Três vacinas diferentes contra a covid-19 são aplicadas na Bahia — Oxford, Pfizer e Coronavac — e todas elas podem oferecer reações adversas após serem tomadas, o que é considerado comum e normal. Aliás, todas as vacinas que tomamos na vida, como a da gripe, hepatite, antitetânica e a tríplice viral aplicada na infância, têm chances de causar efeitos colaterais, como dor de cabeça. Em Salvador, mais de 1 milhão de doses – primeira e segunda – de algum desses imunizantes foram aplicadas e nenhum caso adverso grave foi notificado, segundo afirma a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Desde que a Pfizer chegou por aqui, neste mês de maio, pessoas passaram a rejeitar a vacina de Oxford devido aos relatos de maior número de reações adversas, mas não faz muito sentido tomar isso como base para escolher qual vacina deseja tomar. OCORREIO ouviu pacientes baianos e pesquisadores para explicar o porquê.
Moradora de Feira de Santana, Maria das Graças Santos, de 62 anos, tomou a primeira dose da vacina de Oxford/Astrazeneca em abril e não percebeu nada no momento da injeção. Foi só depois, ao chegar em casa, que sentiu um leve enjoo e febre.
“Tomei um analgésico e não tive mais nenhum problema. Com fé, vou tomar a segunda dose em julho. Valeu a pena tomar e vai valer ainda mais depois da segunda”, comemora ela.
Mais jovem que ela, o estudante Guilherme Hohenfeld, 22, brasileiro que vive nos EUA, foi vacinado com a Pfizer na segunda-feira (17), e sentiu uma leve dor muscular no braço momentos depois da injeção e teve dois dias seguidos de dor de cabeça, resolvida com uma dipirona.
“Eu estava me preparando para coisa pior. Vi tanta gente falando de efeitos colaterais, mas foi bem tranquilo. Eu estava super animado para tomar a vacina. Foi a primeira coisa que fui atrás quando cheguei nos EUA. Cheguei num dia, no outro tomei a vacina”, conta ele.
Mais de 1,6 bilhão já tomaram no mundo todo
Pesquisadora da Fiocruz Bahia, a médica infectologista Fernanda Grassi explica que as reações às vacinas desaparecem rapidamente e que, portanto, não há razão para ter receio de tomá-las porque mais de 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo já as receberam, segundo o Our World in Data, e sabe-se que os benefícios delas são muito maiores do que os pequenos efeitos colaterais que podem causar.
Inclusive, é um bom sinal quando o corpo reage porque significa que o seu sistema imune está trabalhando na produção de anticorpos. Ao receber a vacina, o organismo “aprende” a reconhecer o vírus e a desenvolver formas de defesa.
O sistema imunológico se ativa através de um fenômeno básico, que é comum a muitas doenças: a inflamação. Então, um fenômeno inflamatório não é nada mais do que nosso sistema imunológico em ação, em atividade em resposta a algum estímulo. “Neste caso, o estímulo da vacina”, explica o pesquisador Carlos Zárate-Bladés, do Laboratório de Imunorregulação da UFSC.
De fato, depois da injeção, efeitos colaterais podem aparecer mais ou menos, a depender da composição e da tecnologia de cada vacina — se foram feitas, por exemplo, com um vetor viral (“vírus bonzinho” que não causa doença em humanos) ou com o vírus da covid-19 inativado, atenuado ou usando simplesmente um fragmento dele, como uma proteína.
Ainda não há uma resposta muito direta para uma vacina ser mais intensa do que outra, explica Zárate-Bladés, mas tudo depende muito de indivíduo para indivíduo.
As reações mais comuns das três vacinas são: dor no local da aplicação, dor de cabeça, cansaço e febre (confira a lista completa no fim da matéria). Há casos bastante raros de gente mais sensível e que desenvolve reações adversas mais graves, como coágulo sanguíneo, descritos no caso da Oxford/Astrazeneca, mas isso só foi observado numa frequência menor do que 1 caso a cada 100 mil pessoas que a recebeu.
No Reino Unido, a agência equivalente à Anvisa registrou 242 casos de coágulos após mais de 28,5 milhões de doses aplicadas em todos os países ingleses, dos quais 49 foram fatais. A agência reafirmou os benefícios da vacina Oxford/Astrazeneca e informou que os raros casos tiveram relação com pessoas com baixos níveis de plaquetas.
“Todos os eventos adversos, sempre que leves e bem controlados, são um bom sinal. Só precisa se preocupar se eles se tornarem muito intensos. Fora isso, é completamente esperado”, tranquiliza o pesquisador.
É preciso ter em conta que se a pessoa vier a ter sintomas de covid-19, talvez eles possam ser muito piores do que as reações às vacinas. Todos os imunizantes são testados de forma rigorosa e, mesmo após obterem registros, os países seguem fazendo um monitoramento para acompanhar eventuais efeitos adversos. Após este mais de um bilhão e meio de doses aplicadas, o que se observa é que as vacinas são consideradas muito seguras.
Por que não devo escolher qual vacina quero tomar?
O professor Carlos Zárate-Bladés lista 4 razões:
1. A situação da covid-19 no mundo ainda é categorizada como pandemia e não há vacina suficiente para todos, então não podemos nos dar o luxo de escolher
2. O Brasil já registra duas ondas fortes e está na iminência de uma terceira. Em outros países, onde a pandemia está mais controlada por conta da vacinação acelerada, os gráficos mostram “vales”, enquanto aqui se vê “montanhas” com picos.
3. A doença está mudando. Ela não é mais a mesma de um ano atrás. O vírus tem novas cepas e os profissionais da saúde da linha de frente têm relatado que, agora, pacientes mais jovens estão sendo internados com quadros graves e ainda não se sabe muito o porquê. Se o vírus se modifica, fica cada vez mais difícil controlá-lo.
4. Há mais de 50 dias, o país vem registrando uma média de 2 mil mortes diárias. Mais de 440 mil brasileiros perderam a vida para o vírus.
“Todos esses elementos indicam que a pessoa não tem que tentar escolher vacina, não temos essa opção. A pessoa tem que receber a vacina que estiver disponível quando chegar a sua vez”
As reações acontecem mais na 1ª ou 2ª dose?
Quando sentidos, os efeitos costumam acontecer mais na primeira dose e são menores ou inexistentes no momento da segunda porque o corpo já desenvolveu uma defesa. Mas não é uma regra, varia de indivíduo, e há pessoas que tiveram reações na segunda aplicação.
Todas as vacinas que estão sendo usadas no Brasil têm aplicação intramuscular e a forma que um profissional as injeta nos braços não tem muito a ver com a dor local.
“A dor está ligada, de fato, à resposta que já acontece ali, que é uma resposta inflamatória. Se a pessoa tiver muita dor, pode colocar uma compressa gelada para aliviar, ou tomar um analgésico, uma dipirona, mas normalmente essa dor desaparece em poucos dias”, diz Grassi, que é também professora da Escola Bahiana de Medicina.
Todas as profissionais envolvidas na campanha de vacinação contra a covid-19 recebem um treinamento e sabem reconhecer bem a região onde deve ser aplicado o imunizante. Se você tem algum tipo de medo de agulhas, solicite que a pessoa seja cuidadosa, fazendo uma aplicação não muito lenta e nem muito rápida. Isso minimiza o desconforto.
“A expertise do aplicador, a composição da vacina, a própria sensibilidade da pessoa que é muito individual também, são multifatores que intervém, então, não existe exatamente uma fórmula para minimizar essa situação. É melhor que a pessoa vá relaxada receber a vacina, sabendo que vai ter um pequeno desconforto”, aconselha Carlos Zárate-Bladés.
O que devo fazer se eu for um raro caso de efeito colateral grave?
Procure imediatamente o serviço médico e solicite ajuda e orientação para notificar o caso.
CONHEÇA OS EFEITOS ESPERADOS DAS VACINAS
Empresa: Pfizer/BioNTech
Nome da vacina: Comirnaty
Eficácia: 95%
Tecnologia: RNA mensageiro
Intervalo entre doses: 12 semanas
Efeitos adversos:
muito comuns: dor e inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, diarréia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre. Ocorrem em 10% dos pacientes.
comuns: vermelhidão no local de injeção, náusea e vômito. Ocorre entre 1% a 10% dos pacientes.
incomuns: aumento dos gânglios linfáticos, reações de hipersensibilidade [lesão na pele ou coceira, inchaço da pele ou mucosa, sensação de mal estar, dor no braço, insônia e prurido no local de injeção. Ocorrem entre 0,1% e 1%.
rara: paralisa facial aguda. Ocorrem entre 0,01% e 0,1%.
desconhecida: reação alérgica grave (anafilaxia).
Empresa: Oxford/Astrazeneca/Fiocruz
Nome da vacina: Covishield
Eficácia média: 70%
Tecnologia: vetor viral
Intervalo entre doses: 12 semanas
Efeitos adversos:
muito comum: sensibilidade, dor, sensação de calor, coceira ou hematoma, indisposição, cansaço, calafrio, febre, dor de cabeça, enjoo, dor muscular ou nas articulações. Ocorrem em 1 em cada 10 pessoas.
comum: inchaço, vermelhidão ou um caroço no local da injeção, febre, enjoos, diarreia, sintomas semelhantes a resfriado, dor de garganta, coriza, tosse. Ocorrem em 1 em cada 10 pessoas.
incomum: sonolência, tontura, diminuição do apetite, dor abdominal, ínguas, suor, coceira ou erupção na pele. Ocorrem em 1 em cada 100 pessoas.
muito raro: coágulos sanguíneos graves em pessoas com níveis baixos de plaquetas. Foram observados com uma frequência inferior a 1 em 100.000 indivíduos vacinados.
desconhecida: reação alérgica grave, inchaços graves nos lábios, face, boca e garganta. Não pode ser calculada a partir dos dados disponíveis
Leia a bula aqui.
Empresa: Sinovac/Instituto Butantan
Nome da vacina: Coronavac
Eficácia: 50,38%
Tecnologia: vírus inativado
Intervalo entre doses: 2 a 4 semanas
Efeitos adversos:
muito comum: dor no local da aplicação, dor de cabeça, cansaço
comum: cansaço, febre, dor no corpo, diarreia, náusea, dor de cabeça, enjoo, dor muscular, calafrios, tosse, perda de apetite, coceira, coriza
incomum: vômitos, dor abdominal inferior, distensão abdominal, tonturas, tosse, perda de apetite, reação alérgica, pressão arterial elevada, hipersensibilidade alérgica ou imediata, inchaço, coceira, vermelhidão, diminuição da sensibilidade, endurecimento, hematoma vertigem.
Fonte: Correio