Exposição na USP une arte, futebol e anatomia

cultura

Mostra no Instituto de Ciências Biomédicas fica em cartaz até o próximo dia 23

Em clima de Copa do Mundo, o Museu de Anatomia Humana Professor Alfonso Bovero (MAH) do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP realiza a exposição Anatomia: Futebol & Arte até o próximo dia 23. A apresentação mescla obras artísticas realizadas por alunos de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e peças anatômicas reais. “O principal, para mim, é a integração da arte com a anatomia sob a ótica do futebol”, conta Nilson Silva Souza, conselheiro técnico do museu. 

“A ideia de utilizar o futebol como mote para a discussão sobre anatomia nos permite aproximar o público de questões relacionadas ao dia a dia, seja pensando no próprio corpo, seja pensando num esporte amplamente difundido no País”, explica Silvia Lacchini, curadora do MAH. A escolha do futebol não foi ao acaso: além da Copa do Mundo em andamento no Catar, o museu já teve a experiência de fazer uma exposição relacionando a anatomia com a Copa América de Futebol, em 2019.

Se você já imaginou sentir o cheiro de formol, não vai encontrá-lo nesta exposição. As peças anatômicas possuem técnicas de conservação em mergulho de glicerina, o que permite que ela fique exposta ao ar livre sem uma redoma em volta, explica Nilson Souza. Ele ainda lembra que a técnica foi trazida ao Brasil por Alfonso Bovero, professor que, devido ao seu pioneirismo em anatomia no País, empresta seu nome ao museu. A utilização dessa técnica traz a sensação de maior contato com as peças em exposição, permitindo observar os mínimos detalhes do tecido muscular e nervoso.

As artes representam as partes do corpo humano numa perspectiva do futebol, utilizando as imagens de dois personagens emblemáticos do esporte no Brasil: Pelé e Marta. O primeiro é considerado um dos maiores atletas de todos os tempos, sendo conhecido como o Rei do Futebol por conquistar três Copas do Mundo. Já Marta recebeu seis Bolas de Ouro – a maior condecoração individual do futebol –, sendo a pessoa que mais ganhou o prêmio no mundo. 

Uma fotografia de Pelé está no centro da exposição. Ao seu lado está a imagem do corpo humano, mas não se trata de uma imagem qualquer, mas sim de um registro feito pelo “pai da anatomia moderna”, o médico belga Andreas Vesalius (1514-1564). “Estamos comparando os dois maiores em suas respectivas áreas, Pelé no futebol e Vesalius na anatomia”, diz Souza. Já Marta tem seu quadril destacado em movimento de chute. Em frente à sua imagem, estão expostos os ossos dessa parte do corpo humano.

Para explicar a anatomia do chute, uma fotografia da jogadora Cristiane Rozeira, do Santos Futebol Clube, também está na exposição. Ela é a maior artilheira de futebol dos Jogos Olímpicos, independente de gênero, com 14 gols. Na foto, a arte faz referências à anatomia e física do movimento.

Nilson Silva Souza - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Nilson Silva Souza, conselheiro técnico do Museu de Anatomia Humana Professor Alfonso Bovero (MAH) – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A jogadora Marta ao chutar a bola, com o quadril destacado, e, em frente, os ossos dessa mesma parte do corpo humano - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A jogadora Marta ao chutar a bola, com o quadril destacado, e, em frente, os ossos dessa mesma parte do corpo humano – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Imagem da jogadora Cristiane Rozeira ajuda a entender a física do movimento - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Imagem da jogadora Cristiane Rozeira ajuda a entender a física do movimento – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Exposição "Anatomia: Futebol & Arte" - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Exposição “Anatomia: Futebol & Arte” – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Pelé e, ao lado, a imagem do corpo humano feita por Andreas Vesalius - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Pelé e, ao lado, a imagem do corpo humano feita por Andreas Vesalius – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
O esforço para cabecear a bola e os músculos e ossos envolvidos nessa operação - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
O esforço para cabecear a bola e os músculos e ossos envolvidos nessa operação – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A jogadora Marta ao chutar a bola, com o quadril destacado, e, em frente, os ossos dessa mesma parte do corpo humano - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
A jogadora Marta ao chutar a bola, com o quadril destacado, e, em frente, os ossos dessa mesma parte do corpo humano – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

“Nós esperamos desmistificar a ideia de morbidez das peças humanas e enxergá-las como arte”, afirma Nilson Souza.

As peças em exposição podem causar choque nas pessoas mais sensíveis. São partes de corpos humanos reais, algumas em situações delicadas, como anomalias corporais, e outras são órgãos dessecados. Mas, apesar da sensibilidade de algumas pessoas, para os técnicos do museu a ciência não deixa de ser arte. “Se conseguirmos incentivar o público a se questionar sobre as diversas formas de pensar a arte e o corpo humano, e se o futebol puder ser um bom combustível para isso, teremos atingido nosso objetivo”, reforça a curadora Silvia Lacchini.

O MAH surgiu a partir de um esqueleto desarticulado e algumas peças humanas utilizadas nas aulas do professor Alfonso Bovero, em 1914, como docente da então Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo. Gradativamente o acervo aumentou com os novos docentes instruídos por Bovero. Somente em meados de 1960 o museu passou a ser visitado pelo público em geral, quando ele ainda era localizado na Faculdade de Medicina da USP, no bairro de Cerqueira César, em São Paulo. Atualmente o MAH está instalado no prédio do ICB III, na Cidade Universitária, também em São Paulo.

A exposição Anatomia: Futebol e Arte fica em cartaz até 23 de dezembro, às terças e quintas, das 13 às 16 horas, e às quartas e sextas-feiras, das 9 às 16 horas, no Museu de Anatomia Humana Professor Alfonso Bovero (MAH) do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP (Avenida Professor Lineu Prestes, 2.415, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. É obrigatório o uso de máscara facial, como medida contra a covid-19. A programação completa do evento está disponível no site do MAH.

Fonte: Jornal da USP

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