Por Gabriel Brito e Gabriela Leite
O combate ao tabaco e às bets • Debate inescapável sobre as bets • Acelerar ações contra queimadas • Alimentação da agricultura familiar tem bom impacto na educação • Diabetes e o tratamento com células-tronco • Microplásticos no cérebro •
O Estado brasileiro já reconhece o uso massivo de sites de apostas e jogos como um problema social relevante. Por ordem de Fernando Haddad, o Ministério da Fazenda, em parceria com o da Justiça, fará uma operação de bloqueio de contas de sites de apostas e recomendou que usuários retirem o dinheiro o mais breve possível. Na Saúde, a ministra Nísia Trindade assimilou a questão como também referente à saúde pública, uma vez que pipocam relatos pelo país de pessoas atendidas por psicólogos e assistentes sociais em postos e hospitais em razão do vício nas chamadas bets. Para a ministra, as campanhas que o país fez na redução do fumo nas últimas décadas são um bom parâmetro para iniciar a redução dos danos psicossociais causados pelo jogo.
A partir desta semana, terá início o grupo de trabalho criado pela Saúde a fim de delinear ações de prevenção e combate ao vício, em especial com suas consequências na saúde mental. Enquanto isso, Lula articula ação interministerial, como já deixa claro a entrada de Haddad em cena. Entre outras manifestações de importantes setores da sociedade, até o setor bancário pede um freio na jogatina digital, após constatar aumento da inadimplência em razão do uso de crédito para jogar – o que comprime ainda mais o crédito disponível e a capacidade de investimento do poder público.
Não existe “jogo responsável”
Mantra de propagandas das casas de apostas legalizadas, a ideia de “moderação” em relação a essa prática, a emular comerciais de bebidas, é refutada por especialistas. Fundador do Programa Ambulatorial do Jogo Patológico, criado na USP em 2018, o psiquiatra Hermano Tavares é taxativo em se dizer contra o jogo em termos comerciais e afirma que a única atitude responsável é se manter totalmente afastado da prática. No entanto, sabe que não é possível eliminar os jogos e sugere iniciativas práticas de regulação, falou ao Estadão. Mais que isso, faz uma reflexão bastante ampliada da questão e das noções de liberdade individual que sustentam a legalidade do jogo.
“Se você se fecha no porão de casa, com mais três primos, e vai jogar pôquer valendo, sei lá, dois reais o pingo, não tenho nada a ver com isso. Agora, se você e seus primos querem abrir um estabelecimento comercial para explorar comercialmente o jogo de azar, que é um potente formador de hábito, isso não diz mais respeito ao foro individual de vocês, diz respeito a toda a sociedade. Eu acho que, por exemplo, não deveria haver a exploração comercial do álcool, mas o que acontece? As pessoas vão e produzem álcool informalmente, eventualmente, sem seguir certas regras necessárias de segurança e de saúde. O que se discute é quanto mais vamos viabilizar a exploração comercial e qual vai ser a retaguarda que vamos construir para lidar com os problemas que esse tipo de ampliação do acesso necessariamente vai causar”.
Seca e queimadas: Nísia quer “acelerar ações”
Outra missão importante da Saúde nesta semana é o provimento às regiões mais afetadas pela estiagem e os milhares de focos de incêndio que percorrem o Brasil. Apesar de afirmar que não há desassistência na rede de saúde, é necessário aprofundar as ações de garantias de itens básicos para a população afetada, em especial nos estados do Norte. Região que concentra maior destruição ambiental a partir do acirramento da emergência climática, o Norte já recebe equipes voluntárias da Força Nacional do SUS há duas semanas. Como retratou matéria do Outra Saúde, tais equipes que fazem ações de abastecimento e prestam atendimento básico em áreas de difícil acesso, algumas até isoladas do restante do país em razão da baixa do nível dos rios. Por enquanto, as queimadas não produziram nenhum deslocamento de população ou explosão de internações na rede hospitalar.
Alimentação saudável ajuda no desempenho escolar
Uma pesquisa do Ipea destacou a influência da alimentação escolar saudável, proveniente da agricultura familiar, no desempenho acadêmico de alunos da rede pública. O estudo analisou dados do Saeb (2013-2019) e evidenciou a melhora nas notas de português e matemática, relacionada à compra de alimentos da agricultura familiar pelo Pnae, conforme a Lei nº 11.947/2009. A pesquisa mostrou que a alimentação escolar tem quase tanta importância quanto a qualificação dos professores no desempenho acadêmico. Além disso, fatores como a infraestrutura escolar também foram analisados. O Pnae, gerido pelo FNDE, atende mais de 40 milhões de estudantes, promovendo a saúde e melhores hábitos alimentares, contribuindo diretamente para o ambiente escolar e o aprendizado.
Reverter a diabetes com células-tronco?
Pesquisadores reverteram o diabetes tipo 1 em uma mulher de 25 anos após um transplante de células-tronco reprogramadas retiradas de seu próprio corpo. Menos de três meses após o procedimento, ela começou a produzir sua própria insulina e, desde então, vive sem necessidade de suplementação. A técnica, pioneira, visa evitar o uso de imunossupressores, já que utiliza células do próprio paciente, diferentemente dos tradicionais transplantes de ilhotas. Embora o resultado seja promissor, os cientistas afirmam que é necessário mais tempo e replicação em outros pacientes para confirmar a eficácia a longo prazo. O estudo, publicado na revista Cell, acompanha outros ensaios, como um em Xangai que também teve sucesso com células-tronco para tratar o diabetes tipo 2. A expectativa é que essa tecnologia, se comprovada, ofereça uma solução para a escassez de doadores e o uso de medicamentos imunossupressores, representando um avanço significativo no tratamento do diabetes.
Os microplásticos que entram no cérebro pelo nariz
Microplásticos estão presentes em todos os lugares, incluindo o corpo humano, e podem ser ingeridos, inalados ou absorvidos pela pele. Um estudo recente, realizado por pesquisadores da Freie Universität Berlin e da USP, sugere um novo caminho de entrada para essas partículas: do nariz para o cérebro, através dos nervos olfativos. Exames de cérebros de autópsias em São Paulo identificaram microplásticos no bulbo olfativo de 8 em 15 amostras. Embora as partículas detectadas sejam poucas, a descoberta é preocupante, especialmente considerando o risco dos nanoplásticos, menores e potencialmente prejudiciais às células vivas. Esses estudos levantam questões sobre os riscos à saúde associados a essas partículas, especialmente em relação à barreira hematoencefálica e possíveis efeitos no cérebro humano. O impacto de micro e nanoplásticos na saúde ainda não é totalmente compreendido, mas pesquisas como esta indicam a necessidade de mais investigações.
Fonte: Outra Saúde / Imagem: Microsoft Image Creator