Por DW – Domingo, 30 de agosto de 2020
Portando símbolos de extrema direita, centenas forçaram acesso às escadarias do histórico Reichstag, em Berlim, sendo detidas pela polícia. Presidente condena “ataque insuportável ao coração da democracia” da Alemanha.
Políticos alemães declararam-se indignados com a tentativa de manifestantes de direita de invadir o Reichstag (sede histórica do Bundestag, o parlamento alemão), neste sábado (29/08), no contexto de um grande protesto em Berlim contra as restrições para contenção da pandemia do coronavírus.
O presidente Frank-Walter Steinmeier definiu as “bandeiras nazistas e obscenidades de extrema direita frente ao Bundestag” como “um ataque insuportável ao coração da nossa democracia”, em comunicado divulgado no Instagram, concluindo: “Nunca o aceitaremos.”
Em entrevista ao jornal Bild am Sonntag, o ministro do Interior Horst Seehofer lembrou que “o prédio do Reichstag é a sede do nosso parlamento, e portanto o centro simbólico de nossa democracia liberal”, sendo “inaceitável que incitadores do caos e extremistas estejam abusando dela para seus próprios fins”.
Na noite do sábado, depois que foi dispersado o protesto envolvendo cerca de 38 mil negacionistas da covid-19 e diversas facções ultradireitistas, centenas forçaram a entrada no edifício no centro da capital alemã.
Os manifestantes conseguiram romper uma barreira de segurança e subiram correndo as escadarias, antes de ser detidos pela polícia. Muitos dos envolvidos portavam roupa e bandeiras associadas ao movimento Reichsbürger, que nega a legitimidade do Estado alemão pós-guerra e quer o retorno às fronteiras nacionais de 1937.
O deputado do Partido Verde Konstantin von Notz descreveu assim o episódio: “Participantes de uma manifestação, que a AfD e o NPD também ajudaram a mobilizar, tentaram invadir o Reichstag.” A referência é às siglas Alternativa para a Alemanha (AfD), populista de direita, e o ultranacionalista Partido Nacional-Democrático (NPD).
“Bandeiras do Reich alemão diante do parlamento são vergonhosas”, tuitou o ministro do Exterior Heiko Maas, depois de reafirmar que “todos têm o direito de discutir sobre o procedimento com o coronavírus e, claro, manifestar sua opinião”, mas “para tal, NINGUÉM deve andar atrás de extremistas de direita, colocar policiais em perigo e expor muitos ao risco de infecção”.
O ministro das Finanças Olaf Scholz reforçou: “Nossa Lei Fundamental garante a liberdade de opinião e o direito de manifestação. Ela é a resposta ao fracasso da República de Weimer aos horrores da época nazista. Símbolos nazistas e bandeiras do Reichsbürger e da Alemanha imperial não têm lugar diante do Bundestag.” Ambos os chefes de pasta integram o Partido Social-Democrático (SPD).
“Temos um inimigo comum, o governo”
Um vídeo do incidente, postado na internet, mostra uma multidão diante da porta do prédio histórico, guardado por apenas três policiais. A polícia usou sprays de pimenta para obrigar os manifestantes a recuarem, antes de evacuar a praça em frente ao Reichstag.
“Não podemos estar o tempo inteiro em toda parte”, justificou um porta-voz da polícia berlinense. “Essa exata lacuna foi escolhida especificamente numa tentativa de contornar a barricada, invadir e chegar até os degraus do Reichstag.”
Segundo o secretário do Interior de Berlim, Andreas Geisel, as autoridades detiveram cerca de 300 participantes dos protestos, dos quais 200 diante da embaixada da Rússia, onde cerca de 3 mil apoiadores dos ” reichsbürgers” e extremistas de direita lançaram pedras e garrafas contra os policiais.
O secretário-geral do SPD, Lars Klingbeil, se disse surpreso que as agências de segurança interna da Alemanha não tenham recebido advertências prévias de que “extremistas de direita estavam tentando se infiltrar nessa manifestação”.
“Vamos ter que olhar mais de perto por que esses avisos aparentemente não estavam disponíveis com antecedência ou não foram devidamente avaliados”, prometeu o político de centro-esquerda no programa de televisão Bild Live. A comissão consultiva do Bundestag esclarecerá agora “como eram os planos de segurança”.
Para a autora e ativista da internet Katharina Nocun, a diversidade dos grupos que participaram dos protestos do sábado é preocupante. “É realmente difícil dizer do que tratava essa manifestação, porque os organizadores não se distanciaram de grupos esotéricos, de teóricos de conspiração, nem da extrema direita. Eles dizem: ‘Temos um inimigo comum, que é o governo'”, comentou à DW.
AV/rtr,dpa
Fonte: DW Brasil