Projeto investiga acesso à saúde em comunidades quilombolas

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Um estudo da Fiocruz Pernambuco em andamento no município de Custódia, no Sertão do estado, busca compreender de que forma as comunidades quilombolas têm acessado políticas públicas e enfrentado situações de vulnerabilidade social. Intitulado Acesso à saúde e formas de enfrentamento das vulnerabilidades sociais: a percepção das comunidades quilombolas no município de Custódia-PE, o projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e conta com a parceria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), além da participação de bolsistas e discentes vinculados ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic/Fiocruz).

O município de Custódia abriga 12 comunidades quilombolas, das quais oito já participaram da primeira etapa da pesquisa. Até este momento, foram realizadas entrevistas gerais sobre identidade e história quilombola, além de conversas específicas sobre acesso à saúde e segurança alimentar. A equipe também tem coletado dados censitários e informações de fontes públicas, além de promover atividades de leitura de paisagem e rodas de conversa, em que os próprios quilombolas atuam como protagonistas.

De acordo com a coordenadora do projeto, a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Tereza Lyra, a proposta busca responder a um desafio histórico. “A gente vive numa sociedade muito desigual e populações historicamente vulnerabilizadas, como as populações quilombolas, merecem toda a atenção. O estudo também procura trabalhar com metodologias participativas. Então, parte do trabalho, por exemplo, que foi a leitura de paisagem e as rodas de conversa, teve a participação ativa da população, tanto de pessoas quilombolas como de professores de redes estaduais e municipais, trabalhando diretamente nessas atividades. Metodologicamente é um projeto inovador, voltado para uma população com a qual eu acho que a sociedade tem uma dívida histórica”, afirmou.

Entre as participantes da pesquisa está Josenilda Ramos, professora do ensino fundamental e coordenadora pedagógica na área quilombola do Sítio Cavalo, comunidade rural de Custódia. Nascida e criada no local, ela conta que sua família mantém até hoje as terras herdadas do avô, o que reforça seus laços com o território e a identidade quilombola. “Mesmo morando atualmente na comunidade de Lagoinha, continuo muito ligada ao Sítio Cavalo, e participar desse projeto foi um privilégio enorme”, declarou.

Para Josenilda, a experiência foi também uma oportunidade de revisitar espaços carregados de memória e ancestralidade. “Nós fomos a lugares marcantes, como a antiga escola onde meu esposo estudou, hoje desativada, e antigos engenhos onde provavelmente viveram pessoas escravizadas. Foi muito emocionante. E o mais bonito é saber que todo esse registro vai ser reconhecido, talvez até em nível mundial, mostrando a riqueza da nossa cultura”, destacou.

Os dados coletados estão em fase de análise e incluem a elaboração de mapas produzidos a partir de técnicas de georreferenciamento. A próxima etapa prevê entrevistas com gestores municipais e estaduais, fundamentais para compreender como as políticas públicas têm sido implementadas na região.

Ainda este ano, em dezembro, será realizado um seminário de discussão dos dados intermediários, com foco nas atividades de leitura de paisagem e rodas de conversa. O encerramento do projeto contará com um seminário ampliado de devolutiva, no qual os resultados finais serão compartilhados com as comunidades participantes e demais atores envolvidos.

Com Informações da Agência Fiocruz

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