O Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira (Muncab), em Salvador, será reinaugurado nesta segunda-feira (6). A abertura é fruto de uma parceria com a Prefeitura de Salvador, que investiu R$ 15 milhões no equipamento, viabilizando a compra de acervo e execução de obras pendentes para finalizar o espaço de exibições.
O evento que oficializa a inauguração do espaço, que fica na Rua das Vassouras (Centro Histórico), terá a presença do prefeito Bruno Reis e do secretário municipal de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho, dentre outras autoridades, nesta manhã.
A partir das 13h, o público poderá visitar o equipamento cultural, que recebeu a atriz estadunidense Angela Bassett, a rainha Ramonda de “Pantera Negra”.
Quem também já esteve no museu foi o ator Bruno Gagliasso, ao lado dos filhos Titi e Bless, de 10 e 8 anos, respectivamente. Os pequenos são afilhados de Tourinho, e puderam conferir o espaço renovado em primeira mão.
A premiada exposição “Um Defeito de Cor” está em cartaz. Como parte deste momento, a autora do livro homônimo que inspira a exposição, Ana Maria Gonçalves, irá realizar uma roda de conversa gratuita, às 16h30, no segundo piso do Muncab, para falar sobre a obra.
Na semana de reabertura do museu, até o dia 12, o acesso será gratuito e os ingressos podem ser retirados através deste link, assim como para a palestra de Ana Maria Gonçalves.
O dramaturgo e romancista Wole Soyinka vai participar da palestra, como parte do último dia de programação do Liberatum. Apesar do show de encerramento do Festival ter ocorrido no domingo (5), o evento contou com uma extensão nesta segunda-feira (6).
O ícone cultural recebeu o Prêmio Nobel da Literatura em 1986, por “numa ampla perspectiva cultural e com tons poéticos que moldam o drama da existência”.
A reinauguração do Muncab integra a programação do Novembro Salvador Capital Afro, que conta com festivais de música e de cultura negra, como o Afropunk e o Candyall e Tal, e de cinema negro, como o Fianb (Festival Internacional de Audiovisual Negro do Brasil), trazendo atrações nacionais e internacionais. Neste final de semana, aconteceu o Festival Liberatum, evento internacional que abriu a programação.
Mais sobre a mostra em cartaz na reabertura
A exposição “Um Defeito de Cor” — eleita “exposição do ano” em 2022, após estreia no Museu de Arte do Rio (MAR) — vai estar em cartaz no equipamento cultural. Com curadoria de Ana Maria Gonçalves, Marcelo Campos e Amanda Bonan, a mostra foi escolhida para marcar a reabertura do Muncab devido à sua relevância artística, histórica, literária e cultural, além da capacidade de promover a compreensão, o diálogo intercultural e o fortalecimento do museu como um polo cultural de destaque.
A exposição é baseada no livro homônimo de Ana Maria Gonçalves, que narra a história de Kehinde, uma africana escravizada que, após muitas adversidades, consegue sua liberdade e parte em uma jornada em busca do filho. A narrativa aborda de forma profunda e sensível à experiência da escravização no Brasil e a busca pela identidade e liberdade.
Permite ainda que o público mergulhe nas complexidades dessa história, promovendo uma compreensão mais profunda das lutas e conquistas dos negros no Brasil. “Um Defeito de Cor” ratifica a missão do Muncab de contribuir para a reconstrução das subjetividades negras, engajando-se na disputa de narrativas e na reconstrução de imaginários.
Aliado a isso, parte significativa da história contada no livro se passa em Salvador. A escolha da exposição “Um Defeito de Cor” também faz parte da estratégia de revitalização do Muncab como um espaço cultural relevante, capaz de atrair visitantes locais, nacionais e internacionais, fortalecendo assim o turismo cultural em Salvador.
A diretora do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira, Cíntia Maria, declara que “reabrir as portas do Muncab com a exposição ‘Um Defeito de Cor’ é um presente para Salvador. Todo o investimento em infraestrutura para viabilizar esse momento tão importante só reafirma o compromisso da prefeitura com a cultura afro-brasileira. Isso demonstra o reconhecimento da importância do museu como uma instituição cultural vital para a cidade e para a promoção da cultura afro-brasileira. O Muncab reabre suas portas para compartilhar o tesouro cultural afrobrasileiro com o mundo”, pontuou.
Pedro Tourinho destaca a relevância histórica da exposição. “‘Um Defeito de Cor’ é a obra mais importante da literatura brasileira deste início de século, é a história do povo negro em nosso solo a partir da perspectiva da mulher negra. Nos traz a verdade do que se passou nessa cidade, conecta o leitor e o Brasil inteiro a essa perspectiva. Abrir o Museu com uma exposição de conteúdo tão rico e relevante, com a presença de sua autora, Ana Maria Gonçalves, é uma honra e um marco na história da cultura em nossa cidade”, afirma
A vinda de “Um Defeito de Cor” para Salvador é viabilizada por meio do Termo de Cooperação Internacional assinado pela Prefeitura de Salvador e a Organização dos Estados Íberoamericanos (OEI), que visa desenvolver projetos e internacionalizar atividades culturais de Salvador na Íbero-América, e o MAR.
O Muncab
Gerido, atualmente, pelas artistas e produtoras Cintia Maria e Jamile Coelho, o museu foi idealizado pelo poeta José Carlos Capinan, o curador e artista plástico Emanoel Araújo, o historiador Ubiratan Castro, o historiador Jaime Sodré e o advogado Carlos Augusto Marighella como um centro de preservação, difusão e disseminação da cultura afro-diaspórica nas Américas.
O Muncab foi inaugurado em 2009 com a exposição “O Benin está Vivo”, tendo sido definido como um “museu em processo”. Situado no Centro Histórico de Salvador, o equipamento ocupa um imóvel de cinco andares, com quase 5.000 m², na antiga sede do Tesouro do Estado, inaugurada há 100 anos, em 6 de julho de 1923.
Vencedor em 2019 do Prêmio Cultura Popular, do Ministério da Cultura, o Muncab possui um acervo permanente no qual se destacam obras de Mestre Didi, Yedamaria, Agnaldo dos Santos e J. Cunha (que também assina o gradil do museu) e tem desenvolvido atividades como exposições temporárias, palestras, oficinas, exibições de filmes e eventos anuais, a exemplo da Trezena de Santo Antônio e do Caruru do Erês.
O museu dispõe ainda de um app de realidade aumentada em três idiomas e promove o Projeto Erês (que conta histórias da mitologia africana para crianças do Ensino Fundamental).
A Prefeitura de Salvador, através da Secult, firmou em junho deste ano uma parceria com a Sociedade Amigos da Cultura Afro-Brasileira (Amafro) para compra de acervo e execução das obras pendentes do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab).
* Por N.R.