As ironias, as crenças e a estupidez politica do negacionismo

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Por Waldeck Alves ( Portal Ipirá City) – Quarta, 3 de janeiro de 2022

A ironia é que um negacionista – que sempre posa de um iluminado que tem uma informação que ninguém tem – é um poço ambulante de contradições , achismos , de ausência de referências para fundamentar o que defende, declarado por argumentos inconsistentes e sem compromisso racional . A estratégia é cartilhesca , o recurso é sempre procurar justificativas ou culpados reais ou imaginários .Para isso serve as teorias conspiratórias , narrativas engenhosamente engendradas para atender as necessidades escapistas diante da realidade .

O negacionismo não se resume apenas a uma batalha de narrativa ideológica partidária ,é também a estupidez em busca de holofotes , a necessidade de identificação em grupo que opera a manipulação com discurso de “militância política” e um espaço para extravasar preconceitos e ódios, justificados dentro de um certo sentido moral de defesa e proteção a alguma coisa ; também não tem como esquecer a mais primitiva das motivações humanas, que é a busca de ganhos financeiros e vantagens políticas na propagação e convencimento da narrativa .

Não se iluda que a motivação do negacionista é pela defesa da vida , no grosso modo, é um movimento que caminha de forma mecânica , sem racionalidade ou empatia com o sofrimento alheio .

A batalha ideológica endurece , emburrece e robotiza .Nela encontramos a disputa pela ” sacralidade ” da ideologia e uma nova medida do valor do ser humano pela identificação política .

Quando um negacionista é afrontando pelo números de mortes pela covid-19 , é automático o desvio de atenção do problema , que ganha outro foco, na defesa de justificativas políticas ou de causas que adequem ao padrão de pensamento defendido mesmo sem ligação nenhuma ao fatos com causa e efeito .

O exemplo de Bolsonaro diante da pandemia é representantivo e caracteriza muito o perfil de um negacionista , sem empatia, em nenhum momento encarou as mortes de frente , o argumento era manter o foco desviado transferindo responsabilidade, procurando culpados e subestimando os números .

O negacionista tem perfis de graduação : alguns são desprovidos de conhecimento e entra no jogo como mero fantoche de uma batalha política , outros são preguiçosos e desonestos intelectualmente, outros de caráter dúbio que encontra na causa o estopim para os ressentimentos e problemas pessoais não resolvidos ; outros, encontram sentido religioso e cósmico na defesa da narrativa

Um estado híbrido da religião instrumentalizada pela política que choca com o seu maior valor que é defesa da vida .

Todos erram escandalosamente pela desinformação ou por transformar um assunto de saúde pública em caprichos ideológicos marcados por mera crenças pessoais , ou por procurar respostas em uma narrativa política ou religiosa em um assunto da ciência; no caso da vacina, comprovada por estudos , experimentos , testes, procedimentos e por números inquestionáveis na redução de mortes desde que foi usada no combate a covid-19.

Só que tem aquele negacionista que pesa mais responsabilidade, por ser formador de opiniões , tem a caneta na mão para autorizar verbas para vacina e ações no combate ao vírus, é o caso de Bolsonaro , um negacionista dissimulado .A exemplo de todos os seus filhos serem vacinados e das dúvidas sobre seu status de imunização , mostra que ele não acredita no que fala , mas procura manter a encenação para tirar vantagem politica em nome da “ coesão do núcleo ideológico “, responsável ainda por mantê-lo como um candidato com chances de ir para o segundo turno .

Outro negacionista que deixou um rastro de mortes e desiludidos foi Olavo de Carvalho . Vendeu livros , ganhou visibilidade e dinheiro com cursos posando como um ” pensador original ” ou ” iluminado no ressurgimento do novo conservadorismo ” em tempos de obscurantismo e degradação de valores .

Olavo de Carvalho , como negacionista e pensador de terceira categoria , não foi símbolo de nenhuma revolução conservadora . Não é pelo conservadorismo ( que tem referência na autoridade e zelo pela tradição) , mas agiu como influenciador de um tempo político do Brasil contemporâneo, que ganhou contornos de expressão de ódio , de um espaço paranóico de problemas imaginários , de um negacionismo Histórico e total ojeriza ao pensamento contrário.

O olavismo é o reacionarismo em estado bruto , a resistência do “idiota político ” em plena modernidade em um ambiente de total e irrestrito acesso a informação .

Olavo foi um estrategista da desinformação e mercantilista de ideias que foram popularizadas pela tônica do ódio em um Brasil fissurado . A constatação da aceitação de suas ideias é a triste realidade de como a política ainda pode ser usada como um instrumento de destruição , propagação da ignorância , sectarismo , ódio , manipulação e defesa de ideias absurdas mesmo em detrimento da vida.

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