Domingo, 4 de abril de 2021
Horas depois da acusação de racismo ocorrida durante a vitória por 2 a 1 do Cádiz sobre o Valencia, que levou os atletas valencianistas a abandonarem o campo aos 29 minutos do 1º tempo, o árbitro David Medié Jiménez divulgou a súmula da partida e revelou quais palavras teriam sido ditas em campo.
Segundo o documento, o zagueiro Diakhaby, dos Ches, lhe disse que o também defensor Juan Cala, do Cádiz, teria lhe chamado de “negro de m***”.
Por causa disso, o francês decidiu deixar o campo, o que fez com que toda a delegação do Valencia também fosse para o vestiário em solidariedade.
“Aos 29 do 1º tempo, interrompi a partida devido a um confronto entre jogadores das duas equipes. O jogador nº 12 do Valencia, Mouctar Diakhaby, após levar cartão amarelo por discutir com um adversário, me disse: ‘Ele me chamou de negro de merda’, em referência ao jogador nº 16 do Cádiz, Juan Cala. Este fato não foi ouvido por nenhum integrante da equipe de arbitragem”, escreveu o juiz.
Medié Jiménez ainda reportou os acontecimentos ocorridos após a paralisação da partida.
“Transcorridos alguns instantes, o Valencia decidiu abandonar o campo de jogo. Por esse motivo, a partida foi temporariamente suspensa. As duas equipes foram para seus respectivos vestiários. Depois de alguns minutos de suspensão, o delegado do Valencia, David Rangel Pastor, em presença do delegado do Cádiz, Antonio Navarrete Reyes, nos comunicou que decidiu realizar a substituição de Diakhaby e continuar com a partida. Além disso, ficou acordado em dar cinco minutos de aquecimento para as equipes, de forma a evitar lesões. A partida foi retomada após 24 minutos de suspensão, transcorrendo depois com normalidade”, salientou.
A partida foi retomada aos 30 minutos, com 1 a 1 no placar.
Diakhaby de fato deixou o campo, dando lugar ao reserva Guillemón, enquanto os donos da casa não mexeram na escalação.
No fim das contas, o Cádiz ganhou por 2 a 1, com gol do zagueiro Mauro, que substituiu Cala (o acusado de racismo) no início do 2º tempo.
Diakhaby e Cala ainda não se pronunciaram sobre o caso.
O que o Valencia diz
O técnico Javi Garcia e o capitão José Gayà se pronunciaram depois da partida. Ambos seguiram a mesma linha, falaram em insultos graves a Diakhaby e revelaram que o Valencia foi obrigado a voltar a campo para não perder pontos no Campeonato Espanhol.
“Diakhaby foi muito afetado por tudo o que aconteceu. Ele foi insultado gravemente. Não quero nem repetir as palavras exatas que Cala disse a Diakhaby, porque não fui o protagonista da ação, mas ele disse um insulto racista. Quando ocorreu o insulto, dissemos ao árbitro que deixaríamos a partida. Nos vestiários, nos disseram que, se não voltássemos, seríamos punidos. Falamos, então, com Diakhaby, e ele nos disse que não estava em condições de jogar, mas que nós poderíamos voltar”, disse o treinador.
“Nos disseram que, se não voltássemos, perderíamos 3 pontos ou mais. Ele (Diakhaby) disse que não iria voltar para o jogo, estava muito triste. Foi um insulto muito feio que ele sofreu, algo que não vou repetir. Não conseguimos falar com Cala, porque ele foi o último a sair (do campo), mas estou certo que ele disse algo”, afirmou o capitão.
O clube também se posicionou por meio de uma nota oficial:
“Mouctar Diakhaby se tornou hoje outra vítima do racismo no futebol. Depois de sofrer um intolerável insulto racista, ainda tomou cartão amarelo por reclamar.
Estamos orgulhosos do apoio que Diakhaby recebeu de seus companheiros e da decisão de abandonar o campo. Confiamos que haja uma investigação. Para nossa decepção, não se tomou nenhuma decisão.
O clube em nenhum momento mandou os jogadores voltar a campo. O árbitro disse aos jogadores quais seriam as potenciais consequências de abandonar a partida. Os jogadores, forçados a jogar sob ameaça de penalização, decidiram voltar ao campo. Diakhaby pediu aos seus companheiros para voltarem e lutarem. E sua vontade foi respeitada.
O que aconteceu hoje não deveria voltar a acontecer nunca mais no futebol. O Valencia é contra o racismo e manifesta o seu total apoio a Diakhaby. Hoje é um dia triste para o nosso esporte. O que perdemos hoje não foi uma partida. Hoje se perdeu o respeito e o espírito do futebol e do esporte”.
O que diz o Cádiz
“Eu vi a mesma coisa que todos vocês viram. Um jogador deles disse que foi insultado por Cala. Cala me disse que em nenhum momento insultou o jogador. Eu acredito no meu jogador. Ele me disse que não houve insulto, e eu acredito. E acredito também que a pessoa que faz algo assim (comete ofensa racista) deve pagar por isso. É a primeira vez que acontece isso na minha carreira. Cala me disse repetidas vezes que não insultou o jogador. Somos um time leal e honesto, que não faz esse tipo de coisas”, disse.
O Cádiz também soltou uma nota oficial:
“Diante dos acontecimentos do encontro com o Valencia, o Cádiz quer realizar os seguinte esclarecimentos:
– Somos contra qualquer situação de racismo ou xenofobia, independente de que seja o autor, e trabalhos para erradicar isso. Todos os autores de injúrias, sejam ou não da nossa equipe, devem pagar por isso.
– Não duvidamos da honestidade dos integrantes do nosso elenco, que são firmes defensores da luta contra o racismo, cuja atitude sempre foi exemplar em todas as partidas que disputamos.
– A entidade não pode entrar em avaliações de lances próprios do jogo entre os jogadores, e sempre exigimos uma atitude de respeito e responsabilidade com os adversários.
– Trabalhamos e seguiremos trabalhando para que no nosso futebol não existam comportamentos xenofóbicos, com um ‘NÃO AO RACISMO’ com toda a sua contundência”. Com Informações do site ESPN Brasil