O servidor licenciado da Funai Bruno Pereira, que sumiu durante viagem pela Amazônia junto com o jornalista colaborador do jornal britânico “The Guardian” Dom Phillips, havia enviado um áudio informado que voltaria no dia 6 de junho, esta segunda-feira. O áudio foi obtido com exclusividade pelo podcast “O Assunto”.
“Eu tô entrando no mato amanhã. Daqui a uns 15 dias ou menos até eu tô por Atalaia do Norte. E chego dia 6”, disse o indigenista.
O sumiço de Bruno Pereira e de Dom Phillips ganhou repercussão internacional, chamando a atenção para o desastre em curso no território que abriga a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo. A região vive conflitos de indígenas com garimpeiros, pescadores e caçadores ilegais, além de tráfico de drogas e armas.
Os dois homens têm larga experiência em transitar na região. Eles foram vistos pela última vez na manhã do domingo a caminho de Atalaia do Norte (AM), perto da fronteira com o Peru.
Na viagem, Dom esperava colher depoimentos de moradores, permanentemente ameaçados por garimpeiros, madeireiros e todo tipo de atividade ilegal.
Estado omisso e criminalidade
Em entrevista a Renata Lo Prete em “O Assunto”, o procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliesio Marubo, afirmou que o estado brasileiro tem sido omisso com os povos indígenas.
“A própria Funai é um reflexo disso. A Funai [está] desmantelada, sucateada e cada vez mais sofrendo com vários tipos de ações da parte do governo para desmantelar cada vez mais para retirar orçamento, todo tipo de negligência que o governo federal tem feito com a Funai”, disse Marubo.
De acordo com o representante da Unijava, a região tem ficado à mercê de todo tipo de crime. “Na região de fronteira, a caça e pesca ilegais têm servido para lavar dinheiro do narcotráfico. Já falei [isso] pras autoridades, já tive oportunidade de falar pros procuradores da República, que, aliás, não ficam aqui. Já falei com delegado da Polícia Federal aqui também.”
O jornalista Rubens Valente, autor do livro “Os Fuzis e as Flechas”, sobre ataques a povos indígenas durante a ditadura, também destacou a “O Assunto” o aumento da criminalidade na região.
“O que a gente tem sentido, e também esses servidores que atuam na ponta do sistema como representantes do estado brasileiro [tem sentido], é o crescente clima de insegurança justamente pela ausência do estado nessas regiões”, afirmou.
“Sabemos que vários rios da Amazônia são tomados por facções criminosas que utilizam esses rios para transporte de cocaína e contrabando de armas. Hoje a Amazônia vem sendo ocupada pelo crime organizado, com destaque para o estado do Amazonas. O estado brasileiro tem se omitido”, completou.
“Na ‘nova Funai’”, diz ele, usando expressão adotada no governo Bolsonaro, “o Estado encolheu”, ele resume. Na Amazônia em que o crime organizado ganha terreno, observa Rubens, “jornalistas e funcionários se tornaram mais um alvo”.
Fonte: G1