Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 14 de outubro de 2022
A manhã de 26 de setembro foi atípica para vários alunos baianos. Em três escolas, de diferentes regiões do estado, aconteceram episódios que, apesar de não se relacionarem diretamente, ligaram o alerta para uma questão que precisa ser discutida: a violência em ambiente escolar.
Em Barreiras, um atentado causou a morte de uma estudante. Em Lauro de Freitas e em Salvador, ameaças de ataques deixaram vários alunos assustados. Em todos os casos, os perpetradores ou suspeitos eram estudantes ou ex-alunos das escolas.
Coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Educação (Ceduc), o promotor Adalvo Dourado categoriza a violência escolar como uma questão multifatorial influenciada por questões sociais e econômicas. Sem entender, especificamente, o que pode estar por trás dos episódios, é muito mais difícil combatê-los.
No cenário específico baiano, não há dados que possam indicar as principais causas de episódios de violência em ambiente escolar, mas Adalvo pontua algumas a partir do que observa em seu trabalho junto ao Ministério Público da Bahia (MP-BA). “O desemprego, a violência na sociedade, a violência doméstica e as crises existenciais que têm tomado muitas pessoas atualmente são os principais deles”, cita.
Muitos desses problemas foram agudizados pela pandemia de covid-19, que trouxe uma piora, inclusive, à saúde mental de muitos estudantes. Para a psicopedagoga Juceline Paixão, as escolas ainda não estão preparadas para lidar com isso. “A maioria delas não têm as ferramentas necessárias nem para ter uma equipe multidisciplinar que trate dessas questões”, afirma a profissional.
A falta de diálogo entre as instituições e as famílias também dificulta o auxílio aos estudantes, principalmente, quando já estão fragilizados. “Acaba se tornando um ‘jogo de empurra-empurra’ entre pais e escola e o jovem fica nessa corda bamba”, diz Juceline.
Dourado concorda que há uma falha nessa comunicação. “Os episódios de violência escolar costumam ser antecipados por uma série de sinais que são desconsiderados e que indicam a necessidade de um acompanhamento especial, um olhar mais próximo”, considera.
Trazer soluções para esse cenário passa pela compreensão do real papel da escola na vida dos alunos e na sua interação com a sociedade. “A escola tem que ser efetivamente um lugar não só onde se trabalha o cognitivo, mas sobretudo a sociabilidade. Para entender e combater esse fenômeno, precisamos que os alunos entendam a escola como um ambiente de apoio”, destaca Dourado.
Fonte: Metrópoles