Terapia não é tudo igual: saiba como escolher linha correta e como encontrar melhor psicólogo

Ciências saúde
  • Priscila Carvalho
  • Role,Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil
  • Terça, 21 de fevereiro de 2023

A psicoterapia tem como objetivo tratar questões relacionadas à mente, saúde e outras demandas. E se engana quem pensa que o tratamento deve ser buscado somente quando se está passando por um momento delicado e de sofrimento.

Segundo Thaise Löhr Tacla, psicóloga terapeuta e professora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), é um erro procurar ajuda quando se chegou ao limite. “Não é só quando falamos de doença e saúde mental. Pode buscar o autoconhecimento, entender, ver pontos e coisas da vida que quer desenvolver”, diz.

Porém, para que o paciente se sinta à vontade e fale abertamente sobre qualquer assunto é necessário escolher um profissional e uma linha de tratamento adequados.

Como há muitas vertentes é necessário que o indivíduo identifique qual o melhor tipo, seja de acordo com sua personalidade, transtorno ou questão específica.

“Cabe ressaltar que não existe uma abordagem melhor que a outra, e sim, maneiras de entender o indivíduo. Temos abordagens mais diretivas e tem algumas que apresentam abordagens mais científicas”, destaca Tacla.

Na psicoterapia existem três pilares que podem ajudar na escolha: comportamental, humano existencial e psicodinâmico.

Dentro de cada uma dessas existem “subclassificações” que podem direcionar ainda mais cada indivíduo para iniciar o tratamento. Explicamos cada uma abaixo.

Comportamental

Análise do comportamento

É baseada no behaviorismo (vem de behavior, que é comportamento em inglês) e com aspectos respaldados na ciência. É uma perspectiva que vai analisar o comportamento do indivíduo e suas interações com o ambiente.

Um exemplo prático é a ansiedade no primeiro dia de aula. Geralmente, essa linha vai tentar entender por que isso ocorreu e por que o paciente teve essa resposta a esse sentimento.

O objetivo é ajudar a pessoa a encontrar a causa do sofrimento, identificar o seu comportamento e de outras pessoas para auxiliar com estratégias de enfrentamento e encontrar a função desse medo. É considerada mais pontual e diretiva.

Terapia cognitivo comportamental (TCC)

Essa perspectiva enfatiza o pensamento do indivíduo e como isso vai influenciar os sentimentos, emoções e comportamento.

O papel da psicoterapia é auxiliar o paciente a entender as ações provenientes desse acontecimento e as crenças.

É a vertente mais utilizada nos países norte-americanos pela sua possibilidade de validação científica por meio dos métodos aplicados e comprovados.

Homem sentado com as mãos entrelaçadas no colo
Legenda da foto,O tratamento não deve ser buscado apenas quando se está passando por um momento difícil

“O terapeuta mostra essas distorções cognitivas e em conjunto com o paciente, encontra alternativas, soluções para as próprias angústias, mostrando o que há por trás de um medo.

Ensina o próprio paciente a ter autonomia para aprender a lidar com suas próprias questões, diz Lala Fonseca, psicóloga com especialização em Psicofarmacologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP-HC).

Como é uma abordagem mais direta, é indicada para quem sofre com transtornos alimentares, ansiedade, depressão, para pessoas que buscam a interpretação das situações da vida e que desejam um direcionamento por meio das próprias respostas. Atualmente, é o método mais breve para solução de situações em geral.

Humano Existencial

Humanista ou transpessoal

O terapeuta atua em busca de um ambiente acolhedor para que o indivíduo alcance suas qualidades e reconheça quais são suas dificuldades.

Propõe que a pessoa só irá conseguir mudar as coisas quando aceitar a si mesma.

É indicada para questões ligadas a autoestima, estresse e para pacientes que buscam melhorar não por meio de suas angústias, mas sim por aspectos e pontos positivos.

Fenomenológica

Essa linha vai focar no indivíduo como forma única. Vai enfatizar suas atitudes, buscar entender a razão de sua existência e fazer questionamentos como: por que eu existo, quais atitudes eu tenho diante da vida?

Nessa também são trabalhados valores e aspectos com base na existência do paciente, sem preconceitos e generalizações.

Gestalt

Seu objetivo é provocar insights no aqui e agora por meio da consciência de si mesmo, além de envolver aspectos físicos, mentais e espirituais. É caracterizada pela reflexão de suas ações próprias e busca estratégias para se autorregular.

O terapeuta presta atenção na fala, no tom de voz, gestos e outras linguagens corporais. Muitas vezes, esse processo provoca insights da percepção de si mesmo.

Funciona para pessoas que necessitam ver a situação como um todo para compreender o resultado.

Psicodrama

É baseada em aspectos do teatro, usa o drama para encenar vivências e apresenta uma abordagem que tem por objetivo resgatar a essência de cada ser humano.

“Enquanto o psicodrama visa reviver e aceitar seu passado e até compreender o futuro, a principal diferença para a constelação familiar é que esta ainda não “resolve” o “trauma em si”, diz Fonseca.

Mesmo tendo essa linha mais lúdica, é preciso uma formação em psicologia para, de forma técnica, auxiliar o indivíduo nessa solução de questões traumáticas, destaca a profissional.

É indicada para pessoas que têm dificuldade em explicar determinada situação e o desconforto que causou. Além disso, tem como objetivo compreender a si, aos outros e sua capacidade em relacionar-se com os demais.

Logoterapia ou análise existencial

Esse tipo de psicoterapia tem o foco na busca do sentido. Visa encontrar a motivação e a razão da pessoa estar ali.

Ela pode ajudar o paciente a superar crises existenciais e respostas por dilemas profundos.

“Na pandemia resgatou-se muito a busca pelo sentido. Acabou por ter mais destaque, buscando a motivação da vida”, diz Tacla.

Psicodinâmica

Psicanálise

É uma abordagem mais antiga e tem como estratégia usar associação livre, falando sobre si e sem nenhuma intervenção. Ao falar o que sente sem interrupção, a pessoa vai se tornando consciente.

É indicada para pessoas que busquem conhecer suas camadas mais profundas e sintam conforto na sua ausência.

Dentro da psicanálise há outras linhas que também podem ser escolhidas. São elas:

Freudiana ou psicanálise ortodoxa

Permite o paciente falar livremente, normalmente de costas para o analista e este, por sua vez, mantém o silêncio para permitir que os pensamentos fluam livremente sem nenhuma interferência.

Terapia Junguiana

Também chamada de psicologia analítica, a terapia de Carl Jung tem como objetivo trabalhar o inconsciente e consciente para trazer o equilíbrio do mundo externo e interno.

“A estratégia dessa linha é direcionar para o inconsciente. Entende-se que a pessoa falou algo que não queria falar”, diz a especialista da PUC-PR.

O paciente fica livre para falar o que deseja e o terapeuta pode tentar compreender, simbolicamente, o que suas queixas representam.

Há imaginação ativa, interpretação de sonhos e sandplay (também chamado de jogo de areia), método não verbal para construir cenas.

Terapia Lacaniana

Essa linha de abordagem dá ênfase à exploração do inconsciente por meio da fala.

Assim como na psicanálise ortodoxa, o paciente deve falar livremente sem ser interrompido.

É muito comum o terapeuta repetir as falas do indivíduo para ele mesmo se ouvir. É indicado para indivíduos que lidam bem com limites.

Como escolher o terapeuta ideal?

Quando a pessoa decide começar a psicoterapia é importante buscar referências. O mais indicado, segundo os especialistas, é procurar alguns detalhes sobre o tipo de prática que esse profissional exerce, seja por meio de suas publicações, falas em espaços públicos e projetos sociais desenvolvidos.

Mulher sentada fazendo anotações em prancheta diante de mulher deitada deitada em sofá
Legenda da foto,É preciso identificar qual o tipo mais adequado de terapia, seja de acordo com sua personalidade, transtorno ou questão específica

Sinta-se à vontade também para perguntar qual linha ele segue, se fará questionamentos, anotações ou se deixará você falar mais durante as sessões.

“O fundamental aqui é procurar viver uma experiência inicial com o profissional para sentir se você foi escutado e se você sentiu que se formou um vínculo inicial de onde pode frutificar uma relação terapêutica”, destaca Bartholomeu de Aguiar Vieira, professor de Psicopatologia, Estágios de Psicodiagnóstico e Avaliação da Personalidade do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).

Há pacientes que demoraram um ano para se sentir confortáveis em abrir questões relacionadas à sexualidade, por exemplo, e pontos onde a própria pessoa tinha preconceitos.

“Abrir-se para o processo de terapia é doloroso, porém, extremamente libertador. Ao reconhecer as próprias questões, o paciente se liberta de angústias. Ao aceitarmos quem somos, descobrimos para onde queremos e temos a possibilidade de ir e o que queremos fazer”, destaca Fonseca.

De início, é importante fazer “sessões teste” e ter um primeiro contato com o psicoterapeuta. Elas podem ocorrer por meio chamadas de vídeo, ligação e de forma presencial.

Alguns oferecem até atendimentos gratuitos para o primeiro encontro, mas nada impede de discutir valores e saber quanto ele cobra pelo serviço.

Caso a pessoa não consiga pagar pelas sessões, também há a possibilidade de atendimentos sociais, feitos em clínicas-escolas a preços populares e até sem custo.

Fonte: BBC Brasil

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