Violeiro precoce a propagador da canção caipira e regional, Rolando Boldrin carregava no peito a eterna criança, disse João Batista de Andrade
Em dia trágico para a música e a cultura, o cantor, compositor e ator Rolando Boldrin morreu na última quarta-feira (9) em São Paulo. A confirmação é da assessoria do artista, apresentador do programa Sr. Brasil, na TV Cultura. A causa da morte não foi informada. Boldrin tinha 86 anos, completados em 22 de outubro, e era natural de São Joaquim da Barra, no interior paulista. Aprendeu a tocar viola ainda adolescente e migrou para capital aos 16 anos, estimulado pelo pai e viajando em carona de caminhão. O velório será realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo, em horário a se confirmar.
Rolandro Boldrin atuou no cinema antes de se tornar um artista famoso – em Doramundo (1978), de João Batista de Andrade – e depois, em O Tronco (1999), do mesmo diretor. Mais recentemente, participou em O Filme da Minha Vida (2017), de Selton Mello. Trabalhou também em diversas novelas.
“Sou fundamentalmente um ator, esse tem sido meu trabalho a vida inteira; radioator, ator de novela, de teatro, de cinema, um ator que canta, declama poesias e conta histórias”, dizia Boldrin.
Eu, a viola e Deus
Mas se tornou um artista muito popular após comandar Som Brasil, na TV Globo, no início dos anos 1980. Inspirado no pioneirismo de Inezita Barroso, também na TV Cultura, levou para a televisão artistas consagrados e jovens da canção sertaneja de raiz. Dividia o palco entre canções e causos, com Ranchinho (da dupla com Alvarenga, que tocou junto dos anos 1930 aos 1970). Apresentaria depois, em estilo semelhante, Estação Brasil (Gazeta), Empório Brasil (SBT) e Empório Brasileiro (Band).
Antes disso tudo, ralou muito. Ao chegar em São Paulo, no início dos anos 1950, trabalhou como sapateiro, frentista, garçom e balconista de farmácia. Somente no final da década, em 1958, conseguiu mostrar a voz e a viola à extinta rádio Tupi, de onde deslanchou e não parou mais.
Também é de João Batista de Andrade o documentário Eu, a Viola e Deus, sobre Boldrin. O filme foi produzido para marcar os 85 anos do artista, com o título que vem de uma se suas composições. O longa reconta sua viagem por meio da música e das artes desde a infância.
“Gosto muito do Boldrin e ele sempre emociona. O filme traz diversos momentos dessa emoção”, disse o cineasta.“E em tudo carrega no peito a criança revelada na dupla sertaneja com o irmão.” Andrade se refere à primeira aventura musical do artista, a dupla Boy e Formiga – ele o Boy e seu irmão Leili, o Formiga – quando tinha 12 anos, ainda em São Joaquim da Barra, fazendo sucesso nas rádios locais.
Com informações da TV Cultura
Vide Vida Marvada
Rolando Boldrin
Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoas que eu choro são mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi santa e purificada
Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho a ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando essa vida marvada
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remédio pros meus desenganos
É que a viola fala alto no meu peito, humano
E toda mágoa é um mistério fora deste plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pruma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê
Tem um ditado tido como certo
Que cavalo esperto não espanta a boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando essa vida marvada
Cumpadi meu que envelheceu cantando
Diz que ruminando dá pra ser feliz
Por isso eu vaqueio ponteando
E assim procurando a minha flor-de-lis