Por Angela Monize – Domingo, 20 de agosto de 2023
Saí à tempestade em busca de algo maior do que a dor áspera e cruel que em mim habitava.
Erguer-se em busca de um transcendente momento epifânico que desfiava-me devagarinho, ao passo desse sentimento ardio no evocar dos teus ecos sombrios, teus desvios assintomáticos, das elusivas, recônditas lacunas de minha mente…
Saí à tempestade para compreender o ímpeto desejo que me abria os olhos e arrancava- me de meu abrigo nesses dias tão abrasadores, apenas para vislumbrar-me com tua imagem, disperso, à beira da piscina.
Teus contornos escapavam à minha busca. Como a sede procura água, eu te procuro, numa insensatez incansável. Em sonhos te busco em vão, devaneios da minha cabeça… e lúcida, mais uma vez, te vejo em todos os lugares. Teu aroma retransiu meus sentidos, pendurando em minhas narinas uma memória inolvidável.
Não ter sucumbido ao desejo e agarrar-me à sombra do “não”, antes mesmo de abandonar o limite de mim, essa simples ideia de abster-me de um beijo, pragmática e dominante, coarctou-me o discernimento de todo improvável em questão. Ao deixar aquele lugar – onde somente na minha cabeça era meu – parecia desvanecer-se algo de inestimável perda…
Parece-me que cedi tanto quanto perdi.
Outrora brincávamos com esse sentimento que parecia não crescer, não transformar-se, não reagir. Mas estávamos tão enganosos perante o que estava acontecendo, provavelmente não vimos aquelas raízes grossas e profundas, aguada pela tempestade que fui procurar em outro lugar, bem longe de você.
Me molhei da intempérie mais sútil, derramei lágrimas mais amplas do que a própria dor, pelas tuas reiteradas recusas. A água flutua, penetrando pele adentro, devolve o eco da tua lembrança, invadindo a carne, diluindo os vestígios corrosivos da tragédia que concebemos, permitindo-me abraçar um esquecimento suave. Incerta do que seremos agora, te entrego à correnteza.
E ainda que se afigure tão distante quanto antes, sinto o imperativo das palavras, rejeitando a futilidade imposta. As luzes me cegam como se o próprio amor se encarnasse nelas. Deixei-me levar pela brisa do ar, conduzida a desejar ser transportada pelo teu aroma novamente. Os simbolismos ganham vida em tua pele, a essência inata de te contemplar. Ansiando pelo toque das nossas mãos, atrito sem fim.
Na noite obscura, os sinais da volta emergem do breu. Tudo que não posso ser, que não sou, é inegável, uma resignação incontornável. Sobre mim, paira o desconhecido, mas dentro de mim, és tudo. Tu permeias cada fibra do meu ser, és o fio condutor de minha própria existência.