Jarbas Barbosa toma posse como presidente da Opas

saúde

Por Alessandra Monterastelli

Ameaça de novas pandemias, doenças não transmissíveis e mudanças climáticas são grandes desafios ao novo presidente da Organização Pan-Americana de Saúde. Defensor do SUS, anunciou que fortalecer sistemas públicos será prioridade

Na última terça-feira (31/1), o brasileiro Jarbas Barbosa tomou posse como presidente da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em evento que ocorreu na sede da instituição nos Estados Unidos. Importantes figuras para a saúde internacional estavam presentes no evento, como o presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, Xavier Becerra, Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA e Nísia Trindade, ministra da Saúde do Brasil. 

Em seus discursos, as ex-presidentes da Opas, Mirta Roses e a mais recente Carissa F. Etienne, parabenizaram Jarbas Barbosa por sua eleição e expuseram o momento difícil em que o médico brasileiro toma posse. “Os próximos 5 anos são de incertezas e complexidade quase caótica em todos os âmbitos: político-social, científico, tecnológico e ambiental, com alto grau de conflitos; mas também com grande capacidade de criatividade e inovação”, ressaltou Roses, epidemiologista argentina que presidiu a Opas de 2003 a 2013. A ameaça de novas epidemias, a carga crescente de doenças não transmissíveis e o impacto das mudanças climáticas, em um momento em que a maioria dos países sofre com a deterioração de suas economias, preocupa as lideranças mundiais da saúde. 

Tedros Adhanom citou “o aumento da inflação, endividamento, orçamentos limitados e a guerra” como elementos chave para entender a dificuldade de garantir acesso à saúde no atual cenário global, ao passo que o mundo finalmente “emerge da pandemia” e “busca despertar o progresso” para alcançar o desenvolvimento sustentável e as metas do triplo bilhão – programa da OMS que visa garantir para mais 1 bilhão de pessoas cobertura universal de saúde, proteção contra emergências sanitárias e mais desfrute de saúde e bem-estar. 

Para tal, o avanço da inovação tecnológica no campo da Saúde foi tema presente em quase todos os discursos do evento. Etienne, que presidiu o braço da OMS nas Américas durante o período da pandemia de covid-19, afirmou que está nos avanços tecnológicos a perspectiva de “administrar a força de trabalho combinando inteligência humana, artificial, máquinas e sistemas”, com o objetivo de “ser capaz de enfrentar os desafios”. 

Jarbas Barbosa estava na Opas durante os anos mais difíceis da pandemia, como subdiretor. Entre 2020 e 2021, os esforços pelo acesso equitativo às vacinas contra o novo vírus no continente marcaram sua gestão. Pernambucano e médico, é defensor dos princípios da Reforma Sanitária brasileira – movimento que fundou o Sistema Único de Saúde (SUS) – e especialista em Saúde Pública e Epidemiologia pela Fiocruz. Foi secretário municipal de Saúde de Olinda e responsável, na época, por expandir a Atenção Primária na cidade, como reconheceu a ministra Nísia Trindade. Depois, foi Diretor Nacional do Centro de Epidemiologia e, de 2015 a 2018, diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – onde contribuiu para a expansão do sistema de vigilância epidemiológica em todo território nacional. Foi responsável também pela criação dos Centros de Informação Estratégica em Vigilância em Saúde, que tem o papel de transferir vacinas e medicamentos entre regiões com o objetivo de responder a emergências epidemiológicas. “Em sua gestão, o engajamento internacional foi marca registrada”, afirmou em seu discurso Nísia Trindade, ministra da Saúde. 

“Sou entusiasta das possibilidades que a saúde pública oferece para construir um mundo mais equitativo, melhor e com mais saúde universal”, afirmou Jarbas Barbosa em seu primeiro discurso enquanto diretor da Opas – que, vinculado à OMS, tem como função proporcionar cooperação entre países das Américas no âmbito da saúde. Segundo Barbosa, a alta desigualdade e acelerada transição demográfica – especialmente na América Latina e no Caribe – exigem “sistemas nacionais que respondam urgentemente, com ampla gama de medidas integradas: melhor vigilância e prevenção, atenção primária sólida e renovada, serviço hospitalar especializado de qualidade e pessoas bem treinadas”. Jarbas afirma que quer “tornar a Opas a principal organização encarregada de prestar assistência aos países das Américas, para garantir bem estar e saúde da população e superar as desigualdades persistentes”. 

Jarbas também anunciou quais serão as prioridades da próxima gestão: acabar com a pandemia de covid-19, através de mais acesso a doses de reforço da vacina, auxiliar os estados-membros a fortalecerem seus sistemas públicos de saúde e a Atenção Primária e garantir o acesso rápido e equitativo a novas tecnologias. 

Brasil reforça participação internacional 

Nísia Trindade esteve presente na posse de Jarbas Barbosa junto a uma delegação. A ministra leu uma carta do presidente Lula, que parabenizou Jarbas pela eleição e reiterou o apoio de seu governo à nova gestão da Opas. O texto, somado à presença da delegação brasileira na posse, sinalizou o interesse do governo em renovar a cooperação com outros países da região – além de reafirmar o protagonismo do país no cenário internacional. 

Na carta, Lula descreveu os “graves desafios” que encontrou na área da saúde ao voltar à presidência e afirmou que trabalhará para avançar com a vacinação no país, combater a desinformação e “retomar decisões sanitárias baseadas na ciência”.

Fonte: Outra Saúde

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *