Por Rodrigo Santana – Segunda, 15 de março de 2021
Há uma tendência no psiquismo humano em pretender encerrar os debates estabelecendo uma perspectiva de maneira hegemônica e tentando silenciar todas as indagações das demais perspectivas que são tão importantes quanto esta mais aceita por uma parcela bastante significativa da população. Isso explica por que só falta queremos ressuscitar Machado de Assis para ele responder se Capitu traiu ou não Bentinho, pois o talvez como resposta não agrada nem a gregos e muito menos a troianos.
Percebe-se também que o uso desse pronome indefinido (talvez) nas entrelinhas das teorias científicas para explicar questões relacionadas a criação do universo não agrada a membros da comunidade científica que sofrem influência monoteísta e aos lideres religiosos que tentam encerrar discussões em que a ciência não tem prova, preenchendo o limite das descobertas científicas com o conceito de “Deus das Lacunas” , ou seja, o que a ciência não responde, logo foi Deus quem fez ou querendo que impor o Criacionismo como a única teoria conhecida que poderia em princípio solucionar o mistério de nossa existência. Já passou da hora de compreendermos que o conceito do perspectivismo do filósofo Friedrich Nietzsche é o que há de mais enriquecedor no pensamento ocidental, pois nos permite ampliar a compreensão ao analisar todas as perspectivas sobre um determinado assunto sem se fechar em nenhuma delas.
Segundo o físico Marcelo Gleiser na palestra: “A Criação Imperfeita Cosmos, Vida e Código Oculto da Natureza”
“ A nossa percepção da realidade, baseada em instrumentos, é fundamentalmente limitada. A gente não conhece tudo sobre o mundo. Se a gente não conhece tudo sobre o mundo, a gente nunca vai poder ter certeza que qualquer construção que a gente faça, uma teoria de tudo, seja de fato uma teoria de tudo por que afinal de contas a gente nem sabe o que é que é tudo. Então a gente não conseguiria jamais testar esse tipo de teoria. Então, epistemologicamente, você falar de uma teoria que consegue resumir a totalidade do conhecimento material jamais pode ser testada”.
Ou seja o fato da ciência moderna ter conhecimento de quatro forças (gravidade, Eletromagnetismo, a Força Nuclear forte e a Força Nuclear Fraca) não significa dizer que não há mais nada que possa ser descoberto. Portanto, é fundamental que ela esteja aberta a novas teorias que podem ampliar a compreensão que nós temos do universo.
Rodrigo Santana Costa é escritor e professor. Publicou a obra: “Clarecer”.