Terça, 20 de dezembro de 2022
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) promoveu uma série de três oficinas sobre violência baseada no gênero para 50 mulheres que vivem no Parque das Tribos, primeiro bairro indígena oficializado pela prefeitura de Manaus (AM).
As oficinas incluíram conversas e dinâmicas sobre tipos de violência, mecanismos legais de proteção como a Lei Maria da Penha, e garantia de acesso à rede socioassistencial local.
O objetivo do UNFPA é formar as mulheres das comunidades tradicionais como agentes multiplicadoras de informações que salvam vidas, como é o caso de Lutana, única cacica mulher do Parque das Tribos e facilitadora das atividades.
Com seu cocar de penas, pinturas pelo corpo e postura altiva, Lutana Ribeiro não passa despercebida por quem a vê. Ela é exatamente o que aparenta ser: uma liderança. Única cacica mulher do Parque das Tribos, primeiro bairro indígena oficializado pela prefeitura de Manaus (AM), Lutana é uma referência para as mulheres da comunidade na defesa dos direitos humanos. Integrante da etnia Kokama – uma das 35 etnias presentes no Parque das Tribos – Lutana facilitou e esteve presente em uma série de três oficinas sobre violência baseada no gênero promovidas pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no território durante o mês de novembro, e que mudaram a postura das 50 mulheres participantes que lá vivem.
“Eu vi a mudança nas mulheres que não tinham coragem e choravam, com medo, em um cantinho. No primeiro encontro, poucas falaram. Hoje, a maioria delas falou”, conta Lutana. De fato, a partir do segundo dia de atividades, houve uma extensa troca de experiências entre as participantes e a equipe do UNFPA. Foram numerosos relatos, histórias e esperanças compartilhadas. “Depois da primeira palestra, muitas mulheres tiveram coragem. No dia seguinte, teve gente dizendo basta à violência”, ela completa. “Esses homens não vão mais fazer o que eles quiserem com elas, porque elas estão mais empoderadas”, conclui.
O Parque das Tribos é o lar de cerca de 750 famílias. Infelizmente, casos de violência contra as mulheres não são incomuns. “Eu, como liderança, vivenciei muitas coisas. As mulheres batem na minha porta pedindo socorro”, relata Lutana.
Agentes multiplicadoras – As oficinas do UNFPA incluíram conversas e dinâmicas sobre tipos de violência, mecanismos legais de proteção como a Lei Maria da Penha, e garantia de acesso à rede socioassistencial local. O objetivo é formar as mulheres das comunidades tradicionais como agentes multiplicadoras de informações que salvam vidas.
A coordenadora do Núcleo de Proteção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) da Defensoria Pública do Amazonas, Stéfanie Sobral, também esteve presente para entender mais a fundo a realidade das mulheres no local. Além disso, as crianças – que são numerosas na comunidade – participaram de atividades lúdicas para que as mães pudessem estar presentes nas oficinas. “Essa iniciativa foi muito importante para que nós possamos ficar cada vez mais fortalecidas e ter esse apoio de diálogo e vivência”, diz Lutana.
Para Débora Rodrigues, chefe de escritório do UNFPA em Manaus, os três encontros cumpriram seu papel. “As oficinas criaram um espaço seguro para que as mulheres pudessem refletir em conjunto sobre as diferentes formas de violência que incidem no seu cotidiano e em estratégias de enfrentamento, que incluem a ampliação da oferta e do acesso a serviços que garantam proteção e direitos a toda a comunidade do Parque das Tribos”, explica.
Ao final do último dia de atividades, não faltaram sorrisos. As mulheres, coletivamente fortalecidas, pareciam ilustrar as palavras da cacica Lutana: “A gente, como indígenas, não tem medo. A gente enfrenta e segue em frente”.
Iniciativa – O projeto “Fortalecimento dos Serviços de Violência Baseada no Gênero que Salvam Vidas”, é implementado pelo UNFPA com o apoio financeiro da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). O objetivo é fortalecer as capacidades das redes locais de prevenção e enfrentamento à violência baseada no gênero no Amazonas e em Roraima.
Fonte: ONU Brasil