Versão mais barata do SUV com transmissão do tipo CVT agrada pela dinâmica e pelo espaço interno; falhas, claro, existem, mas compacto faz um bom rock
Por Marcus Celestino – Domingo, 2 de fevereiro de 2025
Preciso, antes de dar início a essa avaliação, tirar um elefante da sala: gosto de automóveis simples, capazes de me levar do ponto A ao B com alguma tranquilidade. Não preciso do luxo, mas, evidentemente, não sou daqueles que se dobram a qualquer coisa. Curto um quê de brilhantismo. Dito isso, tenho de informar a você, leitor, que o CitroënBasalt Feel Turbo 200 é quase o meu número. Quase.

Explico. É um modelo que me agrada bastante pela dinâmica, similar a de uma banda de rock que parece não fazer força para emanar tranquilidade e, do nada, sapecar arroubos mais enérgicos. Um Pavement ou um Sebadoh, por exemplo. Além disso, tem espaço interno que garante conforto como os melhores discos do Fleetwood Mac. O problema resvala nas dissonâncias – e olha que eu amo um Sonic Youth e um My Bloody Valentine.
Mas chega de música (por ora). Voltemos ao protagonista. Fiquei por uma semana com a versão de R$ 100 mil do SUV compacto equipada com transmissão do tipo CVT que simula sete marchas. Casa com a caixa o já conhecido (e queridinho da redação) motor 1.0 turbo, tricilíndrico, com injeção direta, que rende 130 cv de potência a 5.750 rpm e 20,4 kgfm de torque a 1.750 rpm.
Dinâmica do Citroën Basalt Feel Turbo 200
Portanto, se me permite, gostaria de começar esta avaliação tecendo elogios à união. O câmbio CVT simula sete marchas com relações muito interessantes. As primeiras garantem força suficiente para boas arrancadas e retomadas espertas, ao passo que as últimas conferem modo de cruzeiro eficiente. Trata-se de uma “imitação” muito inteligente, com escalonamentos mais que adequados. Para um sistema continuamente variável é algo digno de loas.
A alegria continua com o motor 1.0 da família GSE. Tem desempenho competente em baixas e altas rotações muito graças ao sistema MultiAir III, responsável por ajustar eletronicamente abertura e timing das válvulas de admissão. Isso garante ainda boas respostas do acelerador e, por conseguinte, menor atraso na relação máquina-motorista, além de eficiência energética dentro dos conformes.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2025/v/m/bVpG2gSQ6BCRnxZjnyOQ/citronbasalt26-1-.jpg)
Motor 1.0 turbo da família GSE é um dos grandes destaques do Basalt — Foto: Divulgação
Aliás, em termos de consumo, Autoesporte obteve médias de 10,2 km/l em ciclo urbano e 14,2 km/l no rodoviário com o tanque sempre abastecido com gasolina. Vale ressaltar que o redator circulou muito mais pelas ruas de São Paulo (SP) do que pelas estradas. Se você curte precisão, coloquemos aí uma proporção de 75% e 25%.
A título de curiosidade, o Basalt faz 8,3 km/l na cidade e 9,6 km/l na estrada com etanol e 11,9 km/l em circuito urbano e 13,7 km/l na estrada com gasolina, sempre de acordo com o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV). Ou seja, os números obtidos em nosso teste não diferem tanto dos divulgados pelo Inmetro.
O balanço do Citroën Basalt Feel Turbo 200 foi outro ponto que arrancou sorrisos do escriba. A distribuição longitudinal dos 1.182 kg do SUV compacto é muito boa, sem quaisquer “decolagens” mais ariscas ou chances de derrapagem e “deitadas”.
No caso do balanço transversal, é claro que temos comportamento similar ao de utilitário esportivo. No entanto, a distribuição é bem melhor que a do Fiat Fastback, por exemplo. Até mesmo em curvas mais sinuosas temos um equilíbrio de bom tom para o segmento, com uma certa progressividade no deslocamento de peso. Mesmo assim, claro, ocupantes irão caçar o famigerado “PQP”, inexistente no modelo. Custos, meus amigos.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2025/9/E/WuSlINT9GZvlJRxBBcXQ/thumb-site-basalt2.jpg)
A suspensão, por sua vez, tem a melhor calibração da família C-Cubed. De longe. Em resumo, o Basalt absorve bem as imperfeições do solo e dispõe de rigidez interessante nos amortecedores. Esses amortecedores mais rígidos, inclusive, também ajudam a mitigar a rolagem da carroceria e os já citados “mergulhos” e “decolagens”. Ajudam, assim, a deixar o SUV mais nivelado mesmo em condições adversas – mesmo se a banda tiver desafinado, o vocalista segue no tom.
Exterior e interior do Basalt
O Citroën Basalt Feel Turbo 200 é feito sobre a plataforma CMP e tem dimensões generosas para um compacto. O SUV dispõe de 4,34 metros de comprimento, 1,58 m de altura, 1,82 m de largura e 2,64 m de entre-eixos. A título de comparação, Volkswagen Nivus e Fiat Fastback têm 2,56 m e 2,53 m de entre-eixos, respectivamente. Isso faz com que o modelo da marca de origem francesa imponha certo respeito.
Embora tenha, assim como o Fastback, ares de SUV cupê, o Basalt é afinadinho no quesito design. Isso muito em conta da solução adotada pela Citroën após a coluna C, com uma região aplanada na seara do porta-malas que dá um tom de elegância ao utilitário esportivo compacto. Seu visual, de fato, tem mais harmonia que o do modelo da Fiat.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2025/Y/l/uWzTxtQly95X485uBdyQ/thumb-site-basalt3.jpg)
Já no interior temos espaço de sobra para condutor e passageiros. Ao contrário de outros modelos do segmento, o Basalt consegue levar até mesmo três adultos no banco traseiro numa boa. Claro que, para maior conforto, o “dois adultos e uma criança”, tão clássico em avaliações de automóveis quanto uma sinfonia de Mozart, é o ideal. Ah! E o porta-malas tem capacidade para 490 litros no padrão VDA.
Em termos de acabamento, a simplicidade impera. O habitáculo segue basicamente a receita do punk dos Ramones ou dos Sex Pistols. É praticamente o mesmo da versão equipada com câmbio manual e motor 1.0 aspirado à exceção, claro, da manopla. Temos plástico rígido para todos os lados e um ou outro elemento com textura distinta. Os bancos têm forração em tecido, com duas cores e uma das costuras alaranjada, e estofamento que passa de ano raspando.
Grande pecado mesmo é a ergonomia, que desafina legal. Os botões de acionamento dos vidros traseiro ficam no meio, em posição ingrata para condutor e passageiros. A posição de dirigir, excessivamente elevada, e o volante um tanto fino também são fatores que contribuem para o arrebentar das cordas da guitarra.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_cf9d035bf26b4646b105bd958f32089d/internal_photos/bs/2025/1/O/6R5EatTsmBIVtdr9o2BA/interior-basalt.jpg)
Destaque, porém, vai para a central multimídia com tela de 10 polegadas e conectividade com Android Auto e Apple CarPlay sem necessidade de fio. O pareamento é extremamente rápido e a interface, amigável. Único porém aqui vai para a resolução das imagens que advêm da câmera de ré.
O Citroën Basalt Feel Turbo 200 dispõe ainda de quadro de instrumentos de 7 polegadas customizável. Colorido e intuitivo, ajuda bastante o condutor. Todavia, durante nossa avaliação, apontou constantemente para a baixa pressão dos pneus – mesmo com estes devidamente calibrados. O redator ia lá, resetava o bendito, mas ele fazia questão de, mais uma vez, destacar o inexistente problema.
Equipamentos
A lista de equipamentos, assim como o acabamento do Basalt Feel Turbo 200, é frugal. Temos os já mencionados computador de bordo de 7 polegadas e central multimídia de 10 polegadas com câmera de ré. Ainda há luzes diurnas, retrovisores elétricos, rodas de 16” e seis alto-falantes. O ar-condicionado não é digital, mas gela que é uma beleza.
Para completar, o SUV dispõe de quatro airbags, sendo dois dianteiros obrigatórios e dois laterais. É bom? Até que é. Contudo, sempre bom ressaltar que o Basalt feito na Índia, também lançado no ano passado, é oferecido com seis bolsas. Mancada digna da apresentação da cantora Ashlee Simpson no Saturday Night Live.
Resumo da ópera
Por R$ 99.990 (“oferta válida para venda feita por meio do estoque da montadora”), e até mesmo pelo preço “cheio” de R$ 115.700, o Citroën Basalt Feel Turbo 200 é um SUV absolutamente honesto. Tem dinâmica e espaço interno de causar inveja aos rivais, mas peca pela simplicidade e pela ergonomia.
Para fechar essa opereta, afirmo que o Basalt não chega a ser um disco dos Beatles. Mesmo assim, chega bem perto de um bom álbum do Oasis. A banda liderada pelos irmãos Gallagher passa como um gostoso pastiche do som feito pelos quatro rapazes de Liverpool.
Se você, aliás, ainda não escutou Oasis, recomendo. Assim como recomendo que olhe com carinho para o honesto Citroën Basalt Feel Turbo 200. É um produto que cumpre bem o seu papel, embora eu ainda prefira a genialidade dos Beatles. Pois é. “Quase” meu número.
Ficha técnica
Citroën Basalt Feel Turbo 200 2025 |
Motor: Dianteiro, transversal, 3 cil. em linha, 1.0, turbo |
Potência: 130 cv a 5.750 rpm |
Torque: 20,4 kgfm a 1.750 rpm |
Câmbio: CVT, sete marchas simuladas, tração dianteira |
Direção: Elétrica |
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.) |
Freios: Discos ventilados (diant.), tambor (tras.) |
Pneus: 205/60 R16 |
Tanque: 47 litros |
Porta-malas: 490 litros (VDA) |
Peso: 1.182 kg |
DIMENSÕES |
Comprimento:4,34 metros |
Largura 1,82 m |
Altura: 1,58 m |
Distância entre-eixos: 2,64 m |
CONSUMO |
Etanol: 8,3 km/l na cidade e 9,6 km/l na estrada |
Gasolina: 11,9 km/l na cidade e 13,7 km/l na estrada |
Fonte: Fabricante
Fonte: Auto Esporte /