Pressentimento

Dhonatas Silva

Por Dhonatas Silva – Colunista (Ipirá City)

Quando nos apaixonamos por alguém pela primeira vez, temos a sensação
de que o sentimento durará pra sempre, não é verdade? Algumas vezes até
acontece.

E quando é pra valer, esse sentimento transforma-se em amor, e é a partir
de então que acreditamos ter finalmente encontrado o grande amor da nossa vida.
Laura era uma adolescente muito bonita, de personalidade forte, dona de um sorriso
encantador. Ela amava maquiagem, tanto que todos os dias após o colégio ia para o
salão da tia Helena, para observa-la trabalhando, enquanto enfeitava as bonecas
com seu kit de maquiagem, já havia escolhido qual profissão seguir quando se
tornasse adulta.

Era praticamente impossível que um garoto com a mesma faixa
etária de idade que ela, a visse e não se apaixonasse pelo brilho daquele olhar. Levi
se interessou por ela, agora os outros rapazes da escola não tinham mais chances
com aquela linda garota, afinal, ele era bastante popular por fazer parte do time de
futebol da escola e por ter as famas de mulherengo e de valentão. Antes mesmo de
conversar com Laura, Levi tratou de comunicar ao time de futebol que estava em um
relacionamento com ela.
─ Então rapaziada, é o seguinte, estou saindo com a Laura e não quero saber
de ninguém olhando pra minha mina, entenderam bem?
Todos concordaram sinalizando com a cabeça, parabenizaram-no, mas
ficaram sem entender como ele estava namorando com ela sendo que nunca foram
vistos juntos. Mas não questionaram nada. Nathan, amigo de Laura, que estava
atrás da porta da sala, ouviu tudo, e correu pra conversar com a amiga, queria
certificar a veracidade do que acabara de ouvir. Nathan guardava um grande
segredo, que só sabiam ele e Levi. Assim que encontrou a amiga, ele a interrogou.
─ Amigaaaa, fiquei sabendo de um babado ali agorinha, está quentinho,
chega minha língua tá queimando.
─ Oi Nathan, fala ai, estou indo pra o salão de tia Helena, me acompanhe e
me conte no caminho. É sobre a fanfarra que virá se apresentar aqui na cidade na
semana que vem? Se for, não me diga que aqueles gatinhos da capital virão
novamente, pior que agora só estou tendo olhos pra uma pessoa.
─ Mulher, cala a boca um pouco e deixa-me falar, meu Deus do céu. Que
sobre fanfarra o que, vim pra falar de um caso à parte, sobre o Levi.
─ Levi? Mas o que é que tem ele? Aconteceu alguma coisa? Anda Nathan,
fala!
─ Se você deixar… Meu amor, vocês estão namorando? Primeiro quero que
me responda isso, depois te conto o resto.
─ Ah… Quem me dera, é meu sonho de consumo, era ele a quem me referia
quando disse que só estou tendo olhos pra uma pessoa. Você acha mesmo que se
eu estivesse namorando com ele, eu não teria te contado? Amigo eu te conto tudo,
simplesmente tudo, assim como você também me conta, não é verdade?
─ Cla-cla-claro né amiga, cê sabe que não te escondo nada. Que homem viu,
por um daquele ali eu faria tudo. Lavava, passava, cozinhava, e no quarto nem
preciso falar. (RISOS)
─ Então amigo, já te respondi, agora me fala.
Nathan desconversou, disse que precisava ir e que depois eles se falavam,
Laura insistiu, mas ele saiu correndo e a deixou morta de curiosidade. Enquanto
isso, Levi estava criando coragem para falar com Laura.

Ela ao longo dos seus 16
aninhos só havia beijado uns 3 garotos, e ele com 18, já tinha feito um arrastão no
colégio, mas demonstrava sentir algo diferente por Laura, algo que nunca havia
sentido antes por nenhuma outra garota. Há noite, Nathan resolveu ligar para Levi,
queria conversar sobre Laura.
─ Alô!
─ Oi nego, tudo bem?
─ Fala Nathan, qual foi?
─ Então gato, deixa eu te falar. Eu ouvi sua conversa hoje com o restante do
time e fui conversar com Laura?
─ Conversar o que mano? Tá maluco? O que é que você tem a ver?
─ Tudo né vida? Fui saber o que ela pensava sobre você, e descobri que ela
está completamente arreada os quatro pneus. (RISOS)
─ É sério? Tá de tiração com a minha cara? Se eu for até aí eu te quebro todo
viu meu?
─ Quero ser seu mesmo, meu anjo. Tenho uma proposta pra te fazer?
─ Aiaiaiai, proposta? Que proposta?
─ Lembra daquele nosso segredinho? Então, se você vier aqui agora e me
quebrar todinho igual fez da última vez, ajeito tudo pra você e ela ficarem juntos.
─ Demorô, tô chegando!
No dia seguinte, Nathan resolveu cumprir a parte dele do trato, marcou com
Levi e Laura para irem ao seu encontro no fundo do colégio. Laura chegou primeiro
que os dois. Não demorou muito para Levi aparecer.
─ Oi Laura tudo bem, o que faz aqui?
Laura ficou trêmula, nunca havia chegado tão perto assim de Levi, suas mãos
transpiravam, as palavras mal saíam.
─ O-o-olá Levi, estou bem, e você? É-é, estou esperando o Nathan, é meu
melhor amigo, sabe quem é né?
─ Há tá, sei sim, mas não tenho muita proximidade, só conheço de vista
mesmo. Ele assim como você gosta de maquiagem não é mesmo? (RISOS)
─ É sim, ele não é de se atrasar, vou mandar mensagem.
Antes que Laura pusesse a mão na bolsa para pegar o celular, Levi a roubou
um beijo, daquele que ela nem sabia que existia. Com a mão esquerda ele
entrelaçou os dedos na mão direita dela, enquanto sua mão direita viajava,
alcançando cada centímetro possível do corpo de Laura. Ela estava molhada. Pra
ela tudo aquilo era novidade, já pra ele, só mais um corpo a ser provado.

Após o longo beijo, Laura saiu correndo sem dizer para onde iria, nem ela mesmo sabia.
Levi ficou estático no mesmo lugar, passando os dedos nos lábios e reprisando na
mente o que acabara de acontecer por uns 2 minutos, parecia mesmo que pra ele
aquele beijo tinha significado alguma coisa.
Já em casa, deitada, Laura lembrou do beijo e decidiu se tocar. Voltou a sentir
a mesma sensação que sentira no momento do beijo, mas a intensidade daquele
momento foi aumentando conforme ele ia se autoconhecendo, estava sentindo
coisas que nem sabia que eram possíveis, imaginou Levi ali com ela, chamava o
nome dele baixinho, enquanto utilizava os dedos lentamente, e os lençóis tornavamse evidencias daquele momento único.

Ela gozou e adormeceu. No dia seguinte, um
sábado, mesmo sendo um dia de bastante movimento no salão, como ainda não
tinha funcionários, Helena resolveu deixar o salão fechado. Ela iria para uma cidade
vizinha fazer um curso de maquiagem, para se capacitar ainda mais, e já pensava
em direcionar um futuro parecido para a sobrinha. Helena deixou a chave do salão
com Irene, mãe de Laura. Ela que estava deitada no quarto, ouviu o momento em
que a mãe recebeu as chaves das mãos da tia, logo, em sua mente, teve uma ideia
mirabolante.


Ambos conseguiram o que tanto queriam, um momento a dois. Para Laura,
seria a oportunidade de se entregar para aquele que fazia seu coração bater mais
forte, enquanto para Levi, apenas mais uma oportunidade de tirar mais uma
virgindade, que para ele, enquanto grande garanhão entre os amigos, seria como
ganhar mais um troféu de interclasse. Laura seria capaz de fazer Levi gostar de
alguém de verdade?
Nathan estava online, então Laura tratou de mandar um print da conversa
para o amigo, deixando-o atualizado.


Após confirmar o encontro com Levi e atualizar Nathan sobre as novidades,
Laura foi fazer umas comprinhas, já fantasiando em sua mente, de como mais ou
menos poderia ser o encontro, ela iria preparar o cenário, mas como realmente iria
ser, ela não poderia imaginar, afinal, nunca havia transado antes. Comprou um
vinho, foi a um Sex Shop, explicou para a atendente que seria sua primeira vez,
então a moça lhe aconselhou a comprar uma lingerie para excitar e chamar ainda
mais a atenção do parceiro, lhe ofereceu também um lubrificante, mas este segundo
Laura não aceitou, e brincou.
─ Mulher, eu já fico molhada só de ver ele, pra quê eu vou querer lubrificante?
Sou virgem, mas minhas amigas me contam alguns segredinhos. (RISOS)
Assim que Laura retornou pra casa, Irene tratou de perguntar se ela estava
lembrando do aniversário de 96 anos da avó dela, por ser a neta preferida de dona
Maria, sua presença era imprescindível. Laura confirmou a presença, mas ressaltou
que chegaria um pouco atrasada, pois tinha um trabalho de química pra fazer, e que
inclusive Nathan iria até lá para ajudá-la. Irene concordou, mas chamou a atenção
para que ela não deixasse de ir, pois a avó estava com a saúde cada vez mais
debilitada. Laura teve outra ideia, essa bem mais louca que a primeira.

Às 19 horas,
Irene tinha acabado de sair, a rua estava deserta, a maioria dos vizinhos foram para
o aniversário de dona Maria. Laura olhou na direção do salão e viu que Levi já
estava a sua espera, então mandou mensagem pedindo para que ele vinhesse para
sua casa, pois estava sozinha. Claro que ele não se importou nem um pouco, e
seguiu pra lá. Entrou.
─ Então Levi, aceita uma bebida?
─ Claro linda, nem sabia que você bebia. ─ Falou e encarou-a com um olhar
malicioso.
─ Não bebo, mas a ocasião é favorável. (RISOS)
Beberam algumas taças de vinho. Laura já estava grogue, Levi percebeu e
resolveu atiça-la. Chamou-a para ir pro quarto, ela prontamente aceitou. Ele
começou a beijá-la e acariciá-la. Tirou toda a roupa dela, que já estava
completamente entregue. Ele aproveitou o momento, enquanto ela não tinha o
controle da situação. Ela sentia dor. Levi percebeu, mas como por parte dele não
havia sentimento algum, não se importou. Com certeza não foi daquele jeito que ela
imaginou a primeira vez. Enquanto isso Nathan passou de moto em frente a casa de
dona Maria, onde estava acontecendo o aniversário, Irene não hesitou em chamá-lo.
─ Nathan, está indo lá pra casa? Porque vocês não deixam para fazer esse
trabalho amanhã, eu faço uma lasanha e você já aproveita e passa o domingo com a
gente.
─ Oi? Que trabalho dona Irene?
─ Ué você não tava indo lá pra casa? Mas Laura me falou que… Ah esquece.
─ Aaaaaaaah, o trabalho. É eu me atrasei, estou indo pra lá agora sim. Faz
assim então, eu vou buscar ela e amanhã fazemos o trabalho, e a senhora faz
aquela lasanha M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A, a senhora arrasa dona Irene.
Irene ficou confusa, percebeu que algo de errado não estava certo. Nathan
captou o que estava acontecendo e seguiu para a casa de Laura. Chegando lá,
sentiu um clima estranho logo na chegada, o portão estava aberto, a porta
escancarada.
─ Laura? Amiga? Tem alguém aqui? Meu Deus do céu. Laura?
Quando ele chegou no quarto da amiga ela estava despita e desacordada.
Lingerie de um lado, preservativo usado do outro, e um cheiro forte de vinho
tomando conta do quarto. Ele pegou-a no colo e levou-a para o banheiro, colocou-a
de baixo do choveiro, até que ela começou a voltar a si.
─ Levi? O que aconteceu? Porque eu tô sangrando?
─ Que Levi o que mulher, te apruma! Levi uma hora dessas já deve estar
dormindo com outra. Oia, deixa minha boca quieta.
─ Não, ele deve ter ido buscar socorro, deve ter ficado apavorado quando me
viu sangrando, liga pra ele, talvez tenha acontecido alguma coisa no caminho.
─ Minha Nossa Senhora da Paciência, mas Laura você bebeu vinho ou usou
droga? Acorda pra vida meu amor! Ele te usou e caiu fora, entendeu ou quer que eu
desenhe? Anda, toma um banho rápido pra ir pro aniversário de sua avó.
Nathan ajudou Laura com banho, ela mal conseguia ficar de pé. Foram pro
quarto e o lençol estava com uma enorme mancha de sangue, Nathan colocou numa
sacola e se encarregou de dar um fim naquele vestígio de uma noite inesquecível
para Laura. Se positiva ou negativamente, Nathan só iria saber quando ela
finalmente retomasse a consciência. Laura demorou tanto para vestir a roupa que
quando se aprontavam para sair, Irene já estava chegando em casa.
─ Muito bem meninos, só faltaram vocês na festa, e não foram por quê? Pra
fazer um trabalho que poderiam fazer amanhã, não é mesmo? Sua avó passou a
festa toda perguntando por você mocinha, espero que amanhã cedo, você vá vê-la e
se justifique da ausênsia, daquela que pode ter sido a ultima festinha de aniversário
dela, enfim, se me dão licença irei dormir, boa noite.
A bronca de Irene cortou a lombra de Laura na hora, um feito que nem
mesmo o banho gelado foi capaz de fazer. Nathan decidiu colocar a moto na
garagem e passar a noite com a amiga. Mas o tempo em que ele saiu e abriu o
portão foi o suficiente para um garotinho, filho de uma das vizinhas, chegar gritando
e chamando por dona Irene para comunicar o falecimento de dona Maria. Irene
desmaiou. Laura saiu correndo desesperada em direção a casa da avó, a sua a
mente estava uma bagunça. A dolorosa transa, seguida de abandono, a ausência na
festa por conta da maldita transa. Quando viu dona Maria morta, sua primeira reação
foi ajuelhar-se aos pés e pedir desculpas. Por dentro ela sangrava de
arrependimento e dizia pra si mesma que nunca se perdoaria.

Fim

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