Instagram: algoritmo promove conteúdo prejudicial a usuários com transtornos alimentares

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Por Flavia Correia, Editado por Lyncon Pradella – Quinta, 15 de abril de 2021

Ativistas contra distúrbios alimentares na Inglaterra denunciaram que o Instagram estaria recomendando automaticamente termos como “inibidores de apetite” e “jejum” para determinados usuários. Pessoas vulneráveis ao desenvolvimento de Transtornos do Comportamento Alimentar (TCAs) poderiam, segundo os manifestantes, desencadear problemas ou ter recaídas. O Facebook, dono da plataforma, admitiu que o inconveniente realmente aconteceu e foi ocasionado por “erro” de algoritmo, que já foi resolvido.

Um porta-voz da empresa afirmou que, recentemente, foi disponibilizada uma nova ferramenta de pesquisa na rede social, além de hashtags e nomes de usuário. A funcionalidade tem o objetivo de ajudar o público a identificar e explorar com mais facilidade conteúdos que possam lhe interessar. Como parte desse novo recurso, a barra de pesquisa do Instagram sugere tópicos que o usuário pode querer acessar, com base em sua atividade nas redes. Nesse cruzamento de dados foi que postagens indesejáveis acabaram sendo recomendadas. Nelas, estão inclusos itens como publicações de contagem de calorias e planos de dieta ou exercícios para perda de peso.

Pessoas com Transtornos do Comportamento Alimentar (TCAs) têm visão distorcida da própria imagem. Erro do Instagram estaria recomendando automaticamente termos como “inibidores de apetite” e “jejum” para determinados usuários. / Crédito: PeopleImages / Istockphoto

Joshua Wolrich, médico britânico e autor do livro Food Isn’t Medicine (Comida Não é Remédio, em tradução livre), afirma que “se as pessoas estão acompanhando relatos de transtornos alimentares que as estão ajudando em sua recuperação, é muito prejudicial, de repente, verem algo com uma mensagem exatamente oposta”. O médico sugeriu que uma função opcional para os usuários bloquearem qualquer conteúdo relacionado à perda de peso poderia ajudar.

Filtros de imagens nas redes sociais podem vender “falsa perfeição”

Afinar a cintura, tornar as formas mais curvilíneas, alongar os cílios, atenuar problemas de acne e eliminar as rugas do rosto são alguns dos “milagres” que os aplicativos de edição de imagens e os filtros das redes sociais possibilitam aos seus usuários. Por vezes, os resultados chegam a ser tão irreais, que jamais poderiam ser alcançados com alimentação regrada e exercícios físicos.

Psicólogos alertam que o uso dos filtros está relacionado à procura por aprovação, numa busca constante por encaixe nos padrões de beleza impostos pela sociedade. Em muitos casos, esse comportamento reflete uma dificuldade de autoaceitação.

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Aplicativos de edição de imagens e os filtros das redes sociais forjariam uma realidade paralela. Adolescentes e jovens adultos são as principais vítimas de disfunções mentais geradas por dificuldade de autoaceitação. / Crédito: Olena Yakobchuk – Shutterstock

A modificação da própria imagem, facilmente alcançada por meio desses recursos tão simples e acessíveis, faz com que a pessoa acredite que deve ter aquela aparência, forjando uma realidade paralela. Em consequência desse fenômeno, vê-se um aumento na procura por procedimentos estéticos, tais como aplicação de toxina botulínica, preenchimentos com ácido hialurônico e cirurgias plásticas.

Em paralelo aos transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, os indivíduos podem ser afetados pelo transtorno dismórfico corporal, também chamado de dismorfofobia. De acordo com o Ministério da Saúde, essa disfunção mental pode atingir pessoas de qualquer idade ou sexo, mas prevalece entre os adolescentes e jovens adultos – exatamente o maior público das redes sociais, como o Instagram. A doença faz com que o indivíduo tenha a percepção de um defeito imaginário na aparência e acredite que todos percebem tal “anomalia”. 

Fonte: BBC

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