A mandioca, a guerra e a segurança alimentar do Brasil e do mundo

Brasil News

José Reynaldo Bastos da Silva – Domingo, 10 de abril de 2022

A mandioca não depende do uso de fertilizantes caros, importados mais caros ainda em época de guerra. É planta genuinamente brasileira, que serve de alimentos diversos, para a pessoa humana e animais fontes de proteína, descrita nas lendas brasileiras como a raiz de Mani, a menina índia de cujo túmulo brotou no imaginário dos nossos ancestrais.

Não sofre com veranicos por ser uma planta rústica que só precisa de água para germinar e resiste às mudanças climáticas e até mesmo se houver aquecimento global. É fonte estratégica em segurança alimentar contra a fome e a guerra. É também fonte de energia de álcool e substitui o trigo como já o foi na Segunda Guerra. Cultura de baixo investimento e baixo risco de produção.

Só precisa de um Plano Nacional com incentivos para aumentar a área de plantio, a produção e a produtividade agrícola. O Brasil já foi o maior produtor mundial de mandioca nos anos 60/70, com algo em torno de 30 milhões de toneladas/ano; atualmente reduzidas para 18 milhões de toneladas/ano. A população brasileira, no mesmo período, saltou de 90 milhões para 213 milhões de habitantes. Enquanto a população cresceu 137%, a produção de mandioca encolheu 67% sem um fundamento lógico; apenas inteligível pela mania brasileira de valorizar o que vem de fora sem olhar para dentro e enxergar que aqui temos melhores opções. Atualmente ainda é o quarto produtor mundial, sendo superado pela Nigéria, que tem autoconsumo, Tailândia e Indonésia, que exportam quase toda a produção na forma de fécula, pellets e derivados diversos para a Europa e Ásia. O Vietnã também se tornou um grande produtor e exportador com as lições que tirou da guerra. Somente a Tailândia fatura algo em torno de dois bilhões de dólares/ano com exportações de mandioca para a China e a Europa na forma de pellets e destinando-se para a transformação em álcool e uso na pecuária confinada, respectivamente.

As manivas de plantio foram levadas dos índios brasileiros pelos portugueses colonizadores para a África e a Ásia rumo à Índia nos séculos XVI e XVII e lá se radicaram literalmente. Contudo, nos níveis atuais de produção, o agronegócio de mandioca, no Brasil ainda garante uma receita bruta anual de 2,5 bilhões de dólares e 1 milhão de empregos diretos. Se retomar os níveis de produção de 50 anos atrás, poderia contribuir com 5 bilhões de dólares anualmente e 2 milhões de empregos diretos, no campo e em pequenas cidades do interior.

O Brasil tem solo e clima ideal para produzir mandioca em todas as regiões o ano inteiro. Cultura típica do pequeno produtor, da agricultura familiar e dos assentamentos da reforma agrária, caminha sobre as próprias pernas, sem o justo reconhecimento governamental. As empresas transnacionais operadoras de produção e vendas de insumos, maquinários e equipamentos também não se importam com a mandioca porque naturalmente a cultura é pouco usuária desses itens, dada à sua singularidade de baixa demanda e sustentabilidade ambiental tropical.

A mandioca anda de mãos dadas com a mineração. O ferro exportado pelo Brasil a utiliza em seus processos de concentração e enriquecimento de teor, tal qual os fosfatados minerais fertilizantes da diversificada agricultura brasileira. O pão-de-queijo, de queijo só tem o recheio, enquanto o hospedeiro é produto de mandioca. A tapioca é mandioca pura da boa, sem glúten, diet light. Os sumérios, que primitivamente dominaram a cultura do trigo na Mesopotâmia, têm a mesma idade ancestral dos tupiniquins brasileiros que primitivamente dominaram a cultura da mandioca na Amazônia. Em tempo de guerra, cada país olha para dentro de si mais do que para fora. Quem sabe agora se descubra na mandioca o mais brasileiro dos alimentos muito antes do descobrimento do próprio Brasil. Não por acaso, a própria Organização das Nações Unidas (ONU) declarou a mandioca o alimento do século XXI.

Fone: Bonifácio

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