Leva quem tem mais: pré-candidatos às prefeituras já se movimentam e fatores locais e nacionais devem definir disputa

Bahia

Elementos nacionais, locais e uso da máquina pública definem quem tem mais chances na disputa

Em todo o país, o ano de 2024 vai ser marcado pelas eleições municipais que ganharão as cidades no dia 6 de outubro e já movimentam as legendas. Na Bahia não é diferente. Nas 20 maiores cidades do estado e também na capital baiana, se não é o Executivo que se manifesta para lançar um sucessor ou se reeleger, é a oposição que se movimenta e, cada vez, mais vai chegando com força.

Salvador é um exemplo bem dado disso. O cenário para outubro fica entre o atual vice-governador, Geraldo Júnior (MDB), anunciado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) em dezembro, e o prefeito da capital, Bruno Reis (União), que evita falar sobre a sua candidatura à reeleição, mas que está claro que irá concorrer. O anúncio do ex-presidente da Câmara de Vereadores soteropolitana vem com um prelúdio do que o grupo do PT vai buscar ao redor da Bahia nas eleições para as prefeituras: uma unidade política e, quem sabe, recuperar o número de prefeituras perdidas em 2020.

A candidatura de Geraldo, segundo o cientista político Cláudio André, vem com uma vantagem, visto que ele integrava anteriormente o grupo do ex-prefeito ACM Neto (União). “Dá a possibilidade dele construir uma desidratação do grupo adversário, que é o favorito para estas eleições”, analisou em entrevista ao Jornal Metropole. Mas eles não são os únicos a estarem na disputa. O candidato do Psol, Kleber Rosa, professor e fundador do Movimento Policiais Antifascismo e coordenador da Federação dos Trabalhadores Públicos do Estado da Bahia (FETRAB), vem como outra alternativa da esquerda na cidade.

No interior do estado, uma boa parte dos prefeitos poderá se reeleger. Um levantamento realizado pelo Jornal Metropole aponta que em 65% das 20 maiores cidades contam com a possibilidade dos mandatários municipais se manterem à frente do Executivo. Entre elas, estão Vitória da Conquista, Juazeiro e Itabuna. Nos maiores colégios eleitorais do estado, a sigla com mais prefeituras é o União Brasil. O partido do ex-prefeito ACM Neto tem nas mãos cinco das 20 maiores cidades baianas. Em segundo lugar vem o PSD, legenda do senador Otto Alencar e do grupo do PT

Com nomes petistas à frente do Executivo municipal, há apenas Lauro de Freitas, com a prefeita Moema Gramacho, que está em seu segundo mandato e não pode se reeleger. Ela terá que escolher um sucessor. Moema, inclusive, faz parte das cinco únicas mulheres que assumem as cadeiras entre as maiores da Bahia.

Uma presença mais forte do grupo de ACM Neto nas maiores cidades do estado e a quase inexistência do PT entre elas mostra uma mudança histórica de cenário político na Bahia. Tradicionalmente as governanças municipais funcionavam de outra maneira. Quem costumava comandar as grandes cidades na Bahia era o PT, apesar de nunca ter governado Salvador. O União, antigo Democratas, liderava os municípios menores. Em 2012, o PT, por exemplo, estava à frente de mais de 90 municípios baianos e hoje tem apenas 32. Com as eleições de 2016, as siglas ficaram no páreo: PT com 39 cidades e União com 38.

Hoje o União comanda as prefeituras de 30% da população baiana. Já o PT está à frente do Executivo municipal para apenas 5,4% da população. E mesmo assim Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso em 72% do estado para a presidência da República em 2022. O PSD, partido da base petista, pode ter contribuído com isso, afinal a sigla tem 105 prefeituras no estado.

Fator Lula e Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, ao tentar uma recondução e se tornar o primeiro presidente do país que não conseguiu um segundo mandato, venceu na Bahia em apenas duas cidades. Entre as 20 maiores, a única que tem um prefeito da mesma legenda do ex-presidente é Porto Seguro, com Jânio Natal, que tem a possibilidade de se manter no cargo. Em relação a toda a Bahia, a sigla está no comando de vinte cidades, número este que se manteve o mesmo em relação à quantidade eleita ou reeleita em 2016. 

Para o diretor da Quaest, Felipe Nunes, as eleições municipais que estão por vir serão uma espécie de teste para o bolsonarismo. “É a primeira eleição que vai testar o bolsonarismo fora do poder. O prognóstico é que o PL cresça com o apoio de Bolsonaro nas médias e grandes cidades. O PT volta ao poder e vai usar a máquina, os recursos para melhorar o desempenho”, afirmou em entrevista à Rádio Metropole

O sociólogo e cientista político Antonio Lavareda tem uma visão semelhante. Para ele, o arranjo político nacional influenciará mais as grandes cidades, em especial as capitais, sobretudo no segundo turno em relação a ambos os políticos. 

O resultado das eleições municipais que devem trazer somente respostas sobre a polarização que teve seu ápice em 2022, deve também apresentar indícios do que será em 2026, na disputa pelos governos estaduais. Caso as legendas fiquem fora da máquina pública, a reeleição de governadores pode estar em risco.

Submissão das Câmaras de Vereadores 

Para que o Executivo tenha seus projetos e suas vontades aprovadas, é preciso ter apoio dentro da Casa Legislativa, fazer acordos e buscar que o consenso seja alcançado entre aqueles que apoiam a prefeitura e os que compõem a oposição. O problema é quando as câmaras Municpais se tornam máquinas de “sim” para os mandatários das cidade e repetem movimentos que mostram que está muito longe de uma “oposição” de fato a acontecer. 

Salvador, mais uma vez, é um exemplo disso. Em apenas 48h, uma minirreforma tributária apresentada pelo prefeito Bruno Reis foi aprovada no Legislativo sem que houvesse de fato uma discussão ampla sobre o tema. Até mesmo a oposição ficou calada diante de projetos do Executivo, como aconteceu com aprovação com unanimidade da concessão de subsídio às empresas de ônibus da capital baiana.

E quem não é bobo também se questiona: será que o “caixa dois”, recursos não contabilizados e não declarados aos órgãos de fiscalização, realmente acabaram, principalmente agora com a existência do Pix? Será que ele ainda não tem papel influenciador nas campanhas?

Quem elege é o povo, que tem direito ao voto e escolha de dois em dois anos seus candidatos. Mas quem viabiliza as candidaturas não são outros senão a grande elite nas cidades e estados de todo o Brasil. Setores como o imobiliário crescem e auxiliam na eleição de políticos, assim como outros fatores como a criminalidade, que apesar de não ser presente como é no Rio de Janeiro, também existe e segue viabilizando candidatos e eleitos. 

Ao falar sobre as prefeituras e a sua influência na aprovação de matérias, as relações geradas entre empresas terceirizadas com os prefeitos também são ferramentas utilizadas na disputa e reforçam poderes. A ligação gera um canal que facilita a captação de recursos públicos, inclusive para festas populares nas cidades, como o Carnaval e São João, que em anos eleitorais se mostram fundamentais. As empresas não somente ajudam na manutenção da burguesia, mas também são os braços para oferecer prestação de serviço para o Executivo municipal.

Uso da Máquina Pública

Não é novidade para ninguém, muito menos feito às escondidas e faz parte do jogo político: o uso das máquinas públicas desempenha um papel essencial na reeleição de prefeitos e na escolha de um sucessor para um próximo mandato. Não só a partir do uso do dinheiro público, mas também das próprias funções e atividades do cargo, gestores públicos já saem na frente, com a capacidade de mobilizar aparatos que fazem diferença na disputa. Em Salvador, por exemplo, desde que a reeleição foi permitida, todos os prefeitos conseguiram emplacar um segundo mandato, até mesmo João Henrique.

Segundo o historiador Carlos Zacarias, a prática de usar a máquina pública como vantagem na disputa não é recen – te, mas se intensificou na medida em que a legislação eleitoral criou dificuldades para o financiamento de campanhas em que o patrocínio venha do setor privado. “Os candidatos que são apoiados por governadores ou prefeitos no caso de eleição ou reeleição largam na frente e contam com muito mais possibilidades”, afirma ao Jornal Metropole. Aqui em Salvador, Zacarias salienta que, mesmo distante do pleito, é possível ver o que tem sido feito tanto pela prefeitura quanto pelo governo em vincular obras realizadas como ações para campanha.

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Fonte: Metro1