Setembro amarelo: o sofrimento dos trabalhadores da saúde

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Por Célia Regina Costa

Dados pós-pandemia são alarmantes no mundo inteiro. Mas é preciso atentar-se ao caso de São Paulo, onde há jornadas extensivas, salários reduzidos, além de falta de condições mínimas e de apoio institucional – e a privatização via OSSs contribuiu com a desestabilização

Hoje, dia 10 de setembro, é Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Segundo a pesquisa “COVID-19 Health care wOrkErs Study (HEROES)”, divulgada em 2022, até 15% dos profissionais da saúde ouvidos pelo estudo pensaram em cometer suicídio. De acordo com o levantamento, trabalhadores e trabalhadoras de 11 países latino-americanos apresentavam altas taxas de sintomas depressivos e sofrimento psíquico.

A análise realizada pelas universidades do Chile e da Columbia (nos Estados Unidos), com a colaboração da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), indicou a necessidade de modificar o ambiente laboral e garantir condições de trabalho adequadas. Medidas que incluíam a orientação de remuneração digna, condições contratuais estáveis ​​e criar espaços onde as equipes possam conversar, desabafar e praticar o autocuidado.

Todos esses fatores, porém, estão muito longe das práticas aplicadas pelo governo de São Paulo para a área de saúde. No segmento, a realidade é de duplas jornadas por conta dos baixos salários que obrigam a ter um segundo emprego, falta de condições mínimas de trabalho, como materiais e insumos básicos, além de um número inadequado para atendimento à população.

Hospitais sem estrutura física mínima, com problemas que colocam profissionais em risco, sem segurança e onde, muitas vezes, impera o assédio moral, ajudam a explicar esse cenário alarmante.

Para piorar, a política de entrega das unidades hospitalares por meio das privatizações amplia a insegurança, já que os profissionais presentes nos locais transferidos à iniciativa privada convivem com constantes incertezas. Sem saber se continuarão onde construíram uma história e laços com a população.

A situação crítica não se resume a uma profissão. Em 2022, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também publicou um estudo para caracterizar a situação de mais de 2 milhões de trabalhadores de nível técnico e auxiliar, que atuavam na assistência, no cuidado e no enfrentamento à pandemia de covid-19 no Brasil. Segundo a pesquisa, 80% desse grupo vive desgastado profissionalmente com estresse psicológico, ansiedade e esgotamento mental. Além disso, 70% citaram falta de apoio institucional.

São homens e mulheres invisíveis aos olhos do governo paulista, como profissionais da limpeza, recepcionistas, motoristas, entre tantos outros que fazem compõem as engrenagens que colocam a saúde em funcionamento, mas que se tornam alvo dos cidadãos e cidadãs no cenário de serviços que, mesmo com muito esforço, não atende à necessidade de todos e todas. Situação que amplia ainda mais a violência e o estresse já presentes no cotidiano.

Atualmente, esse cenário, além de não se alterar, piorou em São Paulo. A reversão dessa conjuntura deve incluir a valorização das trabalhadoras e trabalhadores da saúde e, para isso, qualquer gestão que esteja minimamente comprometida precisa colocar em prática políticas públicas voltadas à abertura de concursos públicos, salários dignos e jornadas decentes. O que temos hoje é o oposto, silêncio às pautas de reivindicações da categoria, vale-refeição de apenas R$ 12 por dia e a liquidação da saúde pública por meio de terceirizações de setores ou as privatizações de unidades inteiras.

Um ambiente saudável para trabalhar, proporciona qualidade de vida e cuidado com a saúde mental e isso começa com condições dignas de trabalho, de alimentação e de direitos, como negociação coletiva e respeito às pautas que refletem as necessidades da categoria!

Fonte: Outra Saúde / Foto: Divulgação

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