cíclica, na visão do professor, é o desmame precoce para reduzir a exigência nutricional das vacas. “Se você não teve condições de fazer reservas forrageiras você pode pôr no seu orçamento a compra de feno e ração para terneiros assim desmamados”, sugere. Lobato alerta que as áreas para os rebanhos de cria ou de recria de fêmeas atualmente em número considerável de produtores estão reduzidas pela ocupação na primavera, verão, até meados do outono, com lavoura de milho ou de soja, especialmente. “Então nós precisamos ter reservas forrageiras também para manter vacas nesse período de 120 dias, aproximadamente 150 dias, porque elas estão em fase reprodutiva, ou seja, estão iniciando gestação ou em pós-parto, precisando de 60, 80 dias para estar em cio, para emprenhar, porque se não emprenhar na temporada de monta vigente, na primavera seguinte, nós não teremos terneiros nascendo”, conclui.

Presidente da Conexão Delta G, Patricia Wolf reforça a preocupação com gastos. Ela lembra que em termos de impacto da estiagem, o gado de genética não é diferente do gado comercial, pois ele sente individualmente da mesma forma “O maior impacto que existe é dos compromissos comerciais que a gente assume com data marcada e que os animais têm que manter o desempenho, não interessa se tem estiagem ou não tem estiagem”, afirma. A dirigente ressalta que, às vezes, isso impacta em mudança de programação e aumento de custo.

Fonte: Ascom AgroEffective

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