N º de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza cresce em mais de 14%, em Salvador

Bahia

O número de famílias em situação de pobreza e extrema pobreza teve um salto de mais de 14% em Salvador, neste ano. Para fazer a análise, o g1 comparou dados coletados pelo Cadastro Único (CadÚnico) da capital baiana.

O governo federal classifica como extrema pobreza as rendas familiares de até R$ 105 por pessoa, também chamada de renda per capita. Esse valor foi estabelecido no mês de março, em decreto presidencial.

Até o dia 16 de abril, 242.873 famílias estavam nesta situação em Salvador. Segundo a Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), a capital baiana tinha 212.118 famílias em situação de extrema pobreza até dezembro de 2021.

O crescimento em menos de quatro meses foi de 14,49%

O mesmo decreto que reajustou os valores das faixas de renda, também definiu que a renda familiar mensal per capita de pessoas, em situação de pobreza, fica entre R$ 105,01 e R$ 210. Nesta faixa, estão atualmente 39.979 famílias soteropolitanas.

Até o final do último ano, 35.050 famílias estavam nesta faixa de renda mensal. Neste caso, o aumento foi de 14,06%, em 2022.

Insegurança alimentar e furtos famélicos

Com a renda tão baixa, as famílias que vivem em pobreza e extrema pobreza enfrentam a grande dificuldade de garantir uma alimentação adequada, dentro dos parâmetros de segurança. Ailton Fonseca analisa que a crise econômica gerada pela crise sanitária da Covid-19 é um dos fatores que contribuem para o agravamento da fome.

“Depois da Covid, o quadro que nós temos é de um aumento grande da informalidade, do desemprego. Nós tivemos aumento considerável de pessoas sem segurança alimentar, sem segurança previdenciária e sem segurança médica. Na pandemia, nós tivemos uma racha muito grande de pessoas sem renda e sem estruturas adequadas para viver”, pondera o sociólogo.

As poucas condições de sobrevivência levam pessoas a tomarem decisões extremas, como o furto de alimentos – o chamado furto famélico. Esse delito é motivado, na maioria das vezes por causa da fome. Além de comida, o roubo de produtos de higiene, medicamentos ou itens básicos também são enquadrados como “famélicos”.

O Direito Penal compreende, pelo chamado Princípio da Insignificância, que furtos famélicos não são suficientemente graves para a sociedade, a ponto de punir quem o comete. Assim, o roubo pela fome deixa de ser passível de punição e se torna um problema social.

A Defensoria Pública da Bahia (DPE-BA) registrou, entre os anos de 2017 a 2021, um aumento de cerca de 10% dos furtos famélicos em todo o estado. Pessoas que cometem o delito, e são assistidas pelo órgão na Justiça, costumam ser encaminhas para o programa “Corra Pro Abraço”, que atua para devolver a dignidade às pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Crescimento da violência e precarização do trabalho

O aumento da miséria impacta diretamente em vários setores da sociedade, sendo o principal deles a segurança pública. Sem dinheiro para se alimentar e sem oportunidades de trabalho, muitas pessoas recorrem à informalidade, enquanto outras à criminalidade, como explica o sociólogo Ailton Fonseca.

“Existe sim uma relação entre extrema pobreza e aumento dos índices de violência. É a precarização da vida das pessoas, de um modo geral. Há um aumento grande de assalto a ônibus todos os dias, situação que tinha sido amenizada há um tempo. A falta de esperança, o desespero e a fome também levam as pessoas à criminalidade. É um efeito cascata”.

O sociólogo também chamou a atenção para que a pobreza e a extrema pobreza atingem principalmente famílias de pessoas negras, chefiadas por mulheres.

“A gente precisa destacar que o aspecto de gênero e raça, também são latentes nestes casos, porque a concentração de pobreza está na população negra e de mulheres. Nós também vivemos uma fragilidade previdenciária, por causa das relações de trabalho. Hoje, mais de 50% do mercado informal é formado por pessoas negras e essa situação só piorou com o agravamento da crise sanitária”.

Fonte: g1 Bahia