No centro do debate para se tornar Patrimônio Cultural Imaterial, Feira de São Joaquim é tema de evento em Salvador

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Feira de São Joaquim, um dos espaços mais tradicionais e ricos em cultura, cores e histórias de Salvador, tem ganhado cada vez mais destaque no cenário soteropolitano.

O território, que pode se tornar Patrimônio Cultural Imaterial do Estado em breve – graças a um projeto de lei proposto pela deputada Fabíola Mansur (PSB), foi palco, neste final de semana, do Projeto Arena São Joaquim, que debateu a potência material e cultural da Feira.

Arena São Joaquim é a primeira fase da Trilha Empreendedores do Futuro e Trilha Empreendedora, que capacitou e acelerou negócios de cerca de 15 feirantes em 2023. Entre as temáticas abordadas pela formação estiveram educação profissional e financeira, sustentabilidade e prática de negócios responsáveis.

Uma verdadeira mãe. É assim que a chef do Cantinho da Dadá e empreendedora da Feira de São Joaquim, Marilena Souza de Andrade – ou melhor, Dadá da Feira -, define o lugar. Seus 70 anos, acompanhando de perto todas as etapas do desenvolvimento tanto cultural quanto econômico de cada banca e negócio dali, fazem de Dadá um exemplo de resistência.

“Oitenta por cento do mulherio cria seus filhos na Feira de São Joaquim como eu criei os meus. Aquela feira é o verdadeiro lugar de combate à fome. Muita gente chegou, montou sua banca e vendeu suas coisas para sobreviver. Meu pai era feirante, foi lá que instalei meu restaurante. Você encontra conversa, troca experiência, vende e faz comida, alimenta sua família. Tudo isso na Feira de São Joaquim”, afirma.

Dadá foi uma das convidadas da Roda de Conversa que discutiu o Patrimônio Material e Imaterial da Feira de São Joaquim, durante a Arena Feira de São Joaquim, na Doca 1, ao lado do Terminal Marítimo de Salvador, no bairro do Comércio. Além de reunir comerciantes e feirantes, a ação gratuita e aberta ao público também teve apresentações culturais e espaço para venda de produtos.

Mediada pela editora-chefe do CORREIO, Linda Bezerra, a Roda de Conversa também contou com a participação do ator do Bando de Teatro Olodum e Afrochefe no Culinária Musical, Jorge Washington. Ele foi mais um que defendeu a importância social, cultural e econômica da feira: “Faço comida a partir das minhas memórias, lembranças. E quem me abastece desses ingredientes é a Feira de São Joaquim. Andu, feijão-verde, mamão verde. A Culinária Musical é um projeto que eu já toco há 7 anos. Além disso, como ator, tem muita coisa dali que levo para o palco. A feira é um patrimônio que precisa ser tombado urgentemente”.

O debate contou ainda com a presença do coordenador da Federação Nacional do Culto Afro Brasileiro (Fenacab), pai César D’Ajagunã, que ressaltou o quanto São Joaquim faz parte da rotina do povo de santo e a relação da religião com a feira. “A gente costuma dizer que a feira é o nosso shopping. Nós, que somos do candomblé, vamos à feira de São Joaquim mais de três vezes na semana. É onde encontramos folhas, animais, grão. Tudo que precisamos é lá que encontramos”.

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Pai César D’Ajagunã fez questão de recordar seu primeiro contato com a Feira de São Joaquim: “Comecei a andar por lá quando tinha uns 13, 14 anos, quando minha mãe foi iniciada. É um lugar mágico de energia muito boa. Saí com uma lista imensa, não sabia onde a feira ficava, me perdi e soltei no Terminal da França. Com o dinheiro contado, consegui chegar na feira e me perdi de novo. Só cheguei no terreiro à noite, mas levei tudo que precisava. Hoje eu viajo para outros estados e países e levo material da Feira de São Joaquim”, diz.

A presidente do Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Filhos da Feira de São Joaquim e suplente administrativa do Sindicato dos Feirantes e Ambulantes de Salvador (Sindfeira)Avani de Almeida, também trouxe sua experiência sobre os aspectos culturais e econômicos de São Joaquim para o debate. Ela reforçou a necessidade de uma organização maior da feira enquanto instituição. “A gente enxerga a feira como uma comunidade. O que queremos hoje é tornar a feira uma instituição organizada, levar projetos, legalizar tudo isso”.

Com informações do Correio | Foto: Reprodução/Tracy Collins (Flickr)

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