Pesquisa nacional mostra que empréstimos das classes C, D e E são para comprar comida

Brasil economia

O professor José Carlos de Souza Santos comenta trabalho do Instituto de Pesquisas Plano CDE, que rastreou a inclusão financeira da população de baixa renda nos últimos quatro anos

Texto: Redação – Domingo, 11 de dezembro de 2022

Arte: Rebeca Fonseca

Radio USP

pesquisa do Instituto de Pesquisas Plano CDE busca mapear os desafios de inclusão financeira dos últimos quatro anos, com foco na população que tem renda familiar per capita de até R$ 2 mil mensais – as classes C, D e E. “O planejamento é essencial, você deve colocar na ponta do lápis tudo o que você gasta”, diz o professor José Carlos de Souza Santos da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP.

Aproximadamente 50% das famílias brasileiras apelaram para um empréstimo em 2021, utilizado para comprar comida e pagar contas, como luz e água. Esse é um cenário preocupante, já que esse tipo de operação possui taxas cumulativas a serem pagas nos meses subsequentes, pesando ainda mais no orçamento.

Razões

As classes C, D e E somam cerca de 140 milhões de brasileiros. Santos alerta para a problemática de pegar empréstimos recorrentemente: “Quando você tem uma situação que leva as famílias a pegar algum empréstimo para pagamento de gastos básicos, é realmente uma situação ruim. Mas eu diria que isso não pode ser uma prática recorrente como solução para essas famílias. Você não pode, todo mês, tomar um empréstimo para pagar algum desequilíbrio financeiro: isso tem que ser algo que acontece esporadicamente. Esse empréstimo vai ter que ser pago nos meses subsequentes”.

Muitas pessoas ficaram desempregadas durante o período da pandemia. O  professor acrescenta: “Em 2020, no auge da pandemia, nós tivemos milhões de famílias que perderam sua atividade principal e o governo foi obrigado a prover para essas famílias, não só famílias de baixíssima renda, mas famílias cuja atividade econômica foi interrompida, como taxistas, garçons. Durante esse período de 2020 e no início de 2021, foi essencial para a sobrevivência da população. Além disso, o governo colocou políticas de manutenção de emprego. Nós tivemos um aumento muito grande do número de desempregados ao longo de 2020, em 2021 isso já diminuiu e em 2022 está diminuindo mais ainda”.

José Carlos de Souza Santos – Foto: FEA/USP

Empréstimo

As formas de realizar o empréstimo também impactam no orçamento das pessoas e, embora seja bem mais fácil e comum utilizar cheque especial e cartão de crédito, é preciso cuidado, pontua Santos: “As mais simples e imediatas são o cheque especial e o cartão de crédito: você não precisa pedir, você tem um cheque especial ou tem acesso a um cartão de crédito, você pode tomar um empréstimo imediatamente. Porém, as taxas são as mais altas possíveis: se você entrar num processo de endividamento com cartão de crédito ou com cheque especial, você tem taxas que, por vezes, podem chegar a 7%, 8%, 10% ao mês. Conseguir sair desse empréstimo fica difícil”.

O professor ainda coloca que o empréstimo consignado é o que mais compensa por ter as taxas de financiamento mais baratas. “O banco tem menos incerteza com relação ao pagamento, você tem pouca inadimplência comparativamente às outras formas. Eu diria o seguinte: se você precisa fazer um empréstimo de médio a longo prazo, faça, por exemplo, um empréstimo consignado.”

Educação financeira

O professor José Carlos de Souza Santos é coordenador do Serviço de Orientação Financeira da FEA-USP. Eles analisam e dão sugestões de soluções para casos de endividamento e como deve ser feito o planejamento para médio e longo prazo.

Fonte: Jornal USP

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