Sucesso nas redes e na Globo, baiano Raffa Torres relembra início: ‘Chegou a faltar comida’

cultura

Sábado, 10 de Outubro de 2020 – 00:00

por Júnior Moreira Bordalo


Enquanto 2020 ficará marcado para a maioria das pessoas como um ano de retração e inviabilização de carreiras, Raffa Torres fugirá dessa regra. Obviamente, ele vem sentindo o impacto da pandemia da Covid-19, porém os frutos têm sido maiores do que os problemas. Nascido em São Paulo, mas criado em Vitória da Conquista, aqui na Bahia, desde os 10 meses de idade, ele viu sua vida mudar ao emplacar dois sucessos musicais seguidos logo no início da carreira como cantor.

No final do ano passado, fez barulho com a música “Libera Ela” – seu primeiro single de carreira. Só no Youtube, a faixa tem mais de 81 milhões de visualizações no seu canal. Mas a música foi gravada por Maiara e Maraísa, Unha Pintada entre outros artistas. A canção, inclusive, ganhou uma versão remix disponibilizada nesta semana. Confira:

Além disso, viu “A Vida É um Rio” se tornar trilha do casal principal, interpretado por Juliana Paiva e Felipe Simas, da novela das sete da globo, “Salve-se Quem Puder”. “Não esperava que fosse acontecer já no segundo single. As coisas demoraram 29 anos para começar e, em alguns meses, tudo mudou”, celebrou. A trama, que foi interrompida pelo novo coronavírus, voltará ao ar em 2021. Para se ter uma ideia, a música foi a mais tocada do primeiro trimeste de 2020 nas rádios brasileiras. “Esse ano vou ter muito motivos para agradecer. Óbvio que tenho convicção que teria sido mais incrível se não fosse tudo isso”, analisou em entrevista ao Bahia Notícias.

“É um ano atípico, inesperado no mundo. No começo eu me assustei bastante, pois minha carreira estava numa crescente muito grande. A gente lançou as músicas, participei do ‘Altas Horas’, ia iniciar a turnê em abril e tudo parou. Quando tudo que sonhei a vida inteira estava acontecendo, o mundo parou. Fiquei quase 60 dias sem sair do apartamento, me resguardando do vírus”, relembrou. Porém, o entendimento da necessidade de aproveitar o momento como dava surgiu justamente após a força que a trilha da novela tomou. “Acho que toda essa situação intensificou a mensagem da música, que fala de união, amor, da necessidade que temos do próximo. Ficou escancarado. Costumo dizer que se o barco afunda para quem tá lá no campo, vai afundar para a gente também, pois vai faltar comida na nossa mesa. Deu para perceber que o mundo é uma engrenagem só e temos que estar com a mão estendida para todos”, admitiu.

HIT ATRÁS DE HIT

Se para o grande público ele passou a ser conhecido há menos de um ano, nos bastidores musicais, seu nome tem passagem livre e está estampado em grandes sucessos dos últimos anos. Ao todo são 172 composições registradas, mais de 50 nos topos das paradas e ao menos três bilhões de streams em singles gravados por artistas como Luan Santana, Marília Mendonça, Matheus & Kauan, Anitta, Jorge & Mateus, Fernando & Sorocaba, Chitãozinho e Xororó e Bruno e Marrone. Só no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad) ele ocupou o quarto lugar de maiores rendimentos em 2019.

“Quando comecei a passar minhas músicas para outros cantores, não sabia que dava dinheiro, que dava para viver disso. Em 2014, Marcos e Belutti gostaram da música ‘Tão Feliz’ e depois escolheram mais quatro. Eles tinham acabado de estourar com ‘Domingo de Manhã’ e todos os olhos estavam voltados para eles. O pessoal começou a se questionar ‘quem é esse compositor com cinco músicas no álbum’. Isso fez com que outros intérpretes começassem a me procurar”, explicou.

Torres diz que dá para viver só de composição no Brasil, mas confessou não ser apegado a dinheiro. “Riqueza é relativo, mas dá para ganhar bem e ter uma vida confortável. É lógico que depende da quantidade de músicas, com quantos parceiros você faz. Consegui ganhar uma grana, mas o sonho de cantor sempre ardendo no coração. Até hoje não comprei uma casa própria, um ‘carrão’… peguei o dinheiro e reinvesti na carreira, gravei um DVD sem empresário, gravadora, sozinho. Consegui fazer um investimento no lançamento e fiquei quase sem grana. Depois, começou a voltar. Consegui empresário, toda a estrutura. Fui para realizar meu sonho. Para mim é mais importante do que grana. Sou zero apegado a dinheiro. Fico meses sem olhar a conta, não gasto muito, gosto de música, de cantar. Só preciso de muita música para viver”, admitiu.

E nesse tempo, ele relembrou situações embaraçosas e engraçadas de artistas que recusaram gravar suas composições. “Ouvi muito ‘não’. A música ‘Contrato’, gravada pelo Jorge e Mateus, eu mandei para o Luan. Ele segurou um tempo, mas não gravou. Mandei para o empresário do Jorge e Mateus e virou música de trabalho. A música ‘Acertou a Mão’, gravada pelo Luan, estava com Jorge e Mateus, que chegaram a gravar uma versão, ficou muito legal, mas desistiram. Acontece. Às vezes, o artista não quer uma música e acaba funcionando. Parece que a música escolhe o artista”, refletiu.

Para ele, a composição é um processo orgânico, sem fórmula – ao contrário de muitas músicas com modelos já prontos – e é preciso buscar referências, ouvir outras canções e não ter pressa. Segue a linha de esperar o processo evoluir naturalmente. “Compor para mim é livre, solto. Até gostaria de ter uma fórmula, pois aí conseguiria todos os dias. Às vezes, fico dois meses sem conseguir fazer uma música completa. Se eu tivesse a fórmula, todo dia sairia um sucesso. Não sei até que ponto é um mérito meu, até que ponto sou bom como as pessoas dizem”, admitiu. Inclusive, suas referências vão de seu parceiro Bruno Caliman, passando por Victor Chaves, Roberto Carlos, Zezé Di Camargo, Fábio Júnior até John Mayer e Ed Sheeran.

INÍCIO DE TUDO

“Considero-me baiano, tipo Claudinha Leitte. Foi aqui que tudo começou. Aqui que aprendi a tocar violão, a cantar na igreja, a compor. Sou muito grato a essa cidade [Vitória da Conquista]. O que estou vivendo parecia impossível ”, admitiu. Como dito, Raffa veio para a Bahia com 10 meses de vida e aos 15 anos formou uma banda gospel. Aos 18, foi de carona com o tio para São Paulo com o sonho de viver de música. Confessou que passou a acreditar em si como compositor aos 20. “Você vai evoluindo conforme você vai fazendo. Hoje ouço músicas que fiz em 2015 e não gosto tanto mais da qualidade”, confessou.

Para se sustentar na Terra da Garoa foi trabalhar como vendedor. “Acreditava que ali teria alguma oportunidade. Não foi fácil. Chegou a faltar comida no começo. Minha família nunca teve condição boa, mas poderia me ajudar na alimentação e tal. Porém, não queria contar isso, sabe? Dizem que São Paulo é a terra que filho chora e mãe não ver. Foi realmente assim. Não queria contar a ninguém e nem correr o risco do pessoal me convencer a voltar para Conquista”, reconheceu. O jogo começou a mudar quando o antigo chefe o ajudou a gravar um CD. “Fui conhecendo pessoas da música, dos estúdios”, salientou.

“Espero coisas muito grandes na minha carreira. Costumo dizer que ter fé é ter certeza absoluta. E tenho certeza absoluta de muitas coisas que vão acontecer, porque tudo é merecimento e eu trabalho muito, sabe? Deus tá vendo isso. A gente vai alcançar coisas grandes”, acreditou e reforçou: “Consegui ter uma carreira muito legal como compositor e agora estou tendo como cantor. É o sonho completo”. Para os próximos passos planeja um novo DVD. “Estamos dependendo muito de quando poderemos ter isso. Esperando essa tão sonhada vacina. Quero gravar com o público”, observou. Enquanto isso não acontece, seu DVD de estreia, “Ao Vivo em São Paulo”, lançado em 2019 e gravado no Teatro Frei Caneca, segue disponível nas plataformas digitais. Confira a entrevista completa:

Fonte: Bahia Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *