Por Thaís Ferreira – Sexta, 8 de outubro de 2021
A moqueca de aratu da Barra do Itariri que deu pano pra manga nos stories… Para mim, é uma comida de Altíssima Gastronomia e elegantemente sofisticada. É um produto genuinamente feminino que traz renda e auto estima para as mulheres da Barra.
As mulheres saem de barco, de manhã cedo para pegar os aratus no mangue, cantar é a técnica infalível para que o crustáceo seja atraído para as iscas. Em casa, elas catam os mariscos e preparam com tempero simples (temperos combinados na medida certa, valorizando o sabor do aratu), enrolam os mariscos catados e temperados em folhas de coqueiro diferenciando as amarrações (amarrado com a palha maior, tem pimenta; com a palha menor, não tem pimenta).
Elas assam em fogo de chão, brando, feito com coquinhos secos, para garantir o ponto perfeito do aratu, sem que ressequem. A cocção não é demorada. Assados, elas juntam em uma vasilha e saem para vender na praia. A disputa é grande.
Chamam de moqueca, mas penso que esse nome não vem da moqueca em si, da clássica que conhecemos que mais se assemelha a uma caldeirada, e sim da técnica de preparo que é o moquem. Herança indígena de cocção para conservação do alimento. Tá aí esse nome moqueca {moquem}. Temos preparações parecidas em muitos outros lugares da Bahia e o nome é o mesmo. Mais uma comprovação da forte herança indígena na nossa alimentação, mesmo alguns dizendo que é pouca, se comparada com a negra e a portuguesa.
Me chama atenção quando @masterchef e afins apresentam alguma coisa relacionada a comida indígena e puxam somente para o Norte do país. Tucupi, farinha d’água, açaí… são importantes marcadores da Gastronomia Indígena no país, mas não não são os únicos. Não podemos esquecer dos indígenas do litoral e do sertão que povoaram esse território brasil.
Mesmo com todo massacre, a cultura indígena na Bahia, ainda existe. Mesmo que, hoje, se pesque aratu cantando música gospel, a cultura da pesca de aratu ainda resiste. Ainda que seja apagada, a cultura indígena do sertão e do litoral se faz presente. Ainda que não se queira, o chimarrão é herança indígena. Mesmo com tantos escambos, ainda precisamos de espelhos.