Dr. Roberto Badaró

Badaró cita aprendizado chinês e critica pressa para retomar economia: ‘Enxugando gelo’

saúde

Especialista afirma que país asiático soube lidar com pandemia de coronavírus e pode servir de exemplo para evitar novos focos de coronavírus

Por Matheus Simoni no dia 27 de Julho de 2020 ⋅ 09:18

O médico infectologista Roberto Badaró comentou o aprendizado com a forma da China lidar com a pandemia de coronavírus e o que pode ser tomado como exemplo diante da atuação do país asiático. Em entrevista a Mário Kertész hoje (27) na Rádio Metrópole, o especialista comentou três principais diretrizes dos chineses que podem servir de exemplo. 

“Tem um artigo interessante que saiu no Lancet, uma revista forte, que chama a atenção às lições que aprendemos na China. Não podemos desconhecer que os chineses estão sendo culpados, as pessoas ficaram com raiva por eles não terem falado da realidade. As pessoas dizem isso, mas se a gente ver a realidade, uma coisa é opinião e a ciência. Esse artigo mostra quais foram as lições aprendidas com a China. É um país com 1.4 bilhão de pessoas e que a doença começa em dezembro. Em janeiro eles já tinham todas as informações sobre a doença publicadas”, cita Badaró.

“Já tinham quem era o vírus, a epidemiologia, a manifestação clínica toda e tudo. Não sou pró-chinês, minha formação é dentro dos EUA, mas não posso deixar de reconhecer que, assim como a coisa começou lá, eles rapidamente fizeram isso”, comentou.

Ainda de acordo com o infectologista, o investimento do governo chinês foi fundamental para o avanço tecnológico em busca de uma vacina contra a Covid-19. “A segunda coisa que fizeram foi o comprometimento financeiro de bilhões de dólares para pesquisa, mas com envolvimento direto do governo. Determinação direta para que as medidas de controle fossem implementadas e participação completa da população. Não adianta você dar um pouquinho de dinheiro e financiar pesquisa. Um edital sai para cinco projetos e dão R$ 2 milhões. Não vai fazer nada comparado com bilhões necessários para investigar essa doença. Quando você bota o dinheiro, você bota o comprometimento do governo”, afirmou o médico. 

Badaró comentou ainda a participação popular e políticas públicas para informar os rumos da pandemia. Para ele, é fundamental que o governo tenha uma linha direta com o povo para criar um comportamento necessário para erradicar a doença. “A participação do povo na implementação é obrigatória. Primeiro as medidas do governo não podem ser dissociadas de uma discussão com a população e ver qual o nível que ela tem para aquela decisão. Não é abrir com uma decisão política sem um programa educacional, vigilância e programa de restruturação de cada instituição. Cada governo, me perdoem os governantes, eles têm essa responsabilidade de abrir, mas também de educar a população”, classificou. 

Citando os rumos do Brasil na pandemia, Badaró demonstrou preocupação com o sentimento de “enxugar gelo” diante da ineficiência do poder público. Na avaliação do infectologista, todo investimento e estratégia feitos durante esse período inicial de quarentena pode ter sido jogado fora. “Tenho muita preocupação de que a gente fique enxugando o gelo, tenha trancado as pessoas cinco meses em casa e depois as pessoas venham a adoecer porque não foram feitas as medidas de contenção e plano de reabertura adequada. Não faço crítica a nenhum governante, muito pelo contrário. Estou chamando a atenção de que é preciso conhecimento e usar a experiência chinesa”, acrescentou.

Fonte: Metro 1

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