Os rebeldes separatistas da região leste da Ucrânia acusaram nesta quinta-feira (17) as forças de governo de terem efetuado disparos no território que eles dominam em quatro momentos ao longo das últimas 24 horas. Não se sabe se há mortos ou feridos.
Não se sabe ainda qual a gravidade dos incidentes.
Os militares ucranianos negam as acusações —eles afirmam que ocorreu justamente o contrário: os rebeldes separatistas atiraram contra as forças ucranianas. Os militares ucranianos disseram nesta quinta-feira (17) que os separatistas que agem na região leste do país abriram fogo em uma vila e que até mesmo uma escola de jardim de infância foi atingida. Não houve feridos.
Esse tipo de incidente tem sido comum nos últimos anos. Os rebeldes conseguiram dominar uma parte do território ucraniano desde 2014.
Agências de inteligência dos Estados Unidos afirmaram neste mês que acreditam que a Rússia pode criar um motivo para justificar uma invasão da Ucrânia —por exemplo, um vídeo de um ataque que, de acordo com os americanos, seria falso.
Aumento de tropas
O governo dos Estados Unidos acusou, na quarta-feira (16), a Rússia de enviar pelo menos 7.000 militares a mais à região das fronteiras com a Ucrânia, apesar da promessa russa de diminuir o número de soldados na área.
Volodymyr Zelensky, o presidente da Ucrânia, disse que seu país resistirá a qualquer invasão.
Um dirigente do governo dos EUA que não quis se identificar confirmou que nos últimos dias o número de soldados na Rússia aumentou em até 7.000 soldados, alguns dos quais chegaram na quarta-feira.
Segundo ele, o governo da Rússia pode lançar uma operação a qualquer momento que serviria de pretexto falso para invadir a Ucrânia, como uma falsa incursão em território russo.
Zelensky em campo
Na quarta-feira, Zelensky assistiu a algumas manobras militares perto da cidade de Rivné, no oeste do país. Depois, viajou para a cidade de Mariupol, a última cidade do leste controlada pelo governo. É considerada um dos territórios sob ameaça em caso de invasão, já que está a quase 20 quilômetros dos separatistas pró-russos que mantêm um conflito armado.
“Não temos medo de nenhuma eventualidade, não temos medo de ninguém, de nenhum inimigo”, disse Zelensky, que vestia um casaco verde de estilo militar.
Zelensky chegou à Mariupol acompanhado de embaixadores de outros países como Espanha, Estônia, Polônia, Alemanha e também o da União Europeia.
O presidente ucraniano negou ter observado qualquer indício de que as tropas russas estejam se retirando. “Estamos vendo pequenas rotações. Não chamaria essas rotações de uma retirada das forças por parte da Rússia; não vemos nenhuma mudança”, afirmou ele na televisão.
Devido ao “Dia da Unidade”, muitas ruas de Kiev se encheram de bandeiras. Em algumas escolas da capital, foram organizados exercícios de retirada.
Essas manifestações patrióticas coincidiram com o apelo do governo russo por negociações sérias com os Estados Unidos. Líderes europeus pedem uma solução negociada para a crise.
Nova normalidade
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, que presidiu uma reunião dos ministros da Defesa da Aliança em Bruxelas, afirmou que ainda há ameaça na fronteira, mesmo que a Rússia tenha afirmado que começou a retirar seus soldados.
Stoltenberg anunciou que a Otan reforçará suas defesas no leste da Europa, especialmente nos países que fazem fronteira com a Ucrânia.
Na quarta-feira, centenas de paraquedistas dos Estados Unidos chegaram ao aeroporto de Rsezsow, na Polônia, um país-membro da Otan.
Stoltenberg disse que a Otan não verificou nenhuma desescalada de tropas russas no terreno até agora: “Pelo contrário, parece que a Rússia continua reforçando sua presença militar”.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse à rede ABC News que Washington não viu “uma retirada significativa” das tropas russas.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que há “poucas provas” de uma retirada russa. Após uma conversa por telefone com o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, os dois líderes concordaram que uma invasão russa teria “consequências catastróficas”.
O ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, afirmou que a Rússia mantêm “tantas forças” como antes na fronteira com a Ucrânia e que os anúncios de Moscou devem “ser verificados”.
Os líderes da União Europeia planejam participar de uma reunião nesta quinta-feira na qual discutirão a situação na Ucrânia.
Aposta diplomática
A mobilização de mais de 100 mil soldados russos na fronteira com a Ucrânia foi descrita pelos Estados Unidos como um risco de uma invasão iminente e é considerada a pior crise de segurança na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Os países ocidentais alertaram que vão aplicar novas sanções econômicas contra a Rússia em caso de ofensiva.
O Exército russo anunciou que concluiu seus exercícios e que seus soldados estavam se retirando da península anexada da Crimeia, no sul da Ucrânia. O governo publicou um vídeo que mostra uma retirada das tropas e do arsenal militar em um trem.
Belarus também afirmou que todos os soldados russos mobilizados em seu território no marco de manobras abandonarão o país em 20 de fevereiro, enquanto os exercícios terminam.
Os Estados Unidos pediram mais provas dessa desescalada, embora o presidente Joe Biden tenha estendido a mão e se declarado aberto a encontrar uma solução pela via diplomática, um anúncio aplaudido pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
“O presidente dos Estados Unidos também ter expressado sua disposição a negociações sérias é algo positivo”, afirmou.
O governo russo exige que a Otan não se expanda e proíba uma eventual adesão da Ucrânia à Aliança Atlântica, além da retirada da infraestrutura militar da Otan do leste da Europa.
Os países ocidentais propõem iniciar um diálogo sobre controle de armamento.
Fonte: g1