Por Dhonatas Silva (Colunista do Ipirá City) – Sexta, 31 de maio de 2024
Em uma cidade qualquer, muros de concreto e tijolo se erguem por todos os lados, dividindo espaços, delimitando propriedades, criando barreiras.
Mas os muros mais altos e intransponíveis não são feitos de matéria sólida. Eles são invisíveis,
construídos ao longo do tempo por preconceitos, medos e desentendimentos.
Alana e Théo moram na mesma rua, a poucos metros de distância, mas raramente se veem. Os muros invisíveis que os separam são feitos de diferenças culturais e sociais.
Alana, uma jovem professora de arte, vive cercada de cores e expressões. Théo, um executivo de terno e gravata, habita um mundo de números e relatórios.
Eles cruzam o mesmo caminho todos os dias, mas não enxergam um ao outro. Esses muros invisíveis começaram a ser construídos há muito tempo, com tijolos de julgamentos precipitados e cimento de estereótipos.
Alana, com seu estilo despojado e cabelo colorido, é vista como extravagante e irresponsável. Théo, com
seu ar sério e postura rígida, é rotulado como arrogante e insensível. As barreiras crescem cada vez que um olhar desvia, cada vez que um sorriso não é retribuído.
Entretanto, as tempestades da vida têm uma forma peculiar de testar a resistência desses muros. Em um dia de chuva torrencial, Alana e Théo se encontram abrigados sob a mesma marquise, forçados a compartilhar aquele espaço por alguns minutos.
A princípio, o silêncio constrangedor ergue mais um tijolo entre eles. Mas, ao perceberem a ironia da situação, um sorriso tímido começa a desmoronar o muro.
─ Parece que estamos presos aqui. ─ Diz Alana, tentando quebrar o gelo.
Théo, surpreendido pela leveza dela, responde com um aceno de cabeça e um sorriso que não dá para segurar.
─ É, a natureza às vezes nos obriga a parar e olhar em volta. ─ Ele comenta.
A conversa flui inesperadamente fácil. Alana descobre que Théo adora jazz e tem um vinil de Miles Davis. Théo fica sabendo que Alana se voluntaria aos fins de semana, ensinando crianças em uma comunidade carente. Cada palavra trocada derruba mais um tijolo, revelando que, apesar das diferenças aparentes, eles compartilham sonhos e valores.
Quando a chuva finalmente para, Alana e Théo se despedem com a promessa de continuarem aquela conversa. Os muros invisíveis que os separavam começam a desmoronar, revelando a beleza de uma cidade onde as diferenças podem coexistir e enriquecer a vida de todos.
Os muros, afinal, são construções frágeis, erigidas mais pela falta de conhecimento do que pela malícia. Quando nos permitimos olhar além das aparências, descobrimos que as barreiras são ilusórias, e
que o que nos une é muito mais forte do que o que nos separa.
Em cada interação genuína, um muro cai, e o horizonte se amplia, deixando espaço para a
compreensão e a amizade.
Fim.
Imagem: Pinterest