O professor Carlos Roberto Bueno Júnior explica por que, atualmente, jovens de 15 e 16 anos desenvolvem mais cedo suas capacidades físicas
Por Eduardo Nazaré – Quarta, 23 de janeiro de 2023
Antigamente apenas atletas excepcionais como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Neymar apareciam nos times profissionais ainda muito jovens, embora muito franzinos. Hoje em dia, jovens de 16 anos, como o garoto Endrick, do Palmeiras, além da qualidade técnica, possuem uma capacidade física acima da média de suas idades, fator que pode ser explicado pela alimentação, tecnologia e individualização de treinamentos e a quebra de um antigo paradigma de que adolescentes não podem realizar exercícios de musculação.
Para o professor Carlos Roberto Bueno Júnior, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, o esclarecimento de alguns mitos ajudaram na evolução física. Segundo o professor, hoje, é claro na literatura científica que não há nenhum risco que justifique adolescentes não realizarem treinamento de musculação e é possível que atletas tenham maior massa muscular preservando a alta velocidade e a agilidade.
A predisposição genética pode ser um fator importante para que esses jovens tenham capacidades físicas avançadas, mas, segundo Bueno Júnior, não é determinante para o desenvolvimento precoce. Ele indica que se trata de um conjunto de diferentes fatores e intervenções mais qualificadas nas áreas de nutrição, treinamento e até prescrição e controle de sono e descanso. Outro fator é a maior utilização da ciência e de tecnologias para avaliações físicas e para essas intervenções como medida de força e velocidade aplicadas em cada movimento, além dos ângulos de articulações e variáveis cardíacas capazes de predizer a fadiga e a intensidade do treinamento.
Alta demanda esportiva
Atualmente, explica Bueno Júnior, modalidades esportivas como futebol, vôlei e basquete demandam um preparo físico e uma força muscular muito superiores ao que era exigido há poucas décadas. Uma evidência disso é que praticamente todos os atletas de uma equipe se preocupam com as ações de ataque e de defesa de seus times.
Um trabalho publicado em 2015 pela Escola Universitária de Educação Física de Poznań, na Polônia, calcula que, nos anos de 1960 e 1970, um jogador de futebol percorria entre quatro e cinco quilômetros durante os 90 minutos em campo e atualmente a distância percorrida é cerca de três vezes maior.
Bueno Júnior diz que atletas que se desenvolvem com menor idade têm essa relação com as demandas físicas das modalidades esportivas e com a eficiência das intervenções profissionais às quais eles são submetidos. “À medida que os anos passam, a velocidade que um jogador de futebol corre, por exemplo, é cada vez mais próxima de um corredor profissional”, afirma o professor.
Treinos individualizados e possíveis danos à saúde
Cada atleta pode responder de forma diferente a um tipo de treinamento, conforme diz Bueno Júnior, e, por conta disso, a intervenção deve ser individualizada. No entanto, isso não justifica o profissional criar um programa sem fundamentação, é primordial considerar dados da literatura científica e do próprio histórico de cada atleta, mas, segundo o professor, ainda são poucos os profissionais que conseguem fazer isso com qualidade.
Quanto a riscos à saúde dos jovens atletas a médio e a longo prazo, Bueno Júnior diz que não há estudos suficientes sobre o assunto, mas, se o treinamento é realizado por profissionais qualificados, os riscos de lesões ósseas, musculares e articulares, além de problemas cardíacos que podem ser causados por utilização de esteroides anabolizantes, por exemplo, são diminuídos.
Bueno Júnior conclui que os profissionais devem ficar atentos também ao excesso de treinamento, que se manifesta inclusive por redução do desempenho, porém, indica que “talvez o maior desafio do atleta adolescente seja manter o seu equilíbrio emocional por causa das expectativas que são geradas e da pressão pela manutenção dos resultados. Isso tem relação com medo do fracasso, expectativa exagerada dos pais, a aproximação “violenta” de empresários e patrocinadores e cobranças nas redes sociais; até o comportamento fora das quatro linhas tem grande peso na carreira do atleta.”
Fonte: Jornal USP