Defesa de Bolsonaro não apresenta novo recurso no prazo e Moraes decreta fim do processo

Brasil justiça

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o encerramento do processo que condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses por golpe de Estado.

A defesa do ex-presidente não apresentou novos embargos de declaração — que servem para esclarecer possíveis erros, omissões e contradições do julgamento. O prazo acabou nesta segunda-feira (24/11) às 23h59.

Além de Bolsonaro, os advogados do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) não apresentaram novos recursos.

O parlamentar deixou o Brasil em setembro, no mês em que a ação foi julgada pela Primeira Turma do STF. Ele estava proibido de deixar o Brasil pelo STF e está com prisão preventiva decretada.

Os primeiros recursos apresentados pela defesa de Bolsonaro foram rejeitados por unanimidade no Supremo.

O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, considerou que o recurso não buscou sanar problemas do julgamento, mas sim, contestar o mérito da condenação, e os demais ministros votaram com ele.

Ainda assim, a defesa do ex-presidente ainda poderia questionar pontos da decisão. Ao rejeitar os embargos, foi aberto novo prazo para a defesa recorrer novamente, que não apresentou os novos recursos.

Os advogados ainda podem apresentar embargos infringentes, que servem para questionar decisões tomadas sem unanimidade. O placar para condenar Bolsonaro, no julgamento em setembro, foi 4 a 1.

O prazo para os advogados enviarem esses embargos se encerram no dia 3 de dezembro. No entanto, é provável que o Supremo rejeite esse recurso sem nem analisar seu conteúdo.

A jurisprudência atual da Corte estabelece que somente decisões das Turmas que tenham ao menos dois votos divergentes podem ser contestadas por embargos infringentes. E, no caso de Bolsonaro, apenas um ministro divergiu da sua condenação.

Com a decisão de Moraes, terá início a execução da pena. É quando o processo tem o chamado trânsito em julgado, ou seja, quando se entende que não mais há possibilidade de recurso contra a sentença.

Na segunda-feira, os ministros Cármen Lúcia, Flávio Dino e Cristiano Zanin votaram a favor de manter a prisão preventiva de Bolsonaro, decretada por Moraes no sábado (22/11) atendendo a pedido da Polícia Federal.

A decisão da Primeira Turma do STF foi por unanimidade.

A prisão preventiva foi decretada no âmbito da ação por coação no curso do processo, pela qual seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é réu.

Flávio Bolsonaro com a cabeça baixa na frente de uma imagem de Bolsonaro em tamanho real.
Sergio LIMA / AFP via Getty Image

Mauricio Dieter, professor de criminologia da USP, explicou que a pena pode começar a ser cumprida antes mesmo de encerrados todos os prazos. “Os ministros podem decidir por cumprimento imediato da pena”, diz.

Não é possível ainda saber se Bolsonaro será mantido onde está ou se será transferido para alguma unidade penitenciária, como o Complexo Penitenciário da Papuda.

Moraes também é quem vai definir onde Bolsonaro ficará preso — isso não foi divulgado ainda pela Corte.

A defesa do ex-presidente pede pela prisão domiciliar, alegando sua “saúde delicada”. Mas na decisão de sábado, Moraes já determinou a disponibilização de atendimento médico em tempo integral, o que pode ser um indicativo de que Bolsonaro siga cumprindo pena onde já está, segundo Dieter.

“Acho bem provável que ele seja mantido onde está”, diz.

‘Por curiosidade’

Bolsonaro foi preso preventivamente em Brasília no sábado, por ordem de Moraes. O ministro decidiu revogar a prisão preventiva em regime domiciliar, na qual o ex-presidente estava desde o início de agosto por coação no curso do processo e obstrução de investigação.

A ação apura a atuação do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos para articular sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras. Segundo o processo, Eduardo tentou influenciar o julgamento de seu pai por golpe de Estado, um dos crimes pelos quais ele foi condenado a 27 anos e 3 meses de pena.

O pedido de prisão deste sábado foi feito pela Polícia Federal depois que um risco concreto e iminente de fuga foi identificado.

Segundo a decisão de Moraes, esse risco foi identificado após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) convocar uma “vigília” em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente, e ser detectada uma tentativa de violação da tornozeleira que ele usava.

Em nota, a defesa do ex-presidente disse que a decisão de Moraes causou “profunda perplexidade, principalmente porque, conforme demonstra a cronologia dos fatos está calcada em uma vigília de orações”.

“Além disso, o estado de saúde de Jair Bolsonaro é delicado e sua prisão pode colocar sua vida sua vida em risco”, dizia a nota.

Na ordem de prisão, Moraes pontuou que a convocação de vigília por seu filho Flávio poderia gerar aglomerações capazes de dificultar a fiscalização policial e a aplicação de decisões judiciais.

De acordo com a decisão, a convocação da vigília foi interpretada como parte de uma estratégia para “prejudicar o cumprimento de eventuais medidas judiciais” e “dificultar a aplicação da lei penal” nas horas que antecedem o possível trânsito em julgado da condenação. Ou seja, quando não há mais recursos possíveis para a defesa e a sentença deve ser cumprida.

Além disso, ainda segundo a decisão, a ocorrência de violação da tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro reforçou o entendimento de que havia risco iminente de evasão.

Segundo documento da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (SEAPE), o Sistema de Monitoração gerou um alerta às 00h07 do sábado, indicando violação no dispositivo.

O relatório indica que o equipamento apresentava “sinais claros e importantes de avaria”, com marcas de queimaduras em toda sua circunferência, no local de encaixe/fechamento do case.

Questionado por policiais que foram até a residência do ex-presidente verificar o ocorrido, Bolsonaro confirmou que fez uso de ferro de solda “por curiosidade”. Em seguida, a tornozeleira foi trocada.

Para Moraes, o registro “constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga”, supostamente facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada.

Imagem da tornozeleira eletrônica de Bolsonaro danificada.
SEAPE

No domingo, durante audiência de custódia, Bolsonaro disse que tentou abrir sua tornozeleira eletrônica após sofrer um episódio de “paranoia” e “alucinação” devido ao uso combinado de remédios.

O ex-presidente relatou que estava fazendo uso de pregabalina — medicamento indicado para o tratamento de dores crônicas e dores de origem neurológica — e de sertralina — antidepressivo indicado para o tratamento de depressão e transtornos de ansiedade.

De acordo com Bolsonaro, a associação desses remédios teria provocado efeitos colaterais. Ele relatou ter acreditado que a tornozeleira eletrônica pudesse conter um dispositivo de escuta clandestino, o que teria motivado sua tentativa de mexer no equipamento.

A ata da audiência descreve que Bolsonaro declarou que “agiu movido por temor e sensação de perseguição, decorrentes do uso concomitante de medicamentos”.

Bolsonaro admitiu ter utilizado um ferro de solda durante a madrugada para tentar violar a tornozeleira, mas afirmou que interrompeu a ação por conta própria e comunicou posteriormente o ocorrido aos agentes responsáveis pelo monitoramento.

Horas mais tarde, os advogados do ex-presidente, que haviam sido questionados por Moraes sobre a violação do equipamento, enviaram documento reafirmando que Bolsonaro apresentava “quadro de confusão mental pode ter sido causado pela interação indevida de diferentes remédios”.

A defesa negou qualquer intenção de fuga e pediu para que o pedido de prisão preventiva fosse reconsiderado e que Bolsonaro voltasse para a prisão domiciliar.

Michelle Bolsonaro acena na saída da Superintendência da Polícia Federal de Brasília.

Bolsonaro foi considerado pelo STF como líder de uma organização criminosa, com militares, policiais e aliados, que atuou para impedir a transição de poder após as eleições de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O ex-presidente foi declarado culpado de cinco crimes: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

Além de Bolsonaro, os outros sete réus na ação penal também foram condenados: Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto.

Para o procurador-geral da República, Paulo Gonet, a organização criminosa agiu em várias frentes desde 2021 para tentar executar o plano de ruptura, desde discursos públicos para descreditar o sistema eleitoral até supostas pressões sobre o Alto Comando das Forças Armadas para apoiar um decreto de cunho golpista — a chamada “minuta do golpe”.

Gonet citou ainda na denúncia movimentos para tentar atrapalhar o andamento da eleição, citando os bloqueios da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no dia da eleição em 2022, em especial em regiões com eleitores favoráveis ao adversário Lula.

A PGR destacou ainda os ataques de 8 de janeiro de 2023 como o ato final da tentativa de golpe.

Ao fim do julgamento, o STF considerou haver provas suficientes das acusações da PGR e condenou os réus.

Fonte: BBC Brasil / Foto: Getty


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