Segunda, 16 de Maio de 2022
por Fernando Duarte
O sistema político brasileiro supera os limites da contradição e levanta dúvidas até mesmo quando o pragmatismo se sobrepõe a questões ideológicas. A situação do PV na Bahia, após a federação com PT e PCdoB, é um exemplo clássico disso. Aliado de ACM Neto desde 2012, quando indicou Célia Sacramento para a vaga de vice dele, o partido se viu obrigado a “pular o muro” que o separava do petismo da Bahia para se adaptar à realidade local. E, mesmo sob certo nível de protesto, embarcou no governo Rui Costa mesmo sem nunca ter ali pisado ou que tenha que se contentar com migalhas na repartição do bolo.
Essa crítica vai encarnada no PV, mas é facilmente transferida para qualquer outra legenda que nunca tenha saído da condição de um partido pequeno ou médio. É preciso orbitar em outra força política para sobreviver ou assistir a um processo de extinção lento e paulatino. É isso que a federação partidária representa: uma espécie de adiamento da morte ou da autofagia política. Tudo com a desculpa de que o alinhamento programático pode justificar a reunião de desiguais, ainda que se mantenham os símbolos de um partido que outrora existiu. É a sobrevida que importa e nada mais.
O Brasil tem partidos demais e uma política séria de menos. Esse mercado de legendas fragmentado também tem uma forte influência no desgaste do sistema como um todo e dificilmente isso será objeto de uma discussão relevante. Não há interesse em fazer o debate e os próprios grandes partidos se beneficiam dessa necessidade de funcionarem como centros gravitacionais. Isso obriga a concretização de acordos que tempos antes sequer estariam sob cogitação.
O exemplo dos verdes é pontual. Insatisfeito com o naco de poder oferecido pelo PT no governo depois da federação, o PV da Bahia ameaçou não seguir institucionalmente a indicação nacional. Fez barulho e tentou colocar os aliados contra as cordas. Conseguiu e ganhou um mínimo de espaço, para tentar compensar as perdas de deixar a base política de ACM Neto. Ao que parece, no discurso, foi uma troca que satisfez os verdes. A prática é que vai ser difícil saber se a montagem do partido feita por Bruno Reis em 2020 vai realmente abandonar o projeto político de ACM Neto.
O PT e o governo de Rui, em tese, herdam a instituição partidária. E os membros da legenda podem ou não ingressar na fase final da administração, perdendo os espaços que antes ocupavam na prefeitura. É um jogo em que o PV parece perder mais do que ganhar, mas é uma questão de escolhas. E o nó para entender e explicar essas relações só enfraquece a confiança do eleitor no sistema. A implosão não é apenas do bolsonarismo. É uma crise há muito percebida, mas empurrada para o tapete como um pouco de poeira. A reforma política sequer está na pauta. E não vai entrar nela.
Fonte: Bahia Notícias