Pressionado, BC ainda deve manter taxa de juros no maior patamar dos últimos seis anos

Brasil economia

Analistas projetam estabilidade da Selic em 13,75% ao ano, mas preveem que próxima reunião resulte na primeira queda da taxa desde 2020; movimento deve ser sinalizado já nesta quarta-feira

Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) deve ignorar novamente as investidas do governo e do setor produtivo e optar nesta quarta-feira (21) pela sétima manutenção consecutiva da taxa básica de juros em 13,75% ao ano.

Iniciada em março de 2021, a escalada da taxa Selic até o maior patamar desde o fim de 2016 teve o objetivo de conter o avanço da inflação. No período, 12 altas seguidas resultaram na elevação dos juros básicos de 2% ao ano para 13,75% ao ano, nível atingido em agosto do ano passado e mantido até agora.

Depois da decisão, a ser anunciada após as 18h, todos os olhares estarão direcionados ao comunicado emitido pela autoridade monetária, que pode indicar uma leve queda dos juros no próximo encontro do Copom.

Caso confirmada, a redução da taxa Selic será a primeira anunciada desde agosto de 2020, quando a taxa passou de 2,25% ao ano para 2% ao ano. Após a primeira baixa, o mercado financeiro prevê que haverá novos recuos nos meses de setembro (0,25 p.p.), novembro (0,5 p.p.) e dezembro (0,5 p.p.), movimento que, se confirmado, levará os juros para 12,25% ao ano.

Ontem (20), no primeiro dia da reunião, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e os oito diretores da autoridade monetária realizaram apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas da economia e o comportamento do mercado financeiro. Agora, eles voltam a se encontrar na sede do BC para projetar as possibilidades e definir a nova Selic.

Pressão

A manutenção dos juros no maior nível dos últimos seis anos é alvo de críticas de toda a equipe econômica do governo federal e de membros do setor produtivo. Na semana passada, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que o Executivo tem feito seu papel.

A ministra garante que já existem condições para um corte da taxa básica no encontro marcado para o mês de agosto. “Estamos dando todos os elementos e condições para que o BC e o Copom possam começar a olhar com carinho, mostrar uma tendência de queda dos juros já a partir de agora, prevendo uma queda de juros em agosto”, disse, após reunião do Conselhão.

A fala de Tebet foi acompanhada pelos analistas do mercado financeiro. De acordo com o Relatório Focus, a expectativa é que o primeiro corte dos juros, de 0,25 ponto percentual, ocorra em agosto. Há uma semana, a aposta era que o corte ocorreria somente em setembro.

As novas perspectivas de queda levam em conta o recente arrefecimento da inflação, que subiu em ritmo menor nos últimos três meses, e o avanço no Congresso Nacional da tramitação das novas regras fiscais apresentadas pelo governo.

O presidente Lula afirma não existir explicação para a manutenção da taxa Selic no nível atual. “O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim, porque eu já sei por que ele não baixa, mas explicar ao povo brasileiro e ao Senado, que o elegeu, por que ele mantém essa taxa de juros de 13,75% num país que está com inflação anual de 5%”, esbravejou.

Taxa básica

A taxa Selic é a mais baixa da economia e funciona como piso para os demais juros cobrados no mercado. Ela é usada nos empréstimos entre bancos e nas aplicações que as instituições financeiras fazem em títulos públicos federais.

Em linhas gerais, a Selic é a taxa que os bancos pagam para pegar dinheiro no mercado e repassá-lo a empresas ou consumidores em forma de empréstimos ou financiamentos. Por esse motivo, os juros que os bancos cobram em contratos de crédito são sempre superiores à Selic.

A taxa básica também é o principal instrumento do BC para manter a inflação sob controle, perto da meta estabelecida pelo governo. Isso acontece porque os juros mais altos encarecem o crédito, reduzem a disposição para consumir e estimulam alternativas de investimento.

Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo.

Fonte: R7