Papéis secretos sobre passagem do destróier Defender são achados em ponto de ônibus, diz BBC

Mundo

Domingo, 27 de Junho de 2021

Documentos secretos do Ministério da Defesa contendo detalhes sobre o destróier HMS Defender da Marinha Real e o Exército britânico foram encontrados em um ponto de ônibus no condado de Kent, Reino Unido.

Um cidadão entrou em contato com a emissora BBC após encontrar 50 páginas de informações classificadas e perceber a delicadeza dos documentos. Segundo a mídia, que manteve o anonimato da fonte, há e-mails e apresentações em Power Point entre os papéis.

[A emissora] BBC publicou trechos de documentos confidenciais do Departamento de Defesa detalhando o HMS Defender e as Forças Armadas britânicas [e foram] encontrados em um ponto de ônibus em Kent

Um porta-voz do Ministério da Defesa britânico disse que um funcionário relatou a perda de documentos confidenciais, acrescentando: “Não seria apropriado comentar mais”.

Entre os documentos havia uma parte que discutia a provável reação russa à passagem do HMS Defender pelas águas ucranianas na costa da Crimeia na quarta-feira (23), enquanto outro trecho expunha os planos para uma possível presença militar britânica no Afeganistão após a operação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) liderada pelos EUA terminar, em 11 de setembro.

Destróier HMS Defender da Marinha Real do Reino Unido

© FOTO / OGL V1.0 / LA(PHOT) CHRIS MUMBY / MARINHA REAL DO REINO UNIDODestróier HMS Defender da Marinha Real do Reino Unido

Incidente no mar Negro

Os documentos relativos ao destróier HMS Defender mostram que a missão, descrita pelo Ministério da Defesa como uma “passagem inocente por águas territoriais ucranianas”, com as armas cobertas e o helicóptero do navio guardado em seu hangar, foi realizada com a expectativa de que a Rússia pudesse responder agressivamente, explica a BBC.

Na quarta-feira (23), o navio britânico atravessou a fronteira russa e entrou três quilômetros em águas russas no mar Negro. Na ocasião, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que um navio da Guarda Costeira russa disparou tiros de advertência, após repetidos avisos, e uma aeronave Su-24M realizou um “bombardeio de advertência” ao longo do percurso do navio do Reino Unido.

A missão, chamada “Op Ditroite”, foi objeto de discussões de alto nível até segunda-feira (21), mostram os documentos, com autoridades especulando sobre a reação da Rússia se o destróier navegasse perto da Crimeia.

Três possíveis respostas russas foram delineadas: de “seguro e profissional” a “nem seguro, nem profissional”. Além disso, foi considerada uma rota alternativa, que teria mantido o HMS Defender bem longe da fronteira russa. Isso teria evitado o confronto, segundo a apresentação que a emissora teve acesso, mas corria o risco de a Rússia apresentá-lo como prova de que “o Reino Unido estava com medo” ou “fugindo”.

“O Ministério da Defesa planeja com cuidado. Na verdade, isso inclui a análise de todos os fatores potenciais que afetam as decisões operacionais”, disse um porta-voz do Ministério da Defesa em um comunicado.

Os documentos descobertos em Kent confirmam que o percurso do destróier foi uma decisão calculada pelo governo britânico para dar uma demonstração de apoio à Ucrânia, apesar dos possíveis riscos envolvidos.

Após o incidente, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou que Moscou ficou indignada com o comportamento do lado britânico e antes de enviar o alerta com bombardeiros, alertou a tripulação do navio sobre as consequências de tais ações poderiam ser graves.

Além disso, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, qualificou o incidente como uma provocação.

Reino Unido no Afeganistão

Entre os documentos encontrados havia ainda alguns marcados como “apenas para olhos do serviço secreto britânico” que revela recomendações altamente sensíveis para a presença militar britânica no Afeganistão após o fim da operação da OTAN.

Militar norte-americano no Afeganistão, foto de arquivo

© AP PHOTO / MAYA ALLERUZZOMilitar norte-americano no Afeganistão, foto de arquivo

O documento contém um pedido dos EUA de assistência do Reino Unido em várias áreas específicas e analisa se alguma das forças especiais britânicas permaneceria no Afeganistão depois que a retirada dos EUA for concluída. A BBC afirma que, devido à delicadeza do documento, decidiu não divulgar detalhes que possam colocar em risco a segurança dos britânicos e de outros funcionários no Afeganistão.

Há ainda notas informativas da sessão de Diálogo de Defesa Reino Unido-EUA, que ocorreu em 21 de junho, incluindo comentários sobre os primeiros meses do presidente norte-americano Joe Biden no cargo. O foco inicial da administração Biden na China e no Indo-Pacífico mostra que “ainda há muita continuidade com o governo anterior”, indicam os documentos.

O Ministério da Defesa do Reino Unido iniciou uma investigação a esse respeito do vazamento dos documentos. Informações do site Sputniknews.

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