Estatístícas de suicídio são mais altas entre jovens em idade escolar e no ensino superior, destacando importância de abordar a saúde mental
A cada 40 segundos, uma pessoa em algum lugar do mundo decide encerrar a própria vida. A maior parte deles são jovens em idade escolar ou no ensino superior. Esta é uma estatística alarmante, mas que traz à tona a urgência do diálogo sobre saúde mental e prevenção do suicídio. Nesse contexto, o Setembro Amarelo é um momento chave para a conscientização sobre a importância de prevenir o suicídio.
Além disso, a campanha suscita a importância do diálogo aberto e da empatia. Esses são fatores essenciais para identificar e apoiar as pessoas que estão passando por momentos difíceis. Muitas vezes, é crucial entender que o suicídio está relacionado a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, que podem e devem ser tratados.
Segundo a psicóloga Ana Carolina D’Agostini, gerente de conteúdo da Semente Educação, o primeiro ponto, quando se trata de prevenção de suicídio, é lembrar que dar importância a temas relacionados à saúde mental somente em setembro não é o mais adequado. Justamente pela complexidade do tema, é fundamental que as ações sejam feitas o ano todo, sobretudo dentro das escolas.
“É muito importante pontuar que educadores não têm a responsabilidade de fazer diagnóstico ou qualquer outro acompanhamento específico em saúde mental. Afinal, isso não faz parte da formação deles e nem das obrigações das instituições de ensino. Entretanto, os educadores estão em uma posição privilegiada de contato com os estudantes, e não há praticamente ninguém que conheça mais um jovem do que um professor, exatamente pela convivência diária na sala de aula”, afirma a especialista.
Segundo ela, a principal forma de dar a esses profissionais ferramentas práticas para trabalhar com os alunos é por meio do desenvolvimento das competências socioemocionais, integrando, de fato, esse aprendizado no currículo escolar.
Ambiente seguro e acolhedor
É importante que a escola coloque como prioridade a criação de um ambiente emocionalmente seguro, propício para trabalhar as habilidades emocionais na prática. Se o tempo para pensar sobre as emoções for algo natural e, ao mesmo tempo, um momento desafiador, o aluno enxergará a escola como um ambiente propício para pedir ajuda.
É fundamental envolver também os pais e os responsáveis na construção desse ambiente. Para tal, há de se considerar três âmbitos: escola, família e sociedade. As duas primeiras precisam trabalhar em constante parceria.
Para a psicóloga, é importante que a instituição escolar seja um canal aberto para que a família possa se comunicar, estar presente. Outro aspecto bastante interessante é a escola pensar em modos de trazer os pais para dentro, no sentido do aprendizado. Isto é, promovendo palestras, workshops, inclusive com as temáticas da saúde mental e do desenvolvimento socioemocional.
Abordagens mais efetivas
Segundo Celso Lopes de Souza, médico psiquiatra e fundador do Programa Semente, as abordagens efetivamente sábias são aquelas que levam uma aprendizagem das emoções para a escola.
Reconhecer os próprios sentimentos e a importância deles ajuda muito na prevenção e aumenta a capacidade de pedir ajuda. Segundo ele, 90% das pessoas que evoluem para suicídio ou até para tentativa tinham algum transtorno psiquiátrico. Por isso, existe a necessidade de reconhecer quando existe algo errado e de conseguir pedir ajuda.
“Se a pessoa se sente com os famosos 3 ‘is’: insuportável, impossível e interminável, é muito importante procurar ajuda e entender que isso não acontece da noite para o dia”, comenta o psiquiatra.
Importância de abordar saúde mental nas escolas
Promover a conscientização sobre a importância da saúde mental entre os estudantes é uma missão crucial em um mundo em que as pressões acadêmicas, sociais e pessoais podem se acumular de maneira avassaladora. Abordar essa questão exige estratégias efetivas que não apenas eduquem, mas também inspirem mudanças positivas na forma como a saúde mental é percebida e tratada. Abaixo, os especialistas destacam algumas abordagens que têm se mostrado eficazes:
Educação Holística: em vez de apenas enfocar os aspectos negativos da saúde mental, é essencial adotar uma abordagem holística que eduque os estudantes sobre os diversos aspectos do bem-estar emocional. Isso inclui não apenas os sinais de alerta e os desafios enfrentados, mas também o autocuidado, a resiliência e as estratégias de enfrentamento das dificuldades.
Espaços de Conversa Abertos: criar espaços seguros e abertos, onde os estudantes possam discutir suas preocupações, medos e ansiedades é fundamental. Isso pode ser feito por meio de grupos de apoio e workshops, por exemplo.
Integração no Currículo: incorporar a educação sobre saúde mental no currículo escolar normaliza a conversa desde cedo. Isso pode envolver aulas sobre gerenciamento do estresse, inteligência emocional, resolução de conflitos e habilidades de comunicação, que são relevantes não apenas para a escola, mas também para a vida em geral.
Fonte: Saúde em dia