Projetos nos setores de cimento, alumínio, químicos e combustível de aviação vão receber auxílio na atração de investimentos e atenção do governo em relação a regulamentações
Sete projetos de descarbonização para indústrias de cimento, alumínio, químicos e combustíveis verdes receberam oficialmente apoio da organização internacional ITA (Acelerador de Transição Industrial, na tradução do inglês), em parceria com o MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) para receber investimentos que devem tornar realidade inovações em setores considerados difíceis de diminuir emissões de carbono, consideradas o combustível do aquecimento global.

Os investimentos de US$ 7,5 bilhões (R$ 42 bilhões) necessários devem ser atraídos com o lastro do ITA, uma organização que tem como líderes um trio de peso formado pelo empresário de comunicações Michael Bloomberg, o presidente da COP28 nos Emirados Árabes, sultão Ahmed Al Jaber, e o secretário executivo das Nações Unidas para o clima, Simon Stiell.
Encabeçado por executivos de alto nível nos ambientes de negócio e negociações climáticas, a iniciativa firma parcerias com governos nacionais para acelerar projetos com potencial de destravar setores estratégicos da transição energética, permitindo a evolução de regulações e investimento em infraestrutura para transformações necessárias na indústria rumo ao netzero.
O objetivo é simultaneamente aconselhar os governos em relação a regulações legais necessárias a novos mercados, como os casos do carbono e do hidrogênio verde, além de atrair investidores e compradores, explica o líder da operação no Brasil, Marc Moutinho. Outro ponto observado pelo executivo é a ampliação do grid elétrico brasileiro, para acomodar uma nova indústria movida a energia limpa.
O apoio do ITA significa o endosso de 50 líderes empresariais globais e uma rede de mais de 700 instituições financeiras, além da garantia do MDIC aos financiadores. É possível que alguns destes projetos entre na Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP), um mecanismo do governo federal para unir investidores e projetos na transição energética do país lançado na COP29, apurou Um Só Planeta.
Esta é a segunda rodada de projetos anunciados pela ITA em sua parceria com o governo brasileiro firmada em 2024. No primeiro ano foram selecionados quatro projetos relacionados à produção de hidrogênio verde.
A organização já firmou acordos para atuação nos Emirados Árabes, Bahrein e no Egito. No Brasil, o plano de ação do ITA se encerra no próximo ano, mas até lá ao menos uma nova rodada de projetos anunciados deve acontecer, afirma Moutinho.
“As emissões industriais brasileiras não são o maior desafio, nem a maior parcela das emissões”, comenta o executivo, se referindo às emissões geradas pelo desmatamento. “Mas, por outro lado, ao construir novas instalações industriais verdes, o Brasil obviamente evita as emissões em comparação a construí-las com combustíveis fósseis, e cria uma oportunidade econômica inteiramente nova.”
Conheça os projetos selecionados por ITA e MDIC
- O projeto Solatio H2 Piauí desenvolveu 14 GW de energias renováveis em uma estrutura verticalizada para abastecer uma planta industrial de hidrogênio e amônia verde em desenvolvimento com capacidade total de 3 GW. A capacidade de produção atingirá 2,2 milhões de toneladas por ano (Mtpa) de amônia verde até 2030.
- A Acelen Renováveis está desenvolvendo um projeto para produzir combustíveis renováveis avançados a partir do óleo de macaúba, uma planta nativa do Brasil. A empresa desenvolverá um negócio integrado, da semente ao combustível. O projeto pretende produzir 1 bilhão de litros de combustíveis renováveis por ano, incluindo combustível de aviação sustentável (SAF) e diesel renovável (HVO).
- A Votorantim Cimentos planeja reativar uma linha de argila calcinada de 0,32 Mtpa (milhões de toneladas por ano) em sua fábrica de cimento em Nobres (MT), o que permitiria ao local aumentar o uso de argila calcinada como substituto do clínquer (matéria-prima do cimento) de alta intensidade de emissões e reduzir as emissões do cimento final produzido em até 16%.
- A Mizu Cimentos busca instalar unidades de pirólise em sua unidade de 1 Mtpa em Aracajú para produzir energia a partir de biomassa residual para substituir o uso de combustíveis fósseis no local. Quando totalmente implementado, o projeto poderá reduzir as emissões da produção de cimento em até 32%.
- O Consórcio Eco Fusion reúne as empresas Argo Tech, Apodi Cimentos, CTEC e Self Energy para instalar gaseificadores na fábrica de cimento da Apodi em Quixeré (CE), produzindo energia a partir de resíduos como substituto do uso de combustíveis fósseis, permitindo uma redução de emissões de até 10% por tonelada de cimento.
- A Alcoa pretende enfrentar uma das principais fontes remanescentes de emissões na cadeia de valor do alumínio brasileiro atualmente: a geração de calor para o refino de alumina (subproduto da bauxita usado para fabricar alumínio). O projeto vai eletrificar as caldeiras da refinaria de Alumar, em São Luís, o que poderia reduzir as emissões da refinaria para 0,6 toneladas de CO2 por tonelada, enquanto a média global é de 14,8.
- A CBA está trabalhando para enfrentar as emissões da fundição de alumínio. O projeto prevê aplicar uma nova tecnologia em sua fundição de 0,43 Mtpa para reduzir as emissões para menos de 2 toneladas de CO2 por tonelada produzida do metal.
ERRATA: Anteriormente, o texto publicado afirmava que as reduções de emissões do projeto da Alcoa se referiam ao alumínio final. A informação correta se aplica apenas ao processo de refinamento.
Fonte: Um Só Planeta / Foto: Felipe Castellari/Acelen/Divulgação