Em entrevista à CNN, Ret, um dos rappers mais escutados no país atualmente, fala sobre o lançamento de “LUME”, álbum com participação de L7nnon, Poze do Rodo e MC Hariel
Um dos rappers mais escutados do Brasil atualmente, Filipe Ret lança, nesta quinta-feira (16), seu sexto álbum de estúdio.
“LUME” chega às plataforma de streaming com participações estreladas ao longo de suas 11 faixas, incluindo uma música com Anitta.
A ex-top 1 do Spotify global eternizada em cera no Madame Tussauds volta a participar em uma música de trap depois de dois anos.
“A intenção realmente foi botar a Anitta pra rimar mesmo, ir pra cima”, revela Ret em entrevista à CNN.
O trabalho de Ret em si é uma celebração do atual momento do trap no Brasil. O “subgênero” do rap é um dos estilos mais escutados no país atualmente.
Por exemplo, levando em consideração o Spotify, nesta semana, dos cinco artistas de rap mais escutados no Brasil, todos são do trap: L7nnon, Matuê, Teto, Filipe Ret e o perfil do selo Mainstreet.
Todos estão entre os 15 artistas mais ouvidos do país na maior plataforma de streaming musical do planeta. Filipe Ret ocupa a 14ª colocação, com mais de seis milhões de ouvintes mensais.
“Eu sou um entusiasta do trap. Já sabia que ia dar esse ‘bololo’ todo”, disse o rapper empolgado à CNN, sentado em seu estúdio com vista para a praia do Flamengo, na zona sul do Rio.
Não sabe o que é trap?
O trap é um subgênero, uma ramificação, do rap que começou a tomar forma na faixa sul dos Estados Unidos pouco após a virada do milênio – principalmente na região da cidade de Atlanta.
Ao longo da década, o movimento se expandiu, acumulou popularidade e começou a penetrar no mainstream da música americana, algo que, por volta de 2015, já estava consolidado.
Entre artistas americanos que ajudaram a moldar o trap estão os rappers Gucci Mane, Lil Wayne, o grupo Migos e mais adiante somaram-se Travis Scott, Cardi B e os falecidos Lil Peep e XXXTentacion, por exemplo.
Os traços de uma música de trap não são difíceis de serem percebidos. Seja pelo ritmo do beat acompanhado de um forte grave, os sintetizadores ou, principalmente, os vocais acompanhados de auto-tune.
O auto-tune é um efeito criado originalmente para corrigir imperfeições e ajustar a afinação de algum vocal gravado, mas ele foi esteticamente “abusado” para distorcer e dar um tom mais robótico para a voz.
O recurso não é uma exclusividade do trap dentro do rap, mas é uma de suas características mais marcantes.
No Brasil, o trap surge por volta de 2015, e aos poucos começa a atrair os olhares de rappers nacionais.
“O trap é meu novo rap”
No caso de Filipe Ret, ele migrou em direção ao trap poucos anos depois da chegada do estilo ao Brasil.
Até então, ele tinha suas produções mais focadas em outra vertente mais clássica do rap, o boom bap.
“O trap é minha “nova” paixão. É meu novo rap. Quando tudo estava começando a perder sentido, o trap deu um sentido infinito, me deu mais liberdade musical, me identifiquei muito mais”, contou Ret, que lançou seu primeiro álbum experimentando o trap, “Audaz”, em 2018.
Durante a pandemia, ele produziu o álbum “Imaterial”, lançado no ano passado.
Ele reflete que o período de isolamento e sem shows abriu margem para “cozinhar” melhor os traps que estava focado em produzir.
“Tu compõe, quanto mais tempo tu costura linha por linha no trap, melhor ele fica”, disse.
O resultado de “Imaterial” serviu de termômetro para o sucesso do trap no Brasil.
Foram cerca de 30 milhões de streams em 10 dias e uma música emplacada entre os 50 maiores virais do Spotify global, com “F* F* M*”.
“Acho que em todos os álbuns eu estive no meu auge”, afirma Ret.
O sucesso do trap carioca
No Brasil de hoje em dia, o trap domina de longe como vertente do rap de maior sucesso, e disputa de igual para igual inclusive com nomes fortes do sertanejo e do pop.
Se esse cenário é possível, os artistas cariocas do gênero possuem uma parcela grande de responsabilidade.
Não que o trap brasileiro esteja concentrado no Rio. Um dos principais trappers do Brasil, Matuê, é de Fortaleza. Há também o baiano Teto, o mineiro Sidoka e um dos pioneiros no país, Raffa Moreira, é de Guarulhos, para citar poucos.
Mas o Rio de Janeiro, e as conexões entre a cena do funk e do trap, são o foco da atenção no momento.
O carioca L7nnon, por exemplo, é atualmente o rapper mais escutado do Brasil, com mais de oito milhões de ouvintes mensais.
Isso se explica tanto pelos traps de L7, quanto suas produções no funk, como a famosa “Desenrola Bate Joga de Ladin”, com Os Hawaianos.
Outro carioca que une o funk ao trap e figura entre os mais escutados do país é MC Poze do Rodo, que, por exemplo, emplacou há pouco tempo o hit “Me Sinto Abençoado”, com Filipe Ret.
Esses artistas acumulam milhões e milhões de plays e superam, nos dados mais recentes do Brasil, por exemplo, artistas gigantes como Anitta, Ludmilla e Luísa Sonza, por exemplo.
Ao falar do quanto é “entusiasta” do trap, Ret – que é nascido e criado no Catete, bairro tradicionalmente multicultural da zona sul da capital carioca – faz questão de pontuar: “Principalmente do Rio de Janeiro.”
“Por mais que isso soe pretensioso, eu já via isso acontecendo. Sabia que a galera do funk ia chegar, que a favela toda ia chegar junto. E vai chegar muito, vai crescer e tomar tudo, entendeu?”Filipe Ret
Álbum novo e parceria com Anitta
No álbum “LUME”, lançado nesta quinta (16), Ret explica que “basicamente só tem trap”, e ele “busca uma sonoridade mais pra cima”.
O lançamento também é uma celebração coletiva do atual momento desse estilo. Das 11 faixas, apenas quatro não são feitas em parceria com outros artistas. E de todas as parcerias, apenas o paulistano MC Hariel não é do Rio de Janeiro.
“Eu não podia perder esse momento, tá ligado? Preciso produzir muito porque tem muita gente boa. Eu sou muito fã da Anitta, do Poze [do Rodo], do Hariel, do Kayuá. Então, preciso botar disco na pista”, disse Ret.
A repetição de parcerias já realizadas antes, como com MC Poze do Rodo e L7nnon, funcionam bem e mostram o entrosamento deles.
Mas é na terceira faixa, “Tudo Nosso”, em um feat com Anitta, que salta mais forte aos ouvidos um potencial de hit.
Não é a primeira vez que a cantora de Honório Gurgel passeia pelo trap. Ela já lançou “Cena de Novela”, com WC no Beat, e “Tá com o Papato”, produzida pelo famoso produtor Papatinho, em 2020.
“Quando ela lançou com o Papatinho, eu falei: ‘Vou fazer um bagulho pra ela mais neurótico. Ficou maneiro, mas achei que dava para ser mais agressivo’”, conta Ret.
Em uma ponte aérea qualquer entre Rio e São Paulo, Ret bolou os versos e sugeriu para a cantora. “Escrevi, ela gostou, mas também quando ela foi gravar mudou várias linhas. Aí ela botou pra brilhar”, relembra.
Mesmo que o resultado final da música seja inédito para o público, parte dos fãs já sabe o que esperar em partes.
Isso porque, em março, Anitta publicou alguns stories, no Instagram, em que ouvia os versos gravados com Ret.
O rapper chegou a publicar no Twitter na época dizendo que “Anitta deu spoiler do som”. “Amigo do céu desculpa, eu tava bêbada”, respondeu a cantora.
” Lucrando o dia inteiro, do trap ao funk. Tu só tá fazendo porque eu fiz primeiro. Se eles tão se achando, avisa pra abaixar a cabeça. Tu só tá aí porque eu abri pra tu passar. After na casa da patroa é revoada. Me respeita ou eu te obrigo a respeitar.”
Anitta
Fonte: CNN Brasil