Contrair o crédito está menos custoso do que em 2023, quando os cortes começaram, mas diferença entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo é grande
O novo corte de 0,5 ponto percentual na Selic (taxa básica de juros) mantém a expectativa de menor custo de financiamentos, empréstimos, cheque especial e cartão de crédito para o consumidor nos próximos meses, mas o efeito imediato é limitado.
É a sexta redução seguida da taxa que é o principal instrumento de controle da inflação e baliza para bancos e financeiras. Contrair o crédito está menos custoso do que em 2023, quando os cortes começaram, mas diferença entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo é grande.
A Multiplike, gestora de crédito, fez simulações sobre o efeito no curto prazo deste último corte da Selic no dia a dia do consumidor, considerando as principais modalidades de crédito usadas pelos brasileiros: compras a prazo no varejo, cartão de crédito, cheque especial, crédito direto ao consumidor para a compra de veículos e empréstimo pessoal em bancos e financeiras.
Segundo os cálculos, o juro médio para as pessoas físicas passará de 118,17% para 112,92% ao ano.
“A queda da taxa Selic é importante para o consumidor final pois resulta em empréstimos e financiamentos mais acessíveis, com taxas de juros mais baixas. Isso significa que os consumidores podem obter crédito mais facilmente e com custos de financiamento reduzidos, o que deve estimular o consumo e permitir a realização de projetos como a compra de imóveis, veículos ou investimentos em educação”, diz Ricardo Fagundes, CFO da gestora Multiplike.
No rotativo do cartão de crédito, por exemplo, a taxa mensal passou de 14,57% para 13,92%.
Já a compra de um eletrodoméstico de R$ 1.500 em 12 prestações vai custar cerca de R$ 27 menos no valor final com a Selic saindo de 11,25% para 10,75% ao ano.
Para as pessoas jurídicas, a taxa média de juros também cai, de 64,17% para 61,32% ao ano.
Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade), este corte da Selic, isoladamente, tem pouco efeito prático no bolso do consumidor.
“É uma redução de meio ponto percentual em uma taxa em 12 meses, então, é absolutamente nada”, diz.
“Mas o conjunto de reduções que nós já tivemos ao longo do tempo passa a ter um impacto importante, porque, de fato, a Selic caiu bastante durante esse período e a tendência é continuar caindo”, afirma o executivo.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central prevê uma nova redução de 0,5 ponto somente ao encontro agendado para maio, sem se comprometer a manter o mesmo ritmo de ajuste no futuro.
A Multiplike acredita que depois as próximas duas reduções serão de 0,25 ponto percentual, fechando o ano com foco em uma taxa de 9%.
Especialistas recomendam cautela com a expectativa de uma Selic em um dígito, pois nem sempre a queda reflete imediatamente em juros mais baixos em empréstimos e financiamentos.
O crédito imobiliário é o mais diretamente ligado à Selic. Ainda assim, enquanto a Selic passou de 2% para 13,75% ao ano –e agora está em 10,75%–, a taxa média do financiamento imobiliário gira em torno de 12%.
Para quem está se preparando para financiar um imóvel, Marcelo Tapai, especialista em direito imobiliário e sócio da Tapai Advogados, diz que é importante acompanhar qual a perspectiva para a Selic e para a inflação daqui para frente, já que as taxas e condições do financiamento são calculadas com base na realidade econômica e taxas de juros do momento da entrega do imóvel.
“Para quem comprou um imóvel na planta uma possível mudança na economia é um problema sério que pode inviabilizar por completo a finalização do negócio”, afirma.
“Caso a Selic volte a subir no futuro, fatalmente o financiamento imobiliário custará mais caro e as parcelas serão maiores, sem que os rendimentos do pretenso comprador também tenham aumentado, e daí a conta pode não fechar.”
Oliveira diz que pode ser uma boa ideia esperar um pouco mais antes de fazer um financiamento, principalmente os de valor agregado maior, como carro ou imóvel.
“Nesses financiamentos de longo prazo, de alto valor, qualquer pequena redução de juros é impactante. Como a tendência é que os juros caiam, quem deixar para fazer o financiamento mais para frente vai encontrar uma taxa de juros menor e vai pagar o financiamento todo mais barato”, afirma.
Fonte: Notícias ao minuto / Foto: © Shutterstock