Que padrão sou eu? 

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Por Priscila Figueredo – Quarta, 2 de março de 2022

Será que você também me achou fora do padrão nessa foto? Julgou: “barriga  saliente, hein, fia! Pra quê isso? Para que tá feio!”

A escolha foi intencional e para falar dos padrões de beleza que aprisionam e matam mulheres. 

O registro acima foi numa tarde de sábado ensolarada, numa reunião descontraída e muito divertida com colegas de trabalho, num sítio de uma de nossas colegas. O sol, o azul da piscina, a paisagem tudo rendia um lindo registro, fiz várias poses, mas quando verifiquei as fotos achei que a silhueta  tava grande e o maiô não me favoreceu. Coloquei todo peso de uma tarde linda, da sensação maravilhosa e refrescante de um banho de piscina num click que não me iguala às musas referências do mundo da moda, das influencers e dançarinas com corpos magros e definidos. 

Nos últimos dias,  assistimos estarrecidos e lamentamos a morte de um ícone do forró eletrônico, Paulinha Abelha. A causa mortis ainda é  uma incerteza para a equipe médica, mas tem-se a suspeita de insuficiência renal causada devido ao consumo frequente de chás e remédios emagrecedores. Paulinha marcou uma geração, uma mulher linda, admirada por sua voz e também por seu corpo bem definido, exalava sensualidade. Precisava vender sua imagem, continuar com o corpo em forma, a fim de atender às demandas dessa sociedade adoecida, que nega às mulheres o direito de envelhecer de forma saudável e sem comparações. 

Dessa forma, nós mulheres seguimos almejando corpos perfeitos, mesmo que às custas de sofrimentos e privações, nos esquecemos de que o nosso corpo foi feito para sentir. Quantas vezes em nome da beleza, nos privamos de molhar o cabelo, de borrar a maquiagem ou de ir a algum lugar porque não estávamos com as unhas pintadas ou a sobrancelha feita? Coisas pequenas que são impostas às meninas-mulheres como requisitos para serem felizes. Tanto tempo desperdiçado em busca do padrão que é alimentado negando a existência de mulheres reais, bem como de sua invisibilidade nas mídias. 

Quantas mulheres mais morrerão na busca de uma perfeição que não existe? Afinal, como disse Augusto Cury, no livro Prisioneiros da Mente: “a beleza não pode ser vendida, comparada ou comprada, que a beleza é um patrimônio único de cada ser humano.” p.305

É urgente que possamos treinar nossos olhares para enxergarmos beleza nas diversidades corporais.

Priscila Figueredo Soares é professora da rede pública estadual da Bahia e autora da página @estesiapoetica.

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