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Persistência do coronavírus pode estar ligada a jovens assintomáticos

saúde
  • Data 23.07.2020 – Autoria Charli Shield (as)

Enquanto novos surtos obrigam países a voltarem atrás no relaxamento, pesquisas indicam que aqueles que se consideram seguros podem, na verdade, estar contribuindo decisivamente para a disseminação do novo coronavírus.

Em todo o mundo o novo coronavírus está reaparecendo em locais que acreditavam tê-lo eliminado, muitas vezes em surtos envolvendo grupos reduzidos e localizados de pessoas contaminadas, em geral por um único infectado. Seja em Melbourne, na Austrália, seja em Leicester, no Reino Unido, ou ainda em Pequim, na China, o retorno levou autoridades a reforçar medidas contra o vírus depois de elas já terem sido relaxadas.

Em 18 de julho, 260 mil novos casos foram registrados em todo o mundo. Esse é o maior registro diário desde o início da pandemia. Desde então, o total diário global está em queda.

Mas, com muitas pesquisas indicando que pessoas assintomáticas podem estar desempenhando um papel importante na disseminação do vírus, especialistas estão alertando contra a displicência com a covid-19.

Uma das razões para o ressurgimento de casos do novo coronavírus pode ser o elevado número de pessoas que não sabem que estão infectadas. Na China, uma mulher que não apresentava sintomas, mas estava em quarentena depois de voltar dos Estados Unidos, acabou sendo responsável por 71 outras infecções depois de usar o elevador do seu prédio.

“Há muitos dados indicando que a transmissão antes dos sintomas aparecerem é muito comum, o que dificulta o controle do vírus”, comenta o professor de virologia Hitoshi Oshitani, da Escola de Medicina de Tohoku, no Japão.

Um estudo recente, do qual Oshitani participou, localizou, como origem de vários surtos, jovens que não se sentiam doentes. O estudo analisou mais de 3 mil casos no Japão e foi publicado no Emerging Infectious Diseases Journal, do Centro para o Controle e Prevenção de Enfermidades (CDC), nos EUA.

Os pesquisadores chegaram a 22 pessoas que possivelmente deram origem a surtos fora de hospitais. Metade delas tinha entre 20 e 30 anos. A pesquisadora de virologia Yuki Furuse, da Universidade de Kyoto, disse que essa descoberta foi especialmente surpreendente porque a maioria dos casos de coronavírus registrado no Japão, na época da pesquisa, era de pessoas com mais de 50 ou mais de 60 anos.

Ela diz que não está claro se fatores sociais, genéticos ou biológicos, ou uma combinação deles, são os responsáveis pela disseminação do vírus entre grupos de jovens ou de idosos.

Oshitani diz que uma hipótese é as pessoas mais jovens considerarem que o risco para elas seja menor e, por isso, se deslocarem mais. Isso significaria que elas têm mais chances de estar num ambiente de risco. Ou que elas apresentam uma evolução mais leve da doença e não se dão conta de que a estão espalhando, acrescenta Furuse.

A maior disseminação de testes revelou cada vez mais adultos jovens testando positivo para o novo coronavírus. Uma análise recente de dados em Seattle, nos EUA, mostrou que metade dos novos casos era de pessoas entre 20 e 39 anos. Cerca de 70% das pessoas que testou positivo nos EUA desde 30 de maio tinha menos de 60 anos, segundo dados do CDC.

Alguns especialistas em saúde pública argumentam que a rápida disseminação do novo coronavírus só pode ser explicada com a propagação feita por pessoas assintomáticas.

Apesar do debate sobre se de fato existem assintomáticos, ou se eles apenas são pré-sintomáticos, essa distinção é de pouco efeito prático, já que os riscos da transmissão sem sintomas são os mesmos nos dois casos.

Um dos primeiros casos de transmissão sem sintomas do novo coronavírus aconteceu no navio de cruzeiro Diamond Princess: um terço dos 712 infectados a bordo não apresentava sintomas.

Em maio, o diretor do CDC, Robert Redfield, disse que até 25% das pessoas infectadas podem não apresentar os sintomas da covid-19.

Estudos em Hong Kong e no Reino Unido estimam que pessoas assintomáticas podem ser responsáveis por metade da disseminação do vírus Sars-Cov-2.

Dados de surtos iniciais em Cingapura e na China mostram que pessoas que inicialmente não pareciam doentes contribuíram para 48% das transmissões em Cingapura e 62% em Tianjin, na China.

Ainda não está claro se pessoas sem sintomas são mais contagiosas ou menos contagiosas e o quanto elas contribuem para a disseminação do vírus, mas acredita-se que seja menos do que pessoas doentes. Mas não há consenso científico sobre se essa diferença é significativa e sobre como ela afeta a disseminação do coronavírus.

Medidas de higiene parecem ser muito eficazes contra o vírus. Em alguns países que reintroduziram o lockdown, como a Austrália, autoridades de saúde só recentemente aconselharam as pessoas a usarem máscara, sentindo-se ou não doentes.

Na Alemanha, ao contrário, as máscaras se tornaram obrigatórias já no fim de abril, e um estudo mostrou que usar máscaras em lojas, locais de trabalho e no transporte público reduziu a transmissão em 40%.

Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) inicialmente não levar a sério o papel da transmissão assintomática – um epidemiologista chegou a dizer que ela era muito rara –, a agência da ONU voltou atrás mais tarde e passou a recomendar o uso de máscaras em público em 5 de junho.

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