Por João Ozorio de Melo – Domingo, 23 de outubro de 2022
No último dos massacres em escolas dos EUA — o da Robb Elementary School em Uvalde, Texas, em maio, em que morreram 19 alunos e dois professores — a polícia teve dificuldades para identificar algumas crianças, cujos corpos foram dilacerados por tiros de fuzil. O governo do Texas tomou uma providência: enviou kits de testes de DNA e de impressão digital às famílias dos estudantes, para facilitar a identificação daqueles que forem mortos no próximo massacre.
Obviamente, o governo do Texas não relacionou diretamente a distribuição de kits de teste a massacres. A mensagem no rótulo dos kits se refere a “casos de emergência” e ao desaparecimento de crianças. E o rótulo traz mais uma mensagem considerada ofensiva pela ironia: “Um presente de segurança, de nossa família para a sua.”
Os pais de estudantes no Texas, bem como em todos os Estados Unidos, gostariam que, em vez disso, os políticos aprovassem leis que restrinjam a compra e porte de armas. Uma das medidas seria elevar a idade mínima para compra de arma de 18 para 21 anos, porque a maioria dos massacres são cometidos por rapazes de 18 e 19 anos.
O autor do massacre de Uvalde, por exemplo, comprou legalmente dois rifles semiautomáticos e 400 cartuchos de munição no dia seguinte ao de seu aniversário, em que completou 18 anos.
Outras medidas legislativas seriam vincular a compra de armas à obrigatoriedade de apresentar atestado de antecedentes criminais, testes de sanidade mental, treinamento de uso de armas e obtenção de licença estadual para compra e porte de arma. E melhorar a segurança nas escolas.
Questionado sobre isso em um debate eleitoral, o governador do Texas, Greg Abbott, declarou que aprovar quaisquer leis de controle de arma seria perda de tempo porque a Suprema Corte as revogaria, por considerá-las inconstitucionais.
“O governador do Texas, Greg Abbott, preferiu enviar kits de DNA às escolas, que os pais possam usar para identificar seus filhos depois de serem mortos, em vez de aprovar leis de segurança contra armas para proteger, proativamente, suas vidas”, escreveu no Twitter a fundadora da organização “Moms Demand Action for Gun Sense in America”, Shannon Watts, segundo Washington Post.
Os pais dos alunos usaram a mídia social para mostrar sua irritação, como a publicada no Twitter: “Boa! Legal! Vamos identificar as crianças depois que forem mortas, em vez de solucionar os problemas para impedir que sejam mortas. É uma medida tão eficiente como usar papel higiênico antes de defecar”, escreveu ironicamente Brett Cross, que perdeu um filho de 10 anos no massacre de Uvalde, segundo o USA Today, que reescreveu a última sentença para eliminar vulgaridades.
Fonte: Conjur