Sexta, 28 de Outubro de 2022
por Victoria Azevedo, Catia Seabra, Marianna Holanda e Matheus Teixeira | Folhapress
Aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avaliam que a pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (27) consolida a vantagem do petista e indica um acerto na estratégia adotada pelo campanha de dar centralidade a temas econômicos. Do lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), auxiliares persistem na estratégia de tentar desacreditar os institutos de pesquisa.
Reservadamente, porém, reconhecem dificuldades nos dias finais do segundo turno por causa de dois episódios: os disparos do aliado Roberto Jefferson (PTB) contra agentes da Polícia Federal e a revelação, pela Folha de S.Paulo, do plano do ministro Paulo Guedes (Economia) de desindexar o salário mínimo -permitindo assim reajustes abaixo da inflação.
O deputado federal José Guimarães (PT-CE), que tem um assento na coordenação da campanha do PT, avalia que o Datafolha revela um “acerto” na estratégia de “discutir os problemas do país e da vida do povo”.
“As pesquisas tanto internas como externas estão consolidando uma dianteira razoável. Significa uma margem de milhões de votos. Mas claro que a campanha não terminou. Temos que trabalhar. Percebo a militância nas ruas”, afirma.
Segundo o ex-governador e senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), a proposta de Guedes para flexibilizar a correção obrigatória do salário mínimo e das aposentadorias “teve enorme força” para o avanço de Lula entre os mais pobres.
“O vazamento do plano do Guedes teve enorme força, porque é congruente com o conjunto da obra: ausência de aumentos reais nos últimos anos e declarações contra os pobres que ele próprio deu em profusão”, diz Dino.
O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) opina que a parcela mais pobre da população percebeu que “com Bolsonaro eles vão perder”.
“Todo debate que o Lula fez é o da valorização do salário mínimo acima da inflação. E o Bolsonaro, às vésperas da eleição, passou a fazer um debate de não valorizar o salário mínimo.”
O parlamentar afirma ainda que a campanha acertou ao não fugir do debate econômico e não ter “mordido a isca” de Bolsonaro, que queria “entrar no debate moral”.
A distância do petista para o atual mandatário cresceu em uma semana de 20 para 28 pontos percentuais entre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos (R$ 2.424), variação acima da margem de erro de dois pontos (para mais ou para menos), considerando um nível de confiança de 95% do levantamento.
No Datafolha, o petista passou de 57% para 61% das intenções de voto desse segmento, enquanto o presidente caiu de 37% para 33% em relação ao levantamento anterior. Os que pretendem votar em branco ou anular são 4% e os indecisos, 3%. No resultado geral, o placar medido está em 49% a 44% a favor de Lula.
Na campanha de Bolsonaro, aliados trabalham para que os resultados do Datafolha e de outras pesquisas divulgadas nesta semana não contaminem assessores e militantes.
Desde o fim do primeiro turno, quando o presidente teve desempenho acima das principais pesquisas na véspera da eleição, bolsonaristas intensificaram os ataques contra institutos de pesquisa. Eles ainda desencadearam uma ofensiva no Congresso para investigar essas empresas.
O caso envolvendo Roberto Jefferson e o vazamento do plano econômico de Guedes são vistos como especialmente danosos politicamente.
As acusações de que Bolsonaro pretende conceder correções abaixo da inflação tem sido frequentemente exploradas pela campanha do PT.
Embora desacreditem o resultado do Datafolha e falem em discrepância dos números com levantamentos internos, o temor de interlocutores do presidente é que a exploração do tema salário mínimo por Lula tenha surtido efeito, o que se reflete na perda apoio entre os mais pobres.
O presidente teve de gastar boa parte de sua última semana para rebater as críticas do PT sobre o assunto. Aliados do presidente consideram que o tema causou mais estrago inclusive do que a associação com pedofilia por causa do uso da expressão “pintou um clima” para se referir a adolescentes venezuelanas.
Para tentar equilibrar o jogo, Bolsonaro passou a dizer que é alvo de fake news e que Lula vai taxar o Pix. O petista não tem proposta do tipo.
Em relação ao episódio envolvendo Jefferson, Bolsonaro se desgastou pela proximidade com o ex-dirigente do PTB. Chegou a dizer que eles não tinham fotos juntos, o que não é verdade.
Além disso, o que levou à nova prisão do ex-aliado de Bolsonaro foi um vídeo em que Jefferson compara a ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia a uma prostituta. A postura atingiu eleitorado feminino, avesso a agressões do tipo.
Aliados admitem que ele deveria ter tido uma reação mais enérgica no caso e ter defendido a ministra mais cedo, ainda que reconhecendo suas diferenças.
Fonte: Bahia Noticias